quarta-feira, 29 de junho de 2011

Partes de Mim III















Já tive sonhos...

... Mas hoje nem a realidade me parece suficientemente convincente... Os carros apressados parecem querer chegar primeiro em algum lugar como quem concorre em algum ranking... Mas, afinal, o que é mais importante? Chegar em primeiro lugar? Ou chegar? Nas festas as pessoas frenéticas beijam mil outras que nunca mais verão e o que sentem? Muito provavelmente muito menos do que sinto eu aqui sentada a escrever... Os jovens contam histórias, trocam endereços eletrônicos... Obsessão dos ídolos e das marcas e dos "ser" que mais se parecem aos muitos "ter" que ouvimos todos os dias... Quanto vale um sonho? O suficiente para a verdade ser um valor secundário? Um sonho vale a perda de uma identidade? Se a verdade do sujeito já não é a mesma, terá ele o mesmo sonho? Que modos de ver o mundo substituirão o prazer de plantar as sementes que se colhe ou de nem colhê-las e apenas plantá-las, ou de apenas colhê-las pois foram plantadas por alguém? A geração orfã de vontades e vinculada a filosofias que tem curto prazo de validade fará o que de seus dias inúteis acumulados em redes sociais vivendo no nada por não ter nada a fazer e ocupando o seu dia como quem salva o mundo? Amanhã talvez fará? Sejamos francos essa ideia de um final feliz com um paraíso no final já se parece bem mais com os distorcidos contos de fada que vendiam algumas ideias há tempos... Até isso hoje está sendo desconstruído... A mocinha já não pode mais ser a vítima e, sim, uma menina rebelde... Ela já não é uma massa de manobra na história e, sim, o heróico personagem que inova a fábula... Onde estão os heróis, se é que ainda existem? Quem o saberá? Os sonhos de criança foram consumidos como garrafas de vodka em dias frios... Ás vezes eu me sinto como o lendário Sísifo... Rolando pedras morro acima e condenada a nunca chegar ao topo desse mesmo morro... Sísifo é personagem mitológico mas, e eu? E eu que não sou e vivo assim do mesmo jeito? Terá a natureza humana o talento para insistir... Cansada da descabimento do mundo ou da minha própria ineficiência eu cruzo a linha tênue que me separa da insanidade...
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Já tive sonhos hoje só sei do pó da estrada...
Não aquela que trilhei, mas a que polui meus dias...
Já tive sonhos, mas me sinto cansada...
Ilusões e falsas comédias não provocam utopias...
Os sonhos? Como comprá-los?
Nenhuma etiqueta cobra barato por um sonho...
Então a palavra se esvai...
O sorriso falso esfacela-se...
Finge-se por todo o tempo...
Em grande ou pequena escala...
Não há como suportar toda a verdade sobre alguém...
Não há paz, pó ou lamento...
Sentimento... E o sonho então se cala...
Exala mil tristezas, mas além...
Muito além do horizonte
que os olhos não podem alcançar... 
Haverá uma estrela pequenina...
Cadente e distante além do monte...
que remonte um pedido a realizar...
Esperança da menina...
Cansada de seu sísifo viver
Querendo encontrar uma razão única...
púnicas guerras partirão de seu coração...
agarrar-se hão a estrela...
e um fio de luz construirá uma nova esperança...
entre sussurros incompreendidos de um desamor...
um arado amarrado a uma estrela...
como em letras de um gênio qualquer...
levará o sonho estelar de uma princesa de contos de fada
ao infinito desejo de uma nova utopia...

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