terça-feira, 13 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur VII

 

Culpas e Desculpas...

O anjo caído quebrou a asa, quebrou a redoma de vidro, quebrou o silêncio... O anjo caído quebrou o coração do velho homem em mil pedaços... E ele tomou a culpa em seus ombros como se o peso do mundo fosse só dele. Laura e a indiferença se encontraram muito antes de ele perceber que isso acontecia... A mesma Laura que preparava o quarto de magia para a chegada de um Arthur renovado pelas malas e pelos portões de embarque, era também a que machucava o velho homem... Laura tinha o sangue frio e fervente de adolescência e mágoas de infância e abandono que a construíram. Um dia, ela fora amiga do velho homem e quase chegara a pensar nele como um pai. Um dia... Mas, "um dia" era uma visão distante demais para todas as dores vestidas de ausência que ela devolvia agora...Ela auto-flagelava seu corpo e sua vida, porque, de forma inconsciente, sabia que isso aprofundava feridas que o velho homem já tinha. Ele viu ela fugir entre seus dedos como areia fina, escorrer como água em gotas quase invisíveis. A culpa que o velho homem sentia era a desculpa de Laura para alimentar moinhos de vento... E eles vinham sempre avassaladores. Ela aprendeu a fingir que não se importava... Laura afastou o Cavaleiro Negro sem perceber que ao dilascerar seu coração ela feria a si mesma... De repente ela se viu pintando a parede do quarto de alguém, cujo mundo parecia-se tanto com o seu que chegava a doer. Ela encontrou o lar dentro das paredes em cujo exterior chovia o tempo todo. Mas, os sóis se faziam agora, parecendo provocativos... O velho voltara para a casa na véspera e os olhos carregavam dores, decepções com quintais, pressentimentos... O velho homem voltara trazendo na mala algo que ela desconhecia nele: tristeza... Dói como lâmina afiada rasgando a pele, a tristeza daqueles olhos... Mas, ela agora pensa em seus jardins mal feitos e nas janelas empoeiradas. Ela feriu o próprio universo para poder machucá-lo mais e conseguiu... Sem perceber que fazia por esse motivo... Sem perceber que o culpava, mas sabendo que ele se sentia culpado... Ela desferiu golpes de espada disfarçados de atitudes inconsequentes, matando aos poucos o espírito heróico do velho homem, disfarçado de Cavaleiro Negro.

Mesmo sabendo que não há noite que nunca termine... Enquanto o sol se levanta pra dentro das paredes dos quintais de Laura, onde o velho homem agora se esconde, ainda existe sombra na parte interna do ser sofrido e pensante que agora espera reler o mundo ou que o mundo o leia...

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