Ninguém é o que é... Pelo simples fato de que a consciência de si consiste em aceitar a própria ignorância... Quem escolhe não escolher já está fazendo sua escolha, quem escolhe não habitar, já escolheu sua casa... Se é amor aquilo que dizem os homens sentir, por que se afastam? Ninguém se alimenta de saudade... A saudade é o que sobra, passado... O futuro é o que falta e nem sempre virá ou voltará a ser o que sempre foi ou a ser o que nunca foi... Temos pressa, o tempo é curto, a urgência é grande, o desejo, a saudade, os sentidos, as ausências, os medos, as frases feitas para convencer o ouvinte... Temos dores, mas não temos nada... Da porta pra dentro as reticências contorcem suas faces enquanto uma música qualquer embala a dança... Mas, a máscara da alegria sorri perigosamente enquanto o moço vai embora antes da noite chegar ao fim... Faz frio, faz calor, faz urgência, faz amor, faz tempo... Muito tempo... Um tempo maior do que a eficácia dos relógios digitais consegue registrar... A resposta pra pergunta que me fez é outra pergunta: Até onde está disposto a ir comigo? Até o lado de fora do portão de casa? Ou até debaixo dos cobertores que aquecem minhas noites? Você sabe o significado das duas coisas. Mas, o que você não sabe é que eu te quero da porta pra dentro e não do portão pra fora... Ver você acordar e não ver você partir antes do sono chegar... O que você não sabe é que eu finjo que não me importo, muitas vezes por me importar demais... O que você não sabe é que tem coisas que eu não sei falar, não sei admitir, não sei assumir, o que você não sabe é que eu gosto de você... Que eu me importo com o que faz, com quem está, com o que diz, com o que pensa e é por isso que quase sempre sei por onde andas... O que você não sabe é que eu não sei admitir que me incomoda quando sei que esteve com outra pessoa... O que você não sabe é que admitir isso é admitir que eu me importo e que fazer isso é quebrar paradigmas há muito construidos... O que você não sabe é que quando brincas em meu chamar de tua, sem querer fazes o que eu gostaria que fizestes a sério... Não sabe que eu confiaria em você para ser meu... Nem que eu amaria o teu futebol, os teus dias de dança, as tuas piadas, os teus amigos, as tuas tardes de dormir, as tuas mãos geladas, os teus cálculos, tuas torcidas e tuas apostas... Não sabe que enquanto contava os encontros eu torcia para que chegasse à minha soma porque você viria com ela... Nem o quanto é bom perder apostas pra você... Mas, você sabe... Sabe que me deve uma dança, que amo os cabelos desgrenhados e a expressão de sono em seu rosto... E deve saber que uma hora dessas eu penso em apagar tudo isso e escrever sobre coisas tolas e abstratas que você não possa entender... Também deve saber que já me sinto tola por escrever, mas que me sentiria ainda mais tola se falasse... Não te amo... Seria tolo dizer algo assim, não seria verdadeiro... Porém, te quero muito mais perto... Da porta pra dentro... Com a soma completa dos encontros... Com uniforme, cálculo, estresse ou músculo distendido, mãos geladas e tudo o que já tiver vivido, acertado, errado ou aprendido... Sem pressão, sem cobrança... Dê-me um sorriso, mas não ria de mim... Só sei ser sincera assim, escrevendo... Se te falasse tudo isso, não conseguiria articular palavras e me perderia no meio do que tenho a dizer... Que não é quase nada, mas que é a resposta pra pergunta que me fez e um pedido, continue contando...
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