O Outro é um pouco de Nós
A normalidade nos precede. A normalidade agride o espírito humano. Confundida à monotonia, normalidade pintada na monocromia dos dias é a seta para um alvo desconhecido, ou o alvo de setas desconhecidas. A seta e o alvo no discurso de Nietzsche, na música de Paulinho Moska, ou na troca de ideias das redes sociais, ainda são alegorias atemporais do universo humano. João que amava Maria, que amava José, que não amava ninguém... Em ciclos, somos os animais sentimentais das canções de outrora. Estranhamente vazios, dotados de uma cruel indiferença, falando demais por não ter nadaa dizer... Sem perguntas, indagações, dúvidas, nós somos eternos TRÊS PONTOS NEGROS reticentes. Da porta para dentro, as quatro paredes de um universo solitário, em que telas mágicas mesclam-se a livros, canções, dores, violões, saudades e vazios. Da porta pra fora, as tantas cascas travestem-se em máscaras... São risos soltos, palavras leves, roupas coloridas, mas ainda o mesmo vazio... E de quem é a culpa? A gente cresce, faz de conta que amadurece, mas continua depositando a esperança em quimeras distantes, praticamente intangíveis. E, de vez em quando,a gente se atreve a pôr a mochila nas costas, atravessar o mundo e experimentar o sonho. Mas, vem a vida e puxa o tapete. E a queda, repetida tantas vezes, reabre todas as feridas não cicatrizadas. Toda vez que a ideia de fazer das quedas um passo de dança, salta das páginas de Fernando Sabino, eu me pergunto: será que é só isso? É só pra isso que a gente nasce, vive, morre? Pra cair e levantar, sentir-se vazio, às vezes, chorar, para buscar eternamente a própria identidade, viver inerte? Encontrar grandes amores e perder antes mesmo de saber se eram grandes, ou se eram realmente amores? Como é que a gente identifica o que sente? Como é que a gente sabe que não sente mais? Às vezes, por muitas vezes, sentimos mesmo um desejo galopante de fazer por alguém, o que ninguém nos faz... Às vezes nos esforçamos, nos preocupamos, imploramos, rastejamos por um espaço em que fazer a diferença. Mas, há sempre o OUTRO nesse contexto... O outro que também é um pouco do nosso próprio EGO-ismo... O outro que é um pouco do nosso amor... O outro que é um pouco do nosso vazio... Mesmo na dificuldade da harmonia com o outro, com o meio, com o mundo, o SER humano tenta... Às vezes, para amenizar suas antigas culpas e fazer de conta que os erros passados são corrigíveis... Às vezes, ele tenta, mas falta a ética que prega nas atitudes que toma... E tem outras formas de agir, menos convencionais também... Reagir de tudo ou fugir de tudo... A minha velha fala cai aqui como uma luva: "Coragem de fugir pode ser medo de ficar". Em marcha descompassada, eles somem sem deixar pegadas, por não acreditarem ser merecedores do presente, ou não acreditar em si mesmos... Pause o seu universo... Não dá pra resetar a vida... Pense melhor!!! Nem sempre a facilidade da fuga esconde o caminho certo. Ninguém resolve um problema quando o abandona no baú de achados, perdidos e memórias esquecidas... Há alguém em algum lugar, um ombro e um colo em que se aninhar, braços em que se confortar, ouvidos abertos para te escutar... Alguém em algum lugar há de sentir a fuga, há de esperar a sua volta, há de ter dores a anestesiar... Alguém em algum lugar há de enxergar em você uma parte de si... O reflexo de um espelho a sua frente talvez, retrate este alguém... Fotografias guardadas em baús alternativos, ou traços eternizados na ponta dos dedos que os tocaram...
Sempre há um lar que te espera, não o deixe passar pela vida, sem ter nele descansado seu mundo.
"Aquilo a que você resiste, persiste". (Carl Jung)
Tenha certeza que ele encontrou o porto que tanto proucurava...
ResponderExcluirTemo que nem todos tenham firmeza para fazer o mesmo... Embora eu não me refira a algo específico aqui...
ResponderExcluirTexto maravilhoso menina, em conteúdo e forma!
ResponderExcluirSempre grata, eterno professor... Há sempre um resquício de vida a nos inspirar em que cada pequeno universo que passa pelo nosso caminho.
ResponderExcluirExiste hoje remédio pra tudo. Não toleramos mais a dor. Então lhe pergunto como conseguiremos sentir prazer se não conhecemos realmente a dor? As pílulas estão a todo momento oferecendo alívio e burlando as nossas possibilidades de sentir na vida algum prazer. Ixi vazios de prazer e nos entupindo de sexo, drogas e o álcool.
ResponderExcluirSerá Prazer?
André
Sul da Gerais
As pessoas caminham vazias, senhor André... Da porta pra dentro choram escondidas e sofrem sem saber porque... Elas procuram novas muletas... Já acreditaram tanto em Deus e hoje dizem que ele não existe... As pessoas foram perdendo os motivos maiores pelos quais viver... Elas saem e da porta pra fora... Fingem que se importam e que algo vale a pena, mentem pra elas mesmas, mentem para o mundo. Estão sobrecarregadas de coisas a fazer, apenas para se sentirem mais úteis. Não tem tempo para si e nem para o Outro. Mas, quando estão literalmente sós, sabem que não é nada disso...O amor, o sentir, o querer, a dor foram banalizados. As pessoas sentem dores que não são necessariamente físicas... Sim, elas anestesiam... Eu não tenho que concordar com isso, apenas imaginar o quão triste deve ser pensar que a sua vida é tão vazia a ponto de não ter, nela mesma, um motivo pra proagir diante de si e do mundo é no mínimo, angustiante...
ResponderExcluirNão existe prazer em algo cujo oposto nunca tenhamos conhecido, mas anestesiar, sofrer, chorar, viver vazios, é parte de um processo que o homem ainda não domina e pelo qual ele não deve se culpar. O homem precisa olhar mais para dentro de si antes de entender o mundo... Não com egocentrismo, mas sem falsas vendas nos olhos... E precisa abraçar o outro com um pouco mais de verdade, não como ideologia religiosa, mas como parte de um respeito que ele deve a ele mesmo.
E, concluo: NÓS somos estas pessoas, nós somos estes homens a que me refiro... Somos quase o andarilho que Nietzsche descreveu há tanto tempo...
Grata pela leitura, pelo comentário e, sobretudo, pela reflexão, sempre necessária...
E o homem espera que muitos lhe digam que há algo em algum lugar, mas esquece de olhar para dentro de si... Caminhamos para longe de algo, sem saber que, na verdade é para o objeto da fuga que caminhamos...
ResponderExcluirSempre boas palavras, senhorita historiadora...
Abraços...
Prof. José Antônio