terça-feira, 13 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur VI


O Lar Nunca mais seria um Lar...

Arthur viu as paisagens passando diante de seus olhos e isso parecia lâmina afiada. O transporte coletivo o retornava ao que supostamente fora seu lar. Mas, o lar nunca mais seria um lar. Ele deixara Laura a retocar paredes, paredes do seu antigo abandono e sabia... Era na parede e na releitura do retrato que a moça esboçava... Era lá que ele queria estar agora... Havia números em tudo desde que o seu libertar passou pelo portão de embarque... Ninguém entende a alma machucada de Arthur, mas o anjo negro a quem ele permitiu retocar as paredes, sabia... Ele tinha olhos de aço... O anjo que era Laura, que pintava paredes e cantarolava baixinho... Arthur soube, desde que deixara a moça entrar, que havia algo nela... Quando as dores se amaram tornaram-se dependentes... Os dias que sempre foram chuvosos, perfizeram-se de diversos sóis... O mar abandonou o vento em dedos que entrelaçavam almas pelas calçadas... O céu azul despejou a cor e o espaço inexistente revelou o óbvio... Não haveria mais lar onde os olhos de aço e os lábios bem feitos não estivessem... Não haveria mais conforto onde a moça não compusesse a paisagem... Na ilha que não se curva, onde seus fantasmas se escondiam, Arthur reencontrou um muito de si. Soube que alguém poderia enxergá-lo para além dos olhos de aço, para além das palavras rudes e ouví-lo em entrelinhas... Ouvir a moça cantarolar no outro cômodo, mirar seu rosto em relance e buscar estrelas... Arthur ergueu os muros sem perceber que o fazia... Cedeu aos poucos... Implorou amor, calor, toque em olhos úmidos... Sentiu o mundo pesar, toda vez que a expectativa de abandono o tomava...E, de repente, ele quis desesperadamente trocar seu suposto lar, por outro... Quis pegar uma mala qualquer, colocar seus destroços dentro... O quarto que preparava, com partes do retrato, partes de lembrança, partes de magia... Era lá que ele queria estar... Escorando os pesos e transformando-os em vida... Até conhecer Laura e permitir que transformasse as paredes em seu verdadeiro lar... Tudo era vazio... Agora ele estava vivo, mas ferido por não poder esticar o braço a toda hora e alcançá-la... Tudo seria uma questão de tempo... Um tempo que ele encurtaria... Que ele encurtaria para não encurtar a própria vida, respirando sem saber o porquê... Se Saturno retornava... Eles seriam um par de crianças com dores e impressões e frustrações e supostos vazios... Haveriam pesos na estrada... Caminhos tortos, palavras ácidas, algumas dores, mas a leveza chegaria aos poucos como um presente... Um necessário presente que acalmasse a alma dos infantes que se sentiam adultos, mas tinham os corações atormentados por uma infância corrosiva...

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