segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Força do Silêncio XIV


Parem o mundo que eu quero descer?!?!?

Todos alinhados e tão lineares que não dá pra pensar que o universo do quintal alheio não é mesmo cartesiano. Os homens e mulheres empilhados no transporte coletivo poderiam ser facilmente comparados a meias organizadas em uma gaveta ou a palitos de fósforo distribuídos em suas embalagens. O alinhamento, a quadrática, o universo é cartesiano e limita. Há toda uma constância na dinâmica do transporte coletivo e toda uma dinâmica no processo da existência. SER humano tem tomado, cada vez mais, este formato regado a caminhos traçados. Com ingenuidade o homem que se julga SER humano tem sido massacrado pela própria coexistência que identifica o mundo. Houve um tempo em que o fator humano agia sobre o processo de cimentar territórios e ideologias... Mas, de tanto fazer parte dele e alterar a sua estrutura de funcionamento, o próprio homem tornou-se o elemento do conjunto “MUNDO” mais passível de mutação. E o SER humano tenta galgar os degraus da felicidade que ele mesmo convencionou com suas idealizações. O homem criou os mesmos pecados a que se limitou e um d-EU-s à sua imagem e semelhança. Limitado, o ser que criou as próprias algemas está enfileirado e pronto para ir ao moedor... No transporte coletivo em que os homens seguem enfileirados, a mesma dinâmica... Os olhos que se cruzam, mas não se vêem... Os olhos que vêem, mas não desvendam os segredos do outro... Dos pés à cabeça, homens e mulheres são julgados pelos sapatos, roupas, combinações, uniformes... Quanta tolice a filosofia da igualdade... Ninguém quer ser IGUAL a ninguém... As pessoas só precisam ser quem são e ter alguém que lhes diga o quanto são incríveis, mesmo que elas não sejam... Mesmo que nem elas saibam quem são... Mesmo que o elogio seja uma ferramenta de ludibriar... Ah! O sorridente ego inflado dos homens que caminham para o moedor vale a pena observar... Como a natureza do SER humano é variável, influenciável... Calmarias e tempestades são tão facilmente protegidas e as máscaras que se levantam são tão confortáveis... Cada um representando o seu papel na estrutura viva de um mundo quase real... Os mesmos atores quedam à dinâmica de uma história construída, engendrada, lapidada, distorcida pelo meio... O que há de REAL- idade no que somos esconde-se na solidão... O ditado é antigo e tem cheiro de guardado... As palavras não são bonitas... Mas, o sentido é tão real que rasga a pele como aço de navalha... “O que somos realmente está presente naquilo que fazemos quando não há ninguém por perto...” É na solidão que as misérias humanas se libertam, que os sentimentos mais mesquinhos despertam... Em conjunto aprendemos a nos encaixar, nos deixamos moldar... Suplantamos a essência em busca de uma excelência forjada. E não é difícil moldar o homem porque ele não é feito de aço... O homem é uma massa de manobra fácil, quando não faz do pensar a sua vontade maior, a sua prática real... A ingenuidade do homem só não é maior na aceitação, do que nas supostas revoltas e revoluções que tenta fazer... Pobre fantoche! Tão humano que ainda não aprendeu... As revoluções levantadas com espada são podadas com a mesma lâmina cortante com que se aliam... A verdadeira revolução social é silenciosa - diz o sábio. E ele tem razão... O silêncio observa, mede, traça estratégias, vai roendo a força exploradora pelas beiradas... O inimigo não pode esmagar flores com tratores, sem perder a confiança daqueles que admiravam a beleza do jardim... Mas, os seres TELE-guiados do transporte coletivo e outros tantos que transitam em caixas de metal, com rodas, volantes e engrenagens... O que dizer? Os seres do transporte coletivo, tão diferentes e tão iguais entre si, falam demais por não ter nada a dizer, como já dizia o poeta deprimido de uma década de 80 nem tão distante... Os seres do transporte coletivo procuram as provas e os fatos de tantas canções que embalaram juventudes de outras épocas... Eles não querem que estas frases lhes vistam de saudades, mas os façam sentir-se a personagem que inspirou, a poesia, que inspirou a música... Os SER-ex humanos do transporte coletivo falam e não dizem nada, olham e nada vêem, gritam por qualquer motivo tolo, usam palavras repetidas... Eles caminham para outros moedores, outros campos de concentração, outras Bastilhas, mas estão sujeitos ao mesmo fim... Tantos atos pra tão poucas atitudes... Mas eles nem sempre podem escolher o momento de descer... Qual é a próxima parada? Em que ponto você deserta? Qual a sua escolha? Você ainda pode escolher!!! O ônibus é o mundo e você é o passageiro... Quanto vale a sua passagem, o seu passe, o seu bilhete, a sua viagem? Onde você quer chegar? Onde precisa descer para estar no seu lugar feliz? O que é preciso fazer para sair da zona de conforto? Eu grito porque a campainha não funciona: “PAREM O MUNDO!!!” e não é porque eu quero descer... E, sim, porque tem gente que já passou do ponto ou perdeu esse trem... No sentido mais literal possível...


Uma sugestão pertinente : Confortably Numb (Pink Floyd) 

2 comentários:

  1. Sempre fazendo pensar, senhorita...

    Muito bom...

    Prof. José Antônio

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  2. Meu médico sabiamente dizia na semana passada... "As pessoas de hoje, em sua maioria, acham que pensar dói..."

    Não posso e nem quero ser assim... Então, tento não ser... Não sei se consigo como gostaria, mas sei que falta de tentativa não é...

    Obrigada, professor...

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