segunda-feira, 30 de maio de 2011

Partes de Mim I


Vinte e oito anos...  

... o meu melhor amigo de infância morreu... Não como quem é atropelado ou como quem infarta... Estas mortes são proporcionadas por atitudes adversas e não necessariamente diretas e meu melhor amigo de infância escolheu morrer... Um fio, a depressão dos dias sem a filha, a intolerância paterna à homossexualidade, coisas... Canso de dizer que a pior solidão é aquela que se sente em meio aos outros, entretanto, devo ter me enganado... Escolheu a morte e nela mergulhou, mesmo sem ter aprendido a nadar, a prender o ar... Arriscou... Se lágrimas me escorrem dos olhos agora, não é porque eu ache isso unicamente triste... Estou cansada... Meu choro descompassado confunde-se ao ódio que sinto do mundo por transformar a morte de alguém que já foi minha base em uma notícia policial, em uma promoção política, em uma notícia de óbito, em uma notícia... Triste é ver o suicídio de alguém, cuja vida marcou a sua, transformar-se em um boato de ônibus na boca de comadres... Sinto ódio de tudo e de todos... Sinto ódio de mim mesma... Como podemos ser tão falhos? Deixar certos vínculos essenciais adormecerem com o tempo? Como podemos ser tão tolos? Por que temos de ser tão humanos? O último abraço não foi dado... O agradecimento não foi ouvido... O sentimento nunca foi demonstrado... E, hoje, agora... Fico pensando no que faz alguém ter de sair de sua casa em meio às noites para desabafar no túmulo da falecida mãe a desgraça da sua vida... O que faz as pessoas tão distraídas a ponto de não perceber o que as outras sentem? O que nos faz tão tolos? O que nos faz tão humanos? O que nos faz tão vazios? 

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