quinta-feira, 6 de outubro de 2011

De Outros Tempos XXVI


Prisioneiro Meu

Prendeste-me num alçapão
Como ave descuidada
Fiquei presa à escravidão
E, então, minha morada
De grades é feita dourada
Dando-me, talvez, tudo
A tristeza há de ficar
Pois que aqui há tempos mudo
Já não ouso sequer cantar
Outros homens não te falam
A dor que meus olhos exalam
Se não podes entender...
Ah! Se os pássaros falassem
Talvez estes escutassem
Outra vida a lhes dizer:
"Não preciso de alpiste
Nem as grades eu procuro
Alegre, um dia me viste,
Hoje só tenho um canto escuro...
Tenho saudades da selva em que nasci
E da floresta e seus verdores
Do perfume de mil flores...
Nunca precisei de ti!
Para que esta gaiola?
A riqueza não consola
Tudo aquilo que perdi
...
Quero o ninho construído
Pelas folhas escondido
E as árvores amigas
Sombra ao brilho deste sol
E se a prisão me obrigas
Vou cantar noutro arrebol
Noutro cair de tarde...
Relançarei tristes cantigas
Por tua mão, homem covarde
Perdi divina imensidão na saudade
Não roubes a liberdade...
Meu direito de voar...

Escrito em 09/05/2000

2 comentários:

  1. E já menina... Que graciosas palavras... Ótima poesia... (Rosa Maria Mendes)

    ResponderExcluir
  2. Eu parecia, menina, mas já não era há muito... Hemingway, James Joyce, Cruz e Sousa, Lima Barreto... Todos eles chegaram cedo demais para mim... Obrigada pela leitura.

    ResponderExcluir