segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Prosas que o Mundo dá XXIV


Ele ainda é...

Ele era um homem de poucos amores e de muitas ideias. De tanto perder-se em livros e músicas, encontrou-se nas palavras. Passara a vida de preto, vislumbrando no lado escuro de uma vida possível a sua necessidade de se encontrar... Ele era como o lobo da estepe, que solitário e errante compõe suas história em ciclos e tem na lealdade um sopro de segurança... Um homem cujos pés poderiam descrever em profunda confusão cada passo desferido na fina camada superficial da estrada percorrida. Nos olhos ternos um algo incompreensível, como um enígma ou como o rosto vidrado da esfinge e seu olhar estático... O sangue quente pulsando nas veias com um requinte de uma musicalidade quase nórdica, visceral, clássica, ferindo a alma do ouvinte... E a capacidade de nem poder separar suas ilusões de suas realidades. Nele havia uma apaixonante possibilidade de fazer sonhar, derramando-se da essência que envolve o mundo que dele se admira. Apaixonara tanto e tanto o mundo e dele se apaixonara que, por vezes, apagar todas as luzes para flertar com a tristeza e conscientizar-se da solidão não aparente fez-se em sua natureza. Um homem incisivo em suas políticas pouco politiqueiras, mas de dócil aparência, capaz de morder apenas para defender o seu território... Como o lobo da estepe... Nem sempre só, mas quase sempre solitário... Capaz de reduzir minhas tempestades internas tornando-as em calmarias e dizer "te amo" sem jamais ter tocado o objeto desse amor. Uma história regada à insônia, muitos abandonos, alguns laços de eternidade, intensas passagens e grandes feitos... Quis ser um "Dom Quixote", mas os moinhos de vento onde estarão? Onde estará toda a sua história? Com que cor escreverá as linhas de sua vida? Quanto serão os amigos? Se é que eles serão... Quais os verdadeiros amores? De que sensação vestirá sua pele para permanecer tanto tempo comigo, mesmo a milhares de espaços e distâncias daqui? Ele era um homem que me trazia desejos vestidos de sonhos e eu me pergunto por quantas vezes as mesmas palavras e os mesmos sentimentos de que falava alcançaram seu coração...E eu pergunto, então, como poderia alcançar o espaço protegido em que o seu sentimento permanece guardado? O homem fala de vidas que sucedem vidas, fala que já fomos "nós", fala em querer e em paixões... E eu que não acredito em quase nada mais e eu que não sei quase nada disso, já nem sei como agir, mas sinto... Quantas vezes não terá amado e vivido com mesma intensidade? Quantas vezes não terá julgado encontrar o amor na dificuldade de alcançá-lo? Quantas vezes o alvo atingido não desmotivou o objetivo da seta e deturbou a sua estrada? Não posso mais brincar de ferir minha alma... Os espinhos revigoram as chagas e ainda não há nas feridas que se abriram há muito, a segurança da cicatrização...Ele era um homem feito de tempestade, feito de calmaria, de um pedaço de mim, de um olhar e muitas palavras... Intenso e sentimental...Passeios no parque, janelas, estantes e livros... 

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Era uma vez, um homem e suas músicas, cores de cortina, suspiros e ideias... Um homem e seu passado, seus abandonos, sua respiração pesada e seus anéis de fumaça... Haviam muitas buzinas naquela cidade. Muitos carros, muitos sonhos, muitos zumbis e paredes para limitar o mundo daquele homem... e ideias e mais ideias para atirá-lo ao mundo todo ou ao seu próprio querer...

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Era uma vez... Enígmas, amores, filhos, livros, tempestades, folhas ao vento, arco-íris sem cor, lábios, olhos, solos de blues, músicas de acalanto, distâncias, espaços, saudades, aviões... Redes sociais e pedaços perdidos de mim que preciso ter de volta...

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Era uma vez e ainda é... Um homem que no espaço de um segundo conquista o mundo, mas ainda está perdido no vazio que esconde dentro de si mesmo...
Um mago, um cavaleiro negro, um conquistador, um silêncio e um sorriso que enternecem até o mais frio dos seres...
Se vier que venha livre... Pois aprendi a deixar livres as coisas que amo... Se ali permanecerem, permanecem porque fui dígno de tal amor...

6 comentários:

  1. O Lobo da Estepe, o melhor livro dessa minha breve vida. O homem enquanto contradição, paradoxo, em eterno conflito consigo mesmo. E em constante mudança.

    Ao mesmo tempo que é absoluto de si, está perdido nos misteriosos - e, por vezes, tortuosos - caminhos da vida. Parabéns, ótimo texto!

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  2. Tenho encontrado muitos paradoxos semelhantes em meu caminho... homens feitos de sua própria contradição... intrigantes e, por isso mesmo, o movimento que desperta a minha curiosidade...

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  3. Já fui tocada em noites de sonho por um desses cavaleiros e guerreiros da noite e que posso dizer:a minha alma constantemente volta a este painel feito de tempestades e calmarias...Sons e silencios...luz e sombra...Lendo seu texto, voltei para ele outra vez..Lindo seu texto!!!

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  4. Pooo gostei, tenho um "Q" desse homem também...bjooos, parabéns, adorei o texto

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  5. Fico feliz em ver que de alguma forma identifiquei um mundo em um único homem...

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