quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Existia um Amor. Duas pessoas existiam. E agora? #3

 
Sina Nossa

_Quer um cigarro?
Gabe e eu estávamos, como de costume, andando sem rumo e com as mesmas roupas de sempre pelas ruas de Paris. Depois de um tempo nessa mesma rotina, você acaba se esquecendo de que tem uma casa.
_Não, obrigada. – Recusei a oferta sem pensar duas vezes. – Não gosto.
_Mas você fuma... – ele olhou para mim com aqueles olhos castanho-escuros que eu tanto amava.
_Por isso mesmo. Eu quero parar, dar um desconto para os meus pulmões, dar uma chance para a minha vida.
Sentamo-nos em lugar nenhum de uma rua quase desconhecida. Não sabíamos o bairro, tampouco o nome, só gostávamos daquele lugar sujo e silencioso que tinha cheiro de água e vento.
_Às vezes você me assusta com esses pensamentos que eu nunca entendo. Quer dizer que você fuma por que não gosta dos cigarros?
_Exatamente isso.
_Então por que você o faz?
_Curiosidade. Vontade de me provar, de mostrar que posso sem problema algum fazer algo que não gosto. – levantei os ombros, como quem não sabia explicar uma ideia. Normalmente nem eu sabia a razão de algumas das minhas escolhas, nunca sabia discernir se eram boas ou ruins e, sinceramente, não fazia diferença alguma.
Gabe deu uma última tragada em seu cigarro antes de jogá-lo no chão e pisar sobre ele. Fiquei olhando a fumaça rodeando nossas cabeças enquanto pensava muito sobre o nada.
_Quer saber, me passa um cigarro aí. – Pedi antes de ele guardar o maço no bolso da camisa xadrez.
_Mas você não disse que ia parar?
_Você me disse um dia que sou uma mentirosa, você mesmo. – respondi olhando para o fim da rua.
_Você não é necessariamente tudo o que eu digo Lilly. – me passou um cigarro e pegou outro para si.
_Tenho certeza disso. – peguei meu isqueiro de prata do bolso e levei-o à ponta.
_Você ainda tem esse isqueiro? – disse pegando-o das minhas mãos, com os olhos brilhando. Passou a segurá-lo levemente.
_Eu sempre guardo essas coisas que você me dá. – tornei e dei uma tragada no cigarro.
_Espero que não. Já te dei coisas demais.
_Dói em você, né? – disse triste enquanto olhava a fumaça sair da minha boca, livre como eu fora um dia.
_Tudo que te envolve dói em mim.
_Sinto muito.
_Eu não.
E ficamos naquela rua já tão gastada e conhecida. Fumando uns cigarros e tragando nossas presenças. Em silêncio, no silêncio. Só ali, com a cabeça de Gabe apoiada na parede mofada e a minha em seu peito, os corpos jogado no chão sujo. Poluindo mais um ao outro, estragando mais ainda com nossos pulmões e com o mundo. Ficamos. E em silêncio.

"Para a melhor companhia de todos os dias".

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                                                                                          Leia mais: Antes que o tempo acabe

7 comentários:

  1. Senhorita de palavras densas, de palavras e sentimentos humanos. Desde a primeira postagem mudei a minha opinião a respeito de abrir o blog a outras participações. Parabéns, Ana pelo texto! Parabéns, Darla, pela iniciativa! ( Rosa Maria Mendes )

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  2. Às vezes demoro a entrar, mas sempre que o faço não me arrependo. Muito bom texto, Ana Clara.

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  3. Aninha, minha pequena!!! Que texto maravinhoso o seu *-* Acho que foi um dos melhores postados, isso se não foi o melhor...

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  4. Ótimo texto. Continue assim, Ana. E não pare de escrever.

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  5. oownt *_____* Mas que liindo Aninha!Meu preferido de todos os seus... Melhor companhia das minhas manhãs s2*
    (JordanaF.)

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