sábado, 25 de maio de 2013

Vez em quando é preciso ar...
Armar o próximo número...
O próximo encantar...
Desencantar do impossível
e com o impossível novamente se encantar...

Vez em quando é preciso água...
Aguar com amor o terreno infértil do coração...
Reescrever uma canção...
Rimar poesia com saudade...
Rimar impossibilidade com ilusão...

Vez em quando é preciso acreditar...
Dar crédito ao que não é confiável...
Deletar o indeletável...
Reescrever o inevitável...
Vez em quando é preciso fazer do amor hábito saudável...

É do pó e da poesia que a gente nasce...
É pela rima da poesia que a gente cresce...
É pela edição da poesia que a gente amadurece...
É pela conclusão da poesia que a gente envelhece...

É pela espera do inesperado que a gente
Espera de quem não tem, novas sementes...
É pela ausência que a gente sente saudade...
É por ter amor... Amor de verdade...

Como se a própria palavra, verdade já não transparecesse...
Como se o próprio amor, amor já não declarasse...
Como se a própria ausência, saudade já não admitisse...
Como se a própria promessa, promessa já não o fosse...

Espero o tempo de te ver passar pelo meu portão...
Emoldurar seu rosto em minha janela lilás...
Repousar sua face pálida sobre o meu peito...
E adormecer ouvindo as batidas do meu coração...

domingo, 20 de janeiro de 2013

Quem foi que disse que é preciso contentar-se com metades? Quem foi que disse que se ainda não deu certo é porque nunca vai dar? Quem foi que disse que a cruz é sempre proporcional à força de quem a carregar? Quem foi que disse que eu preciso me contentar com o que ainda não me satisfaz? Que eu tenho que me privar dos meus sonhos, porque a realidade ainda não satisfez minhas expectativas? Meu Deus! Diz quem foi que disse que as tuas palavras não ferem? Diz quem foi que disse que quando alguém procura por você é porque não tem segurança em si mesmo? Diz quem foi que disse que sinceridade tem que ser doce? Por duas ou três madrugadas, ele aparece. Mas, por quê? Minha cabeça confusa anseia por inteiros e ele oferece pequenos pedaços. Eles, que nem metades me parecem, são surpreendentes por não serem esperados, mas, e depois? Se nunca me contentaram metades, por que me satisfariam pequenos pedaços? Cadê o abraço? Cadê a palavra? Cadê o sorriso? Cadê a conversa que eu sempre comecei? Não começarei mais nada. Não porque não queira, mas porque ainda preciso aprender o silêncio. Porque não há corpo que se contente com o que não aquece também sua alma. Porque não há lágrima que seque sem o carinho de um aconchego. E às vezes, travesseiros são muito mais eficientes. É complicado estar só. Quem está sozinho que o diga. Às vezes é difícil aquecer sozinho o próprio coração. Às vezes é difícil estar em meio à multidão e não perceber ninguém. Às vezes é difícil não ter porto em que ancorar seu barco e nem portão a acolher sua chegada. Às vezes é difícil, não ter cama ou cobertor pra lhe aquecer. Não ter mãos para lhe guiar e nem braços pra lhe proteger. Às vezes é difícil sentir-se criança e perdida em meio a um mundo que exige força e que não quer acolher ninguém. Às vezes é difícil olhar as roupas e os perfumes, as maquiagens e os livros, as poesias e os descompassos e não ter ninguém para esperar com tudo isso. É difícil voltar de viagem sem ter ninguém para lhe abraçar, saudoso, na chegada. Às vezes é difícil conviver sem gostar, gostar e fazer durar, querer e não se decepcionar. E, sobretudo, é difícil ser perfeito. Porque se somos perfeitos, não somos nós. Às vezes é difícil entender que entre a sinceridade ácida e a doçura de uma pseudo-mentira, você ainda prefira o sabor menos inquietante. É trágico, é triste, é quase inércia isso que, às vezes, me dá. De ter tanto amor e não poder amar. De ter tantas palavras e não poder falar. De ter tanto tempo e nada em que o empregar. De ter tantos sonhos e não ter com quem sonhar. De já não ser mais tão criança, mas não conseguir me amparar. De sempre cair tentando caminhar, levantar trôpego e continuar a esperar que algum olhar amigo e alguma palavra acolhedora, transcenda as paredes espessas deste edifício isolado em que me escondo. Porque todo o cimento foi substituído por medo e os muros tornam-se cada vez mais altos, mesmo sem que nenhum pedreiro empregue neles seus serviços. E esses muros são fruto de outros tempos e destes tempos também. Tempos em que parecia que o mundo seria aquilo que a gente fizesse dele.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

É o que não é...

Ninguém é o que é... Pelo simples fato de que a consciência de si consiste em aceitar a própria ignorância... Quem escolhe não escolher já está fazendo sua escolha, quem escolhe não habitar, já escolheu sua casa... Se é amor aquilo que dizem os homens sentir, por que se afastam? Ninguém se alimenta de saudade... A saudade é o que sobra, passado... O futuro é o que falta e nem sempre virá ou voltará a ser o que sempre foi ou a ser o que nunca foi... Temos pressa, o tempo é curto, a urgência é grande, o desejo, a saudade, os sentidos, as ausências, os medos, as frases feitas para convencer o ouvinte... Temos dores, mas não temos nada... Da porta pra dentro as reticências contorcem suas faces enquanto uma música qualquer embala a dança... Mas, a máscara da alegria sorri perigosamente enquanto o moço vai embora antes da noite chegar ao fim... Faz frio, faz calor, faz urgência, faz amor, faz tempo... Muito tempo... Um tempo maior do que a eficácia dos relógios digitais consegue registrar... A resposta pra pergunta que me fez é outra pergunta: Até onde está disposto a ir comigo? Até o lado de fora do portão de casa? Ou até debaixo dos cobertores que aquecem minhas noites? Você sabe o significado das duas coisas. Mas, o que você não sabe é que eu te quero da porta pra dentro e não do portão pra fora... Ver você acordar e não ver você partir antes do sono chegar... O que você não sabe é que eu finjo que não me importo, muitas vezes por me importar demais... O que você não sabe é que tem coisas que eu não sei falar, não sei admitir, não sei assumir, o que você não sabe é que eu gosto de você... Que eu me importo com o que faz, com quem está, com o que diz, com o que pensa e é por isso que quase sempre sei por onde andas... O que você não sabe é que eu não sei admitir que me incomoda quando sei que esteve com outra pessoa... O que você não sabe é que admitir isso é admitir que eu me importo e que fazer isso é quebrar paradigmas há muito construidos... O que você não sabe é que quando brincas em meu chamar de tua, sem querer fazes o que eu gostaria que fizestes a sério... Não sabe que eu confiaria em você para ser meu... Nem que eu amaria o teu futebol, os teus dias de dança, as tuas piadas, os teus amigos, as tuas tardes de dormir, as tuas mãos geladas, os teus cálculos, tuas torcidas e tuas apostas... Não sabe que enquanto contava os encontros eu torcia para que chegasse à minha soma porque você viria com ela... Nem o quanto é bom perder apostas pra você... Mas, você sabe... Sabe que me deve uma dança, que amo os cabelos desgrenhados e a expressão de sono em seu rosto... E deve saber que uma hora dessas eu penso em apagar tudo isso e escrever sobre coisas tolas e abstratas que você não possa entender... Também deve saber que já me sinto tola por escrever, mas que me sentiria ainda mais tola se falasse... Não te amo... Seria tolo dizer algo assim, não seria verdadeiro... Porém, te quero muito mais perto... Da porta pra dentro... Com a soma completa dos encontros... Com uniforme, cálculo, estresse ou músculo distendido, mãos geladas e tudo o que já tiver vivido, acertado, errado ou aprendido... Sem pressão, sem cobrança... Dê-me um sorriso, mas não ria de mim... Só sei ser sincera assim, escrevendo... Se te falasse tudo isso, não conseguiria articular palavras e me perderia no meio do que tenho a dizer... Que não é quase nada, mas que é a resposta pra pergunta que me fez e um pedido, continue contando...

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sobre o que devemos nos permitir.

Atesto, sem maiores ressalvas, que amor em caminho inverso, ao invés de amor inverso, pode ser amor real... Amarguras lapidam seres cansados que encontram-se em corpos e almas magoadas, machucadas, desacreditadas... Pouco esperam um do outro, mas com que confiança o fazem. As noites vão tomando natureza de inverno, mesmo não tendo o outono fugido de suas mãos. Há dias em que a chuva ligeira e gelada dá o ar de sua graça, enquanto as respirações multiplicam o vapor para dentro dos corpos, das almas e dos espelhos em que o medo se reflete. Parece que é tarde, mas é sempre cedo. O tempo escorre apressado quando os abraços aquecem a pele e confortam a alma disfarçadamente camuflados de diversão. Não sabem ambos... Não sabe ele, mal sabe ela. O amor em caminho inverso é o mais perigoso. Nenhum dos dois ama até ter perdido. Nenhum dos dois perde até acostumar-se a não dar valor. Nenhum dos dois quer usar palavras que interrompam ciclos de movimento e iniciem ciclos de sentimento. Nenhum dos dois percebe. Os dias seguem sua conveniência. Eles falam sobre qualquer tolice, assuntos densos, piadas, promessas caladas, carícias verbais. Encontram-se diariamente mesmo não tocando com a ponta dos dedos a face do outro. Não percebem que quando começam a ter sonhos é porque algo já não está como estava antes. Eles não comem juntos, não ocupam sofás, não vão ao cinema, não tem amigos em comum, não dançam juntos. Eles apenas fogem quando todos dormem, abraçam seus corpos com urgência, conversam com certa cautela e fazem perguntas com medo de ser invasivos. Eles se parecem mais do que conseguem admitir... Têm mais medo de amar do que conseguem esconder um do outro. Eles estão brincando de amar ao contrário, enquanto o outono não os faz amar lentamente, adormecer um ao lado do outro, contar piadas e comer batatas fritas, assistir filmes cujo final passará sem que o conheçam... O começo foi um engano ao contrário. Um aceitou o outro pela nomenclatura, muito mais do que pela segurança. As primeiras palavras foram a porta aberta. Ambos sentiam uma necessidade. Seja ela qual for ainda não conseguiram catalogá-la. Eles se perdem e se encontram todos os dias. Palavras não podem sanar tudo aquilo que eles precisam para ser melhores. Ainda sentem falta do aconchego da tarde de domingo e corpos em posição fetal adormecidos, um a proteger o outro enquanto a chuva fina cai. Eles estão aprendendo a pisar nos caminhos que levarão um ao outro. Demorarão para admitir que podem estar se entregando sem perceber. Mas, ao fim dos dias se seguindo e das palavras se acolhendo e dos corpos se abraçando, perceberão... Amor que começa ao contrário, não termina... Renova as palavras, as frases, os dias, as necessidades... Dá a mão ao que é novo e tem segurança... Mesmo quando é veloz tende a trazer tranquilidade e quando passa das portas pra dentro e enxerga as paredes brancas tatuadas pela história de cada um , aprende a decifrar as paixões mais secretas, a aliviar as dores mais agudas e a desprezar os minutos de ausência.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Maio...

Vivo em um tempo que não é meu. Confundem-me as rosas, embora não me conforte o amor. Tenho vontades, carências, saudades, mas não tenho nada, porque o mundo não é meu. Nem meu ego, nem meu egoísmo te compensam. Tenho vontades, tenho saudades, egoísmos de tanto ter. Somos fronteiras que se romperam, estrelas que se perderam... Somos sem nunca ter sido... Flor de laranjeira, folha ao vento, pele macia... Sertão em flor, certeza e dor em uma mesma canção. Fazemos cálculos nem tão exatos de economias domésticas que esbarram em doenças incuráveis sem intenção. Dor, sensação, certeza, saudade... Se essa palavra se repete por mais um verso da poesia sem rima em que descrevo esta confusão, ninguém entende. Se são palavras, se são gestos ou se não é nada disso, como haveremos de perceber, estamos nos perdendo tentando encontrar algo em que valha a pena acreditar. Ninguém sabe do que falamos, do que falei ou do que falávamos. Estão todos cegos e a fila leva ao desfiladeiro. As pedras pontiagudas receberão os menos despertos. De quem é culpa? De quem é a cura? Quem alcança os pontos mais altos da montanha gelada em que se escondem as vidas? Sempre é maio, quando faz outono. Ninguém pára pra reparar que algumas flores desabrocham, mesmo não sendo primavera. Ninguém se esforça pra compreender os sorrisos indiferentes às manhãs de frio sucedidas por tardes de intenso calor nos países tropicais. A bem da verdade, muito bem me faria trocar todo este calor destas tardes por noites frias. Fazia lua há dias, cheia e tão grande quanto jamais se verá nesse ano... Quem percebeu o que acontecia? Quem perceberia se não fizessem tanta propaganda? Sou fruto de um tratado coletivo. Convenção. Quem não é? Compra-se? Vende-se? Troca-se? Propaga-se o que é vazio... Quem compra? Quem vende? Quem imita? Quem é mesmo o dono de quem? Era isto que a canção questionava? Nem sei mais. Ninguém sabe. As verdades vão se transformando. Ontém, hoje, amanhã... Verdades, meias verdades e, então, assustadoras mentiras... A verdade: um ponto de vista... O outono e algumas constatações... Tardes de intensos ruídos e coração silencioso a confrontar as palavras nervosas de uma mente que não pára.

domingo, 22 de abril de 2012

 

As folhas secas cedem espaço...
Tece-se o abraço...
Abraça-se a vida pela porta de casa...
Abrem-se as asas, fecham-se as janelas...
Canelas e pimentas temperando a meia-luz...
Corpos nus tocados pela água fria...
Alegria transfigurada em cansaço...
Descompasso de céu tão baixo...
Eu relaxo meus medos...
Encaixo teus dedos nos meus...
Procuro em qualquer deus uma explicação...
Para o brilho das estrelas...
Que tão próximas me parecem...
Pela saudade das palavras hoje ausentes...
Quanto tempo faz?
Nem um dia? Onde estais? Sinto saudades...
Sinto vontades de abraço...
Abraço que nos prometemos...
Promessas que fizemos...
Pra quando o frio chegasse e ele veio...
Descortinando a noite sem arreio...
A cavalgar enormes gotas de chuva fria...
Chuva arredia a esfriar o coração...
Dá-me a canção...
O abraço, a tua mão...
Dá-me um sorriso? Uma palavra doce?
Ou só o silêncio do que quer que eu fosse
para a luz dos olhos que nunca tocaram os meus...
Vem ver a vista daqui de cima...
Vem... 
Dá pra ir mais além do que se vê...
Dá pra ver melhor com você...
Com a paz que exala a tua palavra...
Vem?
O silêncio é um inimigo que machuca...
O Silêncio me escuta...
Ele te chama em vão...
Vem fazer a canção
que falta para o abraço...
encurtar o espaço... 
pulsar um coração no compasso do outro...
Vem ser amigo, ser irmão...
ser presente por um dia, uma tarde, um aperto de mão...
Vem, coração?

sábado, 7 de abril de 2012

Pelo nosso bem...

Pelo nosso bem te deixo ir. Pelo nosso bem, recolho os últimos vestígios deixados pela tua presença e sigo em frente. Pelo nosso bem, troco todas as canções melancólicas por um par de danças insanas... Pelo nosso bem, decido o melhor que há por vir e o pior que se foi... Neblinas da manhã cobrem a caixa de guardados e por detrás das telas mágicas de outrora não restam mais seus retratos congelados, cibernéticos e tão mentirosos quanto tuas palavras calculadas e calculáveis... Premeditadas agonias transformam-se em passo de dança... Aguarda-se um abraço acolhedor que mora do outro lado da rua... Um abraço daqueles sem outras intenções, apenas por acolher um bom amigo. Simples... Tão simples que parece irreal não tê-lo visto antes. Mas, eis que cada coisa tem seu tempo e o tempo de mendigar palavras já não existe. A minha tolerância é uma faca de dois gumes e guarda que, para o nosso bem, não mais a usarei para tentar entender você... Deslealdade tua para com outros não poderei julgar ou mesmo questionar, porque já não quero fazê-lo. Só e simplesmente tenho sonhado com outros tempos, de cara limpa e pés no chão, em horas ocupadas de um trabalho que se ramifica e se multiplica pelos meus dias. Isso talvez, me dê o direito de já não sonhar você. Sonho com meninos que já não são tão meninos, com sonhos que já parecem mais reais, com páginas históricas de um diário qualquer... Eu sonho com abraços. Nem tenho tempo, nem me obrigo a ele se for para perceber luzes verdes que te identifiquem. Sigo só. Simplesmente isso. Como sempre foi e como sempre será. Apenas um copo, um livro, um violão... Nada além... E isso não importa mais tanto quando importava. A solidão é simples. Não há regras, nem é preciso ocultar identidade e opiniões. Basta que estejamos ali. A solidão é uma caixa de vidro nos protegendo de todo o contato que machuca. A solidão é a própria liberdade, embora pareça prisão. Vemos tudo que nos cerca, todas as pessoas, todas as circunstâncias e nada, por certo, pode nos ferir como feriria se fizéssemos parte daquilo. Parece triste estar ou ser assim, parece triste não querer mudar, mas há em cada dor um mistério e um aprendizado dos quais eu não abro mão. Sem pressa, mas acelerada, eu sigo... Não peço desculpas, tão pouco perdão, porque sei que fiz o que eu podia, mas não foi suficiente. Nunca pedirei desculpas novamente, se não fui eu que menti, se não fui eu que enganei, se não fui eu que trai a confiança de alguém que me era próximo... Mas, eis que um dia de uma forma ou de outra a verdade cuspirá seus resquícios na porta do teu apartamento em meio a alguma trilha dark ou um blues depressivo qualquer, porque não é possível que os enganos durem uma vida... Não estarei aqui, já não estou há tempos. Há mais de meio ano eu me fui... Sobrou a casca... Desejo-te vida... A que não tens... Desejo-te paz... A que não queres... Desejo-te amor... O que não és capaz de sentir... Desejo-te distante... Se não podes ser amigo e tuas farpas são o que restou... Desejo-te em dobro tudo o que me desejaste. O mundo devolve o que lançamos a ele... E não entenda isso como agressão, por não ser nada além de um desabafo, o que substituiste pela ausência... Terás, enfim, o que sempre procuraste: o meu silêncio e a minha invisibilidade.