quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Existia um Amor. Duas pessoas existiam. E agora? #5

 
 Um dia desses, num desses encontros casuais
   
Uma vitrola, duas músicas na cabeça e uma dor de sangrar o coração. Era assim e de nenhuma outra forma que Alex existia depois que Tyler foi embora. Dançava valsa ao som de blues e bebia água com açúcar quando sentia que havia errado um passo. Tomava seu remédio com café quando imaginava que ele não voltaria. Punia a si mesma com ofensas sem nexo e depois ria de si mesma. Uma gargalhada dolorosa.
Às vezes, recostava-se a um canto sombrio da sala de estar, agora cada vez mais escuro, e dirigia uma cena imaginária na qual os dois ainda eram pares de almas desencontradas rindo vazios existenciais enquanto a vitrola chiava. Todavia, fora-se o tempo de ser par, mesmo sendo avulsas criaturas de confusa existência. Em leitos de amor perfeito, só restavam lençóis brancos mal dobrados e surradas impressões de que por ali passara qualquer coisa que se parecia com calma, que se parecia com amor.
A cozinha era a mesma de uma semana atrás: o molho de tomate seco incrustado no fogão, os pratos de macarronada sujos sobre a mesa e tudo que envolvia café por todo o cômodo.
_Droga, o açúcar acabou.  – E Alex não queria sair de casa. Não queria enfrentar o mundo nem a chuva de novembro sozinha. Não queria se encontrar com estranhos na padaria da esquina. Queria esperar o mundo passar sozinho.
Colocou seu casaco surrado de sempre e saiu na rajada de vento, tentando proteger a si mesma com os braços. Passou no banco e sacou o que seriam seus últimos reais até o fim do mês e andou sem rumo, procurando um lugar qualquer.
_Aqui já está longe o bastante da vida, Alex. – disse baixo, só pra ela ouvir – Chega de correr, ninguém vai te abraçar aqui também.  

Alex abriu a porta da pequena padaria esperando encontrar apenas seu pó de café e um pacote de açúcar, mas o que viu foi o gosto do perfume dele, o cheiro do ar que ele respirava e aqueles cabelos enormes, tão macios quanto alguém podia imaginar. 
Sua primeira reação foi tentar se esconder, depois, simplesmente se virar, ir embora e esquecer que existia aquela coisa de viver. Mas algo também avisou àquele outro coração que havia mais sangue pulsando naquele lugar. 
_Me seguindo, Alex? 
_Você não vale toda essa atenção, moleque. – respondeu ela, tentando o máximo não olhar nos olhos dele. – Então, o que faz aqui?
 _Tentando sobreviver. – Levantou o copo cheio de cafeína.
 _Não quero que me desculpe Tyler, mas foi você quem me deixou. Quem tem que sobreviver sou eu.
 _Você não entende, não é? Eu tinha que salvar você. E quando eu digo que não tem jeito, que não dá certo, você nunca tem argumentos suficientes. Mas, amor, eu queria que você tivesse, viu?
 _Quer saber? Eu te espero meu amor. Prometo não ter medo caso nos encontrem, prometo não ter voz caso beije, prometo não ter saída caso encontre o seu abraço. Você suporta minha tristeza, amor. Como isso? – As lágrimas já saltavam dos olhos da pequena menina, tão frágil como qualquer outra.
 _Alex...
 _Por favor, silêncio, não me interrompa! – E ela continuou - Você vai me trazer a flor do canteiro da esquina. Você vai chegar com o vento da primavera e ficar com todo o amor que guardei, que acumulei, que separei entre os pesares da vida. Sinto vontade de descansar em seu peito, de cair em sua mão. Mas sinto seu sorriso ao longe, sua respiração de quem enxerga os esconderijos na borda do coração, então me revivo. Finalmente nos encontramos, então volta anjo, me ensina a flutuar...
 _Eu não vou voltar, menina. Não posso. Por você, por mim, por nós dois. Há muita coisa oculta entre nossos olhos, pequena, você sabe. Cada batida do meu coração é uma nova dor, é uma nova ferida aberta, e sangra, sangra de saudade, de amor.
Ela tentou se aproximar. Tyler simplesmente abriu a porta e saiu com a expressão de "falta açúcar nesse café". Uma lufada de vento soprou os cabelos de Alex e ela deu um passo para frente. Chorou. Mas nem de todas as lágrimas ocultadas pelos dias e pelas dores se fazia o choro. Ela sempre soube, mesmo antes da porta se abrir.
    

"Para você, que eu amo de longe".

Siga: @anacmi
                                                                                          Leia mais: Antes que o tempo acabe




Ps.: Esta postagem teve uma pequena intromissão de uma certa Darla Medeiros...

8 comentários:

  1. It's... very beatiful, i'm glad i meet you ^^

    ResponderExcluir
  2. Vc tem o dom que eu nunca tive.
    Muito bom ver seus sentimentos no top do blogg.


    Do seu querido Marido (;

    ResponderExcluir
  3. Ficou lindjo Aninha continue assim =D

    ResponderExcluir
  4. Pseudo escritora incrivelmente talentosa!Não vai demorar muito para estar no topo.
    Cri"

    ResponderExcluir
  5. Muuuuito bom! Parabéns! *-* Continue assim ;)

    Brian Azevedo ¨

    ResponderExcluir
  6. Que texto lindo, Aninha... Minha pequena Ana, que me deixa sempre sem palavras. <3

    ResponderExcluir
  7. Gente, essa menina é incrível. Cada vez mostrando mais talento.
    Lindo post :D

    ResponderExcluir
  8. Obrigada pelo carinho, gente. Fico sempre muito emocionada.

    ResponderExcluir