quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Amor em Pares: Sobre Laura e Arthur XX

 

 Era o fim?

Fazia flores silvestres no jardim que Arthur jamais plantara, quando Laura apontou na extremidade do portão de madeira desgastada pelo tempo. Ela já não tinha mais as mesmas roupas negras de antes, nem o mesmo brilho no olhar, nem o rosto emoldurado por cabelos negros... Aproximaram-se os dois, lentamente, e tocaram as pontas dos dedos um do outro, entrelaçaram os dedos e, por fim, sem nada dizer, apenas andaram de braços dados até a cozinha. Arthur preparou café, sentou-se na frente de Laura e um fio de água salgada escorria do canto esquerdo daquele olhar de que ele tanto sentira falta. Ela desamarrou lentamente o lenço acinzentado que trazia na cabeça... E, então, ele soluçou baixinho durante o tênue instante em que constatou que ela já não tinha a moldura negra para contornar o rosto. As lágrimas tímidas transformaram-se em oceanos de sinceridade e Arthur prostrou-se aos pés de Laura e deitou a cabeça em seu colo. Lá fora pássaros ousavam cantar um pouco mais alto, finos raios rompiam a cortina e viravam pequenas sombras disformes que balançavam ao sabor do vento preguiçoso do fim de tarde. Ele sabia que ela não tinha partido... Ele sempre sentira a presença quase irmã a lhe reprimir com olhares, a lhe encantar com sonhos sem nexo... Ela fora a coragem nos dias da nova espera... Ela era naquele momento uma espera que findava e um coração que soluçava o improvável desemaranhar das entrelinhas... Ela era a força vestida de sensibilidade, quadro que perdera a moldura negra da palidez do rosto, mas ainda fazia manhãs com cheiro de lar para Arthur... Nada era pra sempre... Nada fora perfeito... Eles estiveram felizes por muitas vezes, mas não foram felizes para sempre, apenas viveram irmãos dos mesmos vazios engavetados e das mesmas flores abandonadas às ervas daninhas, em vasos quebrados detrás das portas que davam para a varanda. Ela a um passo da eternidade, ele a um passo da saudade... Estrelas e pés de serra, oceanos e quimeras... Era tarde quando ela chegou... Era cedo para ir embora... De faces estranhas fez-se o amor... De dores estranhas abriu-se Pandora... Chegava a finada hora de abrir os olhos, vir à tona do mergulho, aprender a escolher cortinas que nunca enfeitariam janelas comuns às duas vidas... Entender que os velhos instantes são rascunhos do que está por vir... No momento de deixar os braços envolverem outros braços e encurtarem espaços que os oprimiam com laços invisíveis souberam que eram quase irmãos, embora jamais tivessem sido amantes... Em trovas de um instante qualquer a vida tecia novos laços de fita. O velho e grande homem jazia em qualquer porto, a espera na janela era uma vaga lembrança... Mas aquela velha frase nunca me sai da cabeça:

"As dores se amaram à primeira vista".


Aos poucos amigos que fazem a grande diferença.

Siga também: @NoiteDeOutroDia

Nenhum comentário:

Postar um comentário