quinta-feira, 26 de maio de 2011

Prosas que o Mundo dá XVI

 
 

Pela manhã...

Há alguns minutos sentei-me na varanda com uma xícara de chá e eis que um suposto milagre se deu. Um beija-flor de voar lento por locomoção, de movimento rápido pelo bater das asas apresentou-se aos meus olhos. Divisei então, um mundo que há muito não me atrevo a olhar. Lamentavelmente o grito de acordar que recebi em plenas dez horas da manhã ainda era uma repetição de minhas afirmações diárias: piso salarial para os professores, desrespeito do governo e coisas mais... O carro de som anuncia mais um protesto e convoca pais e alunos a participar: tosca esperança. Olhando agora para o beija-flor posso meditar sobre o número de coisas que são inexplicáveis a primeira vista e que podem cercar nossos dias sem que nos apercebamos... Pelas frestas de sol que sobrepujam as sombras das árvores, um grilo desavisado e solitário saltita até o piso próximo de mim... Suas seis patas descoordenadas tentam em vão dar a ele um firme rumo e uma segurança, um equilíbrio... Distraído não se dá conta das formigas que se aproximam... Unidas elas irão paralisá-lo com suas picadas e transformá-lo em ração para o formigueiro... Diante dessa cena de canibalismo animal alguém se compadecerá do pobre grilo... Mas, perdoem-me, senhores, se tudo o que me fascina nessa história é a organização e a união das formigas... E, acreditem. eu realmente não sou fã do nem tão falado ou famoso canibalismo, em qualquer natureza que possa se apresentar e nem mesmo tenho admiração intensa por formigas... Contudo, vêm das formigas a lição de fortalecimento que deveria "designorantizar" as populações humanas em suas grotescas tentativas de viver e "sobreviver" em seus mundos. "Organização + União = Poder para o povo". Quando antes de ontém um amigo me apresentou Eduardo Marinho e ouvi a tradução de meus pensamentos com a afirmação "o povo brasileiro não é ignorante, é ignorantizado", pensei em comparações que seriam possíveis a este povo e nada me veio à mente. Hoje, enquanto escuto os pássaros a cantarolar para além do muro e lembro do beija-flor, do grilo e do chá... Sei que gostaria de comparar o povo brasileiro às formigas... O beija-flor é uma obra-prima cujo autor não reconheço ( porque não me atrevo a crer em um deus), o grilo solitário ( é a figura grotesca em que hoje me transmuto), o chá é feito de cravo e tem sabor adocicado... As formigas ainda estão ali fora, enquanto escrevo vivificando sua receita de sobrevivência... Os pássaros já se acalmaram... O s professores ainda imploram valorização... Na estrada uma ou duas motocicletas... Talvez... Agora eu deva almoçar ou talvez... Recolher-me ao quarto escuro em que me escondo e esquecer tudo isso...

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