sábado, 3 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur I


A Escolha era uma Prisão

Laura tinha raios na ponta dos dedos... Toda vez que tocava um objeto, ele parecia melhor aos olhos do grande homem distante... No rosto de ano dois diamantes cravejavam quase simetricamente com transparência e brilho, a pele delicada... Não havia nada de adolescente na vida da menina, embora ela ainda o fosse... Os retratos que formavam o seu espírito retorcido eram feitos dos restos que ela recolheu... De cada migalha atirada a menina construiu um castelo! Mas os castelos eram de areia e toda vez que a maré da vida mudava, ela precisava procurar novas medalhas a recolher. Teimosa, ela não gostava de escrever a lápis.Gostava da agressão da tinta desvirginando o papel e burlando as linhas. Acima de tudo, ela gostava das marcas que a caneta deixada transfiguradas no papel, mesmo quando em vão, um corretivo tentava escondê-las. As marcas que a caneta deixava nas folhas brancas, toda vez que sangrava ao papel., pareciam-se às marcas profundas dos golpes desferidos em seu coração. Laura sempre soube que havia sol do outro lado da janela lilás, mesmo assim guardava frio e sombras no interior do seu interior. Ela amaria amar alguém de verdade, mas não acreditava em verdades e nem em amores. Ela sempre quis abraçar o grande homem e sentir-se confortável , como quem retorna à casa paterna depois de uma grande viagem. Laura sempre foi grande demais para o espaço que ele oferecia, tinha braços curtos demais e eles não conseguiam abraçar o mundo dele. Laura tinha dois nomes, muitas facez e imensuráveis sonhos, mas sua vida adolescente não cabia na história dos adultos e de seus mundos cartesianos. Ninguém conseguia entender que uma aparente felicidade familiar nem sempre podia ser real. Ah... Se Laura pudesse ou tivesse a possibilidade de gritar tudo o que sentia, muitos ouvidos prefeririam-se ensurdecer-se a ouví-la. E ela se perdeu em histórias em quadrinhos e em jogos de iludir. A menina Laura escolheu não escolher, porque qualquer escolha era uma prisão e qualquer meio termo era uma omissão. Os pais eram a bipolaridade do seu mundo como sistemas econômicos opostos eram os dois lados na Guerra Fria. A mãe: O coração presente... O pai: a mente distante... A menina de dois nomes nunca parou para pensar ou sentir, no homem em que ela enxergava a mente, um enorme sentimento que escondia por detrás do olhar quente de calmaria... . è que a gente às vezes sente ao contrário... Às vezes se esconde dentro do espelho, às vezes no escuro, às vezes constrói intransponíveis muros... Laura nunca percebeu que os retalhos que a faziam ser quem era, haviam sido retirados do grande homem... Não havia tempo suficiente para reconhecer no peito largo do abraço e na voz firme ao telefone, os rasgos que denunciavam a ineficiência das emendas... De cada ferida aberta, em cada fratura exposta, um feixe de luz atingia a imensidão do dia... E a luz era negra... Como a cortina que fazia pano de fundo em todas as paisagens que Laura visitava... Ninguém sabe o quanto o grande homem amava a pequena Laura e nem de quantos retalhos emendavam-se os corações... Porque os olhares entre eles sempre foram muito mais eficazes que palavras e com o tempo elas foram se tornando desnecesárias, porque não havia mais o espaço entre eles...

8 comentários:

  1. Uauuu! Belo texto! Pontue um pouco mais.

    Andrey do Amaral
    @andreydoamaral
    www.mercadoeditorial.com.br

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  2. Imagens...imagens...sombras e luzes...Cada frase sendo aquela que eu gostaria de ter criado num momento de puro êxtase e beleza ou de extrema tristeza e com a alma sangrando seria eu a menina do texto...Lindo!!!Lindo!!!

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  3. Andrey sua opinião é muito importante... Conselho será seguido... Sani muito provavelmente nós todas tenhamos um pouco dessa menina que é apenas uma, mesmo guardando em seu ser um universo...

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  4. Quanto calor de alma, sente-se ao ler.
    Qual sopro de paixão velada,
    Oculta e exposta nos detalhes anunciados.
    Regalo de corações viventes,
    Acalento de paixões pulsantes.
    Porto seguro,
    em peito de suave pouso...

    (parabéns pelas lindas linhas)

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  5. Olá!
    Retribuindo a visita ao Borboletras.
    Obrigada pelo lindo poema.
    Abraço!
    Suzana

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  6. Grata pela sensibilidade de poeta com que me lês...

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  7. fui retribuir uma visita e me deparei com um belo texto...parabéns e obrigado!

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  8. Sinto-me muito feliz com as surpresas positivas César... Portas abertas para boas vibrações sempre...

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