segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A Força do Silêncio XVII


Cada Vez Mais

"Levamos uma vida que não nos leva a nada.  
Levamos muito tempo pra  descobrir. 
Que não é por aí... não é por nada não. 
Não, não pode ser... é claro que não é... 
Será?"
Mecanicamente, as filas do mundo acumulam homens e mulheres que esperam por um algo mais. O alvo é sempre uma figura minúscula, difícil de atingir que se movimenta pelo horizonte. O ser humano dá um passo a frente, o horizonte muda, o alvo foge, foge para longe... Nós somos o que ainda não somos. O sonho de um futuro é um por vir... A felicidade nunca está completa... Responde-se a uma questão, outras tantas são projetadas... Somos os eternos insatisfeitos... Os olhos que projetam o risco no outro, a perceber que as lentes que observam é que estão embaçadas... Diz um velho professor a quem não recordo mais o nome: "O ser humano é bom", a sociedade é que o condiciona. Dizia Hobbes em letra de rock'n roll contemporâneo: "O homem é o lobo do homem". Diz o sábio em seu livro, suas linhas, suas redes sociais: "É a civilização-coisa". Querer ter para ser é confessar que não se é coisa alguma, além de um ser vazio revestido de um mundo de coisas. Havia estrelas em muitos céus, mas o céu da boca era tão fácil de alcançar que ninguém percebeu que estava lá.  "Cada vez mais" era a expressão que a minha criança repetia em sua produção textual ao falar de violência. Como seríamos melhores se ao mencionar a violência pudéssemos repetir com constância "cada vez menos". Menos individualidade, menos agressividade, menos crianças armadas e mal amadas. Se "cada vez mais" falasse de respeito, educação e tantos outros adendos necessários a uma boa formação de caráter, então, sim, seria bem-vindo. Mas, depois que inventaram a desculpa e as prisões, é mais fácil corrigir do que ensinar... Para investir em ignorantização os "donos do poder" da "terra de gigantes" e os "senhores da guerra" de tantas outras espacialidades, quase que provincianas, não medem recursos, esforços, ações. Todos ligam a mesma TV e assistem as mesmas tragédias, todos consomem as mesmas dores, partilham os mesmos horrores, vendem as mesmas marcas... Todos ou quase todos propagandeiam um mundo capitalista em palavras, vestimentas, olhares e necessidades nem sempre tão necessárias... Perderam-se as essências... O que é realmente necessário? O que é essencial? O que lhe faz viver? Um pouco de silêncio e um copo de água pura?  Faz tempo que o homem nasce limpo e que com o tempo aprende as melindrosas faces de SER humano... Faz tempo e eu nem sei quanto tempo faz, que a gente ensina as crianças a serem adultos cedo demais... Faz tempo que as crianças querem crescer e deixam-se tentar cedo demais... Faz tempo que o mundo que conhecemos caminha em estradas perigosas, na linha tênue entre um fim e uma redenção... Faz tempo e, talvez, nem faça tanto tempo assim, que não se erguiam tantas armas... Mas, também faz tempo que os homens guerreiam entre si por poucas léguas e motivos que se potencializam sem ter razão para o ser... Há muito tempo, perseguidos e perseguidores, dominantes e dominados, proprietários e propriedades, há muito tempo estrelas cadentes contrastando com satélites... E nada é por acaso. O homem que empunha arma é o mesmo que fala de d-EU-s e é o mesmo que prega a palavra. O homem que veste a batina ainda não é muito mais que um homem. A televisão que sempre vende tantos produtos eficientes travestidos de boas ideias toma as rédeas sociais, a mídia que a acompanha faz seus jogos... Os donos do poder aplaudem de seus camarotes, bem acima de onde o povo anda empilhado nos ônibus, respira a fumaça urbana e cinzenta de uma grande cidade. E como nada pode ser dissociado do todo sem que para isso perca o significado, fica sempre um discurso subentendido nas entrelinhas... Entrelinhas de um discursos, propagandas, linhas de qualquer natureza, formas de respirar, desabafos... Tudo que a mídia leva ao público trás consigo um algo a mais, uma venda para os olhos que consomem, um cabnresto para os olhos dos que assistem, um código para não poderem ser poliglotas na arte retórica do convencimento... Estamos todos enfileirados e a caminhada é evidente, o destino quase certo... Se você for o próximo qual a chance de fazer algo diferente? Estamos tentando... É a parte que nos cabe, é a parte que sempre nos coube... Nas salas de aulas absorvendo pó de giz pulmão adentro... Nas estradas da vida chorando escondido com as misérias humanas travestidas de histórias infanto-juvenis.. Estamos tentando... Talvez, não sejamos tantos... Talvez, nem mesmo possamos fazer a diferença para o mundo, mas o faremos para alguém... O horizonte é uma linha distante que se afasta sempre que damos um passoa frente... O alvo consegue se mover e ir para mais longe... A felicidade é uma busca constante, mas cada sorriso, por mais que pareça sombra, no rosto de qualquer anjo já fará uma parte do paraíso parecer mais real... 



Agora não mais importa o que fizeram de ti .E sim, o que tu vais fazer com o que fizeram de ti...

2 comentários:

  1. A normalidade trilhou as pegadas da maioria. A felicidade ganhou padrão, tá sendo vendida a todo tempo, sinto que quem pratica valores diferentes do que está rolando parece estar na contramão, cavando sua própria depre. Engraçado sempre houvi que a felicidade não se compra e que ela estava travestida nas pequenas coisas (Um vinho tinto, um copo d'água, chuva no telhado, o pôr-de-sol). Então lhe pergunto: Quem são os normais? Os sobreviventes ou os adeptos desse transloucado novo mundo?


    Andŕe
    Sul das Gerais

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  2. André, o que posso dizer-lhe eu? Quem dera todas as perguntas que eu faço já tivessem de antemão uma resposta. Creio que no conceito mais atuante de normalidade encaixa-se tudo aquilo que é visto pela maioria como adequado... Mas, também creio que está nos pequenos biscoitos que ficaram um pouco deformados porque havia massa demais na forma a possibilidade da renovação de uma sociedade... Obrigada pela presença e pelos comentários sempre muito pensantes.

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