domingo, 20 de janeiro de 2013

Quem foi que disse que é preciso contentar-se com metades? Quem foi que disse que se ainda não deu certo é porque nunca vai dar? Quem foi que disse que a cruz é sempre proporcional à força de quem a carregar? Quem foi que disse que eu preciso me contentar com o que ainda não me satisfaz? Que eu tenho que me privar dos meus sonhos, porque a realidade ainda não satisfez minhas expectativas? Meu Deus! Diz quem foi que disse que as tuas palavras não ferem? Diz quem foi que disse que quando alguém procura por você é porque não tem segurança em si mesmo? Diz quem foi que disse que sinceridade tem que ser doce? Por duas ou três madrugadas, ele aparece. Mas, por quê? Minha cabeça confusa anseia por inteiros e ele oferece pequenos pedaços. Eles, que nem metades me parecem, são surpreendentes por não serem esperados, mas, e depois? Se nunca me contentaram metades, por que me satisfariam pequenos pedaços? Cadê o abraço? Cadê a palavra? Cadê o sorriso? Cadê a conversa que eu sempre comecei? Não começarei mais nada. Não porque não queira, mas porque ainda preciso aprender o silêncio. Porque não há corpo que se contente com o que não aquece também sua alma. Porque não há lágrima que seque sem o carinho de um aconchego. E às vezes, travesseiros são muito mais eficientes. É complicado estar só. Quem está sozinho que o diga. Às vezes é difícil aquecer sozinho o próprio coração. Às vezes é difícil estar em meio à multidão e não perceber ninguém. Às vezes é difícil não ter porto em que ancorar seu barco e nem portão a acolher sua chegada. Às vezes é difícil, não ter cama ou cobertor pra lhe aquecer. Não ter mãos para lhe guiar e nem braços pra lhe proteger. Às vezes é difícil sentir-se criança e perdida em meio a um mundo que exige força e que não quer acolher ninguém. Às vezes é difícil olhar as roupas e os perfumes, as maquiagens e os livros, as poesias e os descompassos e não ter ninguém para esperar com tudo isso. É difícil voltar de viagem sem ter ninguém para lhe abraçar, saudoso, na chegada. Às vezes é difícil conviver sem gostar, gostar e fazer durar, querer e não se decepcionar. E, sobretudo, é difícil ser perfeito. Porque se somos perfeitos, não somos nós. Às vezes é difícil entender que entre a sinceridade ácida e a doçura de uma pseudo-mentira, você ainda prefira o sabor menos inquietante. É trágico, é triste, é quase inércia isso que, às vezes, me dá. De ter tanto amor e não poder amar. De ter tantas palavras e não poder falar. De ter tanto tempo e nada em que o empregar. De ter tantos sonhos e não ter com quem sonhar. De já não ser mais tão criança, mas não conseguir me amparar. De sempre cair tentando caminhar, levantar trôpego e continuar a esperar que algum olhar amigo e alguma palavra acolhedora, transcenda as paredes espessas deste edifício isolado em que me escondo. Porque todo o cimento foi substituído por medo e os muros tornam-se cada vez mais altos, mesmo sem que nenhum pedreiro empregue neles seus serviços. E esses muros são fruto de outros tempos e destes tempos também. Tempos em que parecia que o mundo seria aquilo que a gente fizesse dele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário