sábado, 21 de maio de 2011

Prosas que o Mundo dá XII



Talvez... O que resta seja...


Um olhar... Pesando sobre outros olhos e sobre os meus dias... Mesmo distante, pelo menos em distância calculável... Agora, a proximidade e a distância de alguns centímetros e por momentos nem eles... A proximidade dos lábios, das faces, dos olhares, das mentes, das palavras... Ele as profere e sorri com facilidade, escondendo um mundo por trás de tudo isso... Pelo menos por hoje... O momento é tênue em que seu olhar cruza o meu e enxergo além das aparências... O momento é tênue em que ele olha os olhos meus  e é por eles olhado, todavia vale por uma vida esse encontro pelo que posso ver através do que não transparece... A moldura de cílios que torna o olhar angelical, não disfarça e nem dissimula o que está além dele... A sonolência que escorrega por entre a dissimulação comprova que não estão lá sua mente e seu coração... Mas onde estarão? O olhar parece buscar algo além do horizonte que ele mesmo alcança, entretanto, o que buscará? Caminham ao seu redor homens e mulheres, desenrolam-se conversas, ouve-se músicas, todavia é fascinante perceber que ele está muito além disso tudo... Como em uma dimensão paralela... Como que a observar o inobservável... Como a buscar além do horizonte que seus olhos alcançam, o que pode estar a um passo dele, mas já se cansou de procurar tão perto e esbarrar com o vazio... Fala muito de coisas e pouco de pessoas: dádiva dos não ignorantes... A pele pálida sugere um interessante pano de fundo para o brilho dos olhos profundos... Olhar que despe de roupas e de máscaras e de todos os disfarces pelos quais me transmuto... Temo que enxergue mais do que se demonstra... Temo que interprete-me mal em qualquer sentido... Leva as mãos a boca, rói as unhas, espera... Faz observações acerca do que ouve... Alterna as bebidas, foge de flashes, roça meu braço sem querer ou perceber... Ainda me dirá que talvez... Não haja nada além do que aparenta... Mas certo de que há, eu me ponho a observar mesmo quando não aparento estar... Mesmo quando meus sentidos parecem alterados... Mesmo quando aparento um vazio que já não tenho em mim... Mesmo quando ainda sinto esse vazio... Mesmo que eu afirme veementemente que nada mais me fascina ou surpreende ou mesmo instiga abro-lhe uma exceção, mesmo que ele não a queira ou que nem sequer possa percebê-la... Fascina-me a incoerência entre o mundo que o cerca e a forma como ele se comporta em revés deste mundo... Fascina-me a escrita e a profundidade que os olhos podem ter quando querem... ou mesmo quando não querem... De natureza aparentemente fechada, percebo pelas pequenas frestas que se abrem, de uma porta difícil de transpôr, pequenos atos, olhares, pensamentos, que deixam no ar uma necessidade de ver um pouco mais, de saber um pouco mais, de sentir um pouco mais, de crer que ainda há nele um pouco do que eu já julgava extinto... Em todos... Mas sei que não é todos e por isso não pode ser comparado... Lê bíblias e simpatiza com míticas figuras de jogos de iludir que lhe permitem ser o que quiser para além de uma realidade onde ainda parece estar... Apenas parece...Poderia parecer alguém simples de coração , poderia até parecer simples de mente, mas quem além de todo o comum não perceberia a quase impercebível atmosfera que o envolve... Como uma calmaria ou uma confusão, ou uma filosofia... Ou mesmo uma fulga...Mas não pára ele para pensar que coragem de viver fugindo pode ser medo de ficar... De encontrar-se em uma zona de conforto porque é essa consciência que o deixa incomodado ou inerte, ainda não sei...Tem medo de parar, ter sua zona de conforto e perdê-la, como todo ser humano, mas não admite nem pra si mesmo... Em cores neutras e apasteladas, veste sua roupa de menino equilibrado, jeans e all star e ouve as músicas, as palavras, os sons e consome o mundo ao seu redor e finge harmonia com ele... Quisera saber do que nem ele sabe sobre si mesmo... Quisera saber do que ele sabe sobre ele mesmo, mas não partilha nem com os melhores amigos ou irmãos... O objeto da minha curiosidade está além do que posso descrever porque falta-me em vocabulário palavras adequadas... Traduzo-o hoje para o mundo como "fascinação"..  Que exerce sobre meus sentidos e pensamentos... E sobre minha escrita, muitas vezs sem sentidos... Outras vezes com sentidos múltiplos... Como aqui está...

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