quarta-feira, 1 de junho de 2011

Prosas que o Mundo dá XVIII


Três noites...

Três conversas e eu, hoje, retorno a ele para permanecer em mim... Retorno ao menino... Ao homem... Àquele que tem discurso conciso e resume em poucas palavras o que eu despejo em páginas... Retorno para lhe falar da sua mania evasiva de sorrisos, de reticências e de "não sei" e "talvez"... Respostas evasivas que ele desenrola por medo, desinteresse ou, apenas, desconhecimento... Perguntas que não quer responder porque as julga mais interessantes, enquanto questionamentos, e menos fascinantes, enquanto respostas. Da primeira conversa apenas a observação da minha teórica "natureza" e a constatação de que essas evasões podem torná-lo chato... Isso logicamente pela visão dele... Pois, se me fala o bom censo, gritam-me outros sentidos, nesse caso específico... Da primeira conversa uma promessa com tom de piada... A de responder o que pergunto ou pelo menos em partes fazê-lo... Sempre julgo a minha quase presença como algo que não está a altura de suas necessidades... Quaisquer que sejam... Falo demais mesmo que me falte a segurança das palavras e ele se despede... A segunda conversa provém do trabalho que se estende e de não chegar a tempo para o jogo de segunda-feira... Gira em torno de editais, sociologia, dias frios, da sua estatura, de uma bateria ainda intacta, de telefones perdidos e e-mails achados... Trivialidades... Mas entre elas desfaz o engano que julgo existir nas impressões que tenho, retenho e descrevo... Concorda que falo bastante, mas diz que interessa o que desenrolo em palavras ... Não sei... Quisera assim o fosse... Temo, no entanto, que nada passe de gentileza... E ontém... Ontém ele foi mistério... Verdade filosófica... Transmutou-se em algo que tenho sede de desvendar... Em pergunta que preciso responder... Ontém ele era o que durante muito tempo eu fui... Com suas escritas recentes e guardadas... Suas confissões veladas ou, apenas, constatações... Ontém dizia não saber de nada e nem esconder nada, julgando-se ou esclarecendo-se apenas como a casca apresentada... Dizia... Não sei se posso crer... Ontém recriminou-me a música ouvida repetidas vezes ou apenas notou o que se passava... Ontém riu quando lhe disse que também já ouvi por repetidas vezes a sua música... Atrevo-me a perguntar o porquê das respostas evasivas que quase sempre escorregam por seus dedos e seus lábios e ele respondendo com outra pergunta questiona-me: "por que não fazê-lo?"... E se sobre ele apenas ele mesmo saberá é o que digo... Retruca dizendo que isto não é certo, porque nem mesmo ele sabe sobre si e, talvez... Seja só o que se pode ver e tocar e nada além... O que resta, então... Julga sobre si mesmo que perguntas são mais interessantes que suas respostas... Se dá boa noite deixa pra trás um rastro de dúvidas e a dificuldade de entender e sentir para além de uma tela de computador e de um olhar estático que se apresenta em seu perfil... Cedo ou tarde todo contato humano deixa de ser humano por estas telas e estes fios e estes teclados de palavras escolhidas, medidas, copiadas... Cedo ou tarde o vizinho do outro lado do muro torna-se um amigo virtual de quem nem vemos o rosto... Cedo ou tarde sinto saudades das madrugadas frias vividas em pares... Madrugadas que nunca foram bitoladas pelas quatro paredes de um quarto, pelas quatro paredes de uma vida, pelo sedentarismo de uma alienação proporcionada pela tecnologia ou pela forma como dela nos valemos... Cedo ou tarde eu insisto no mesmo objeto, pois que já não consigo dele distanciar os pensamentos... E se sonho com coisas tão reais enquanto durmo... Acordo com uma realidade quase que mirabolante, com nuances de sonho e de pesadelo... Cedo ou tarde sinto precisar perder-me para encontrar a mistura fascinante que deve instigar os meus dias a serem melhores, mais enfáticos, intensos, construtores...

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