terça-feira, 29 de novembro de 2011

Eis um Pequeno Fato: Você vai morrer. #2

 
 Sangrando Silêncios
                                            
 Ethan e eu andávamos apressados na rodovia, concorrentes, embora matematicamente paralelos. Contrastávamos como sangue na neve; eu, perfeitamente penteada e vestida, sem uma dobra no suéter; ele, moleton desbotado e um surrado tênis de marca famosa nos pés. Se alguém parasse e me perguntasse as horas, com certeza olharia para o céu e afirmaria que já era noite, embora o sol brilhasse nas folhas secas que nos faziam uma passarela mórbida. Eu tinha o direito de errar, afinal, tudo no meu campo visual parecia ter enegrecido.
_ Espero que pague por isso. É só o que peço a Deus por agora. – Cuspiu Ethan, sem olhar para mim.
_ CALE A BOCA ! FIZ ISSO POR VOCÊ ! – Exasperei-me, segurando seu braço. Ele desvencilhou do meu toque, andando mais rápido. Corriamos juntos contra nós mesmos, enquanto os carros zuniam a nossa volta.
 Arrancou um grampo de meus cabelos, desfazendo a perfeita imagem que eu proporcionava. Torceu-o, enfiando na fechadura da porta, fazendo-a ranger ao abrir. Devorou os degraus, enquanto subia desenfreado para a suíte da minha casa. Na cama, jazia um corpo envolto por um fino lençol de seda.
_ Não posso acreditar nisso... – dizia, enquanto bagunçava ainda mais seus cabelos negros.
 Olhei-o , sinceramente ofendida pelo seu desgosto.
_ Quem não pode sou eu ! Você vivia a dizer para nos livrarmos dela. Porque não aceita?
Ethan me tomou nas mãos e sacudiu meus ombros. Seus olhos estampavam o desespero que eu nunca havia visto naquele rosto que tanto amava.
_ Consegue realmente entender o que está dizendo?  – gritou, como se assim fizesse com que suas palavras entrassem em minha cabeça e se tornassem verdade – Pode ouvir os absurdos que estão saindo da sua boca? Eu queria que fugíssemos, dessemos um tempo de Cambridge, não sei! Como foi possível passarmos tanto tempo conversando sem falarmos a mesma língua?
 Confusa, sentei-me na cadeira. Estávamos ainda falando sobre nós? A meu ver, ele nunca a quis viva. Impossível querer; todos os nossos desejos tinham seu dedo quando fracassavam. Todas as diferenças eram ressaltadas quando estávamos sobre seu preconceito materno. E Deus sabia o quanto eu o amava. Separar-nos não era uma opção, pois eu iria até a barreira do inferno para que não tirassem de minha alma a única coisa que nela restara.
_ Sempre sonhamos com isso querido! Agora não temos mais aqui as amarras de antes, vamos aonde quisermos! – tentei empregar em minha voz a segurança de algumas horas atrás, enquanto convencia minha mãe a beber aqueles supostos comprimidos contra a enxaqueca. Levantei em um pulo, tentando abraça-lo, mas ele esquivou-se como se eu fosse tóxica.
_ Quer saber? É o suficiente para mim. Não posso mais com essa insanidade. Já não aguento mais olhá-la e só conseguir ver toda essa sua loucura interior. Ultimamente, tenho agido perto de você como um médico diante de um paciente: com pura cautela. Isso não é amor. – Caminhou para a porta, e de lá terminou, com a voz cortante. - É medo.
Parada, fiquei ouvindo seus passos e a porta se fechando num estrondo. Não sei se conseguiria me mover. Sentia como se tivessem me dilacerado cada membro, cada lembrança, cada sentimento. De repente, como se chutada, saí daquele limbo em que me encontrava. Tinha na cama a única pessoa que realmente havia me amado o suficiente para não me abandonar, agora tão inerte quanto minha conciência.
Esquivei-me embaixo da cômoda, onde escondida estava a M-16 comprada a anos para nos defender do meu pai. Coloquei-a entre o casaco e o suéter e segui até o final da alameda. Sabia aonde Ethan estaria, tão atordoado quanto eu; no mesmo lugar onde nos escondiamos para que, distantes de tudo, pudessemos nos encontrar. E era lá onde acabaria essa doentia relação, do meu jeito. Não havíamos sido prometidos a eternidade? Como já estava parcialmente morta, só faltava um de nós ...
   “ À mais velha e duradoura amizade, que com sorte terei para sempre”.
 

8 comentários:

  1. Okay, Jô...
    Você escreve muito bem, mas eu tenho medo de vez em quando, HAUEHAUEHAUEHAUEHAE'
    Ótimo, como sempre. Parabéns.

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  2. Bom dia!!!Jordana perfeito, acordei cedo hoje e vim direto para o Blog, para ver se já tinha saido a 2ª parte, nossa FANTASTICO,onde que você tira tanta expiração.
    Adorei mais ainda este 2º capitulo.
    Você esta de Parabéns.Vamos ter mais CARPITULOS NÉ?
    Espero ancioso(a) para chegar semana que vem para ler o 3º episodio.
    Parabéns mais uma vez, tu escreves de mais.
    Abraços

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  3. Como sempre,surpreendendo a cada capitulo.Parabéns Jordana ,continuo a dizer que tens um grande futuro se continuar nesse caminho.
    Abraços profª Bárbara G.

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  4. Huuum muleke; tao envolvente novamente \o/

    adooooreeiii jô . Parabéns
    como dizia minha prof do prezinho : continue brilhando hehe

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  5. Estou gostando de ver JoH! Toda escritora :)
    Você tem futuro amiga *-*

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  6. Gostei dms desse tbm Jôh!
    Parabéns amr :)

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  7. NOSSA Jô eu estou escantada com você, que você continue nessa e qe mais e mais você possa se realizar cada vez mais em algo próspero e proveitoso pra você ! como diz sua profª Bárbara Giovanna tens um grade futuro se continuar nesse caminho ² . PARABEEEEENS minha escritora linda ! Beeeeijos Nara !

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  8. Como sempre minha amiga linda arrazando nos textos... to gostando de vê jô orgulhosa de ti !
    Continue assim vai longe ... :) te adoro!

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