quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Três Pontos Negros V

 

Paredes Brancas

Em sala de aula, todos falam com tanta segurança de Freud que são quase convincentes. Ninguém sabe de quase nada ou os discursos não se fariam tão necessários. Poucos sabem usar de "um pouco de silêncio, um copo de água pura"... Poucos entendem porque eu falo da "força do silêncio"... Ninguém sabe de mim. Cordas e entrelinhas, livros empilhados na estante, a garganta ressecada, e-mails que despedaçam esperanças e multiplicam preocupações... Caindo na trivialidade de falar do convés do coração liberto, a dor de uma impressão que ninguém dimensiona. O pé da letra não me pertence. Leiam mais uma , duas, três vezes... Esta Gestalt é minha... Só eu vi, só eu assisti, sou eu sei dela... Tenho a sensação de que sonhei... Que foi abdução... Que era um salvador construído em discurso ensaiado, voltando na montaria de um fóssil qualquer. Tenho a impressão de que o fóssil não era aquele que alguém assistia em uma novela qualquer de uma estrutura televisiva dominante. Tenho a impressão de que você já leu sobre esse salvador, o fóssil, o Freud e os que deveriam primar por um pouco de silêncio e um copo de água pura. A certeza nunca foi meu norte. Mas, sei que o que norteia a sensação que tenho agora de paredes brancas e homens frustrados, garotos que falam em dinheiro e outros que duvidam da hipnose, é a mesma letra de música que você também já consumiu. É fácil gostar do que a gente consegue entender. Não me leve a mal. Eu nunca esvrevo o que você tem a impressão de ter lido na primeira vez em que o fez. Nunca é o que você enxerga à primeira vista. O que eu escrevo e que a primeira vista parece ser qualquer coisa que você quer que esteja é a minha palavra, o meu texto, a sensação ao escrevê-lo... São eles que te lêem e não você que o faz... Sua primeira impressão de minhas palavras, nada mais é do que uma projeção do que você sente, pensa, vive. E é sempre assim. As chaves tilintam no fundo da sala de aula. A obrigação das palavras já foi cumprida. As roupas azuis e acinzentadas cobrem a pele pálida, onde mãos não possuem mais molduras negras. Eu ouso falar de evolução, de adequação de mentes alheias. Ouso falar do que não sei e questionar outros tantos que também não devem sabê-lo. Linhas estampasm o quadro, correm displicentes por tantas páginas educacionais que eu agora maculo com estas palavras. Um mago distante faria a tarde com a palavra desrespeito, enquanto eu só falava de querer o bem de alguém... Eu deveria argumentar, mas o porvir de um dia leve que chegará sem pressa e apaziguará a alma inquieta virá... Farfalham passos do lado de fora... Dou-me conta que as paredes brancas não existem mais... A vegetação balança ao sabor de um vento que traz as cinzas de um vulcão distantes. É a denúncia de que o planeta tenta reagir para manter o seu equilíbrio. É um sinal de que de alguma forma a vida segue o seu curso e que os estranhos caminhos que ela tece também têm a sua beleza, mesmo que não haja aqui olhos para enxergá-las... Não ainda... Farfalham passos do lado de fora das paredes brancas... É hora de partir, retornar ao lar...


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