sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Três Pontos Negros XVII

 

Àquela que Acena do Outro Lado

Aprender a desprender para entender sorrisos agigantados em faces de aparência feliz. As mulheres que tanto queriam e que hoje tanto têm refazem seus sonhos de laços de fita. Não são mais aquelas que sonham filhos, maridos e poesias escancaradamente... Mas, se fazem delas uma linha de palavras bem escrita, se as fazem sentir-se canção, pulsa-lhes então, um coração de adolescente e menina, pulsa-lhes a fantasia, quimera guardada, tristeza adiada, renovada alegria. Mulheres de hoje, nem todas tão próximas de mim, nem todas, por certo, tão distantes... Tenho tantas dores, dúvidas e sorrisos que se parecem com os seus... Tenho quedas e passos de dança, receitas que nunca deram certo e manias de limpeza... Tenho a fantasia de imaginar nas crianças que cruzam o meu caminho a que um dia será minha criança... Sim, eu tenho dessas coisas... Tenho dessas sentimentalidades... Eu tenho dessas necessidades de sorrir sem motivo e contar piadas que precisam ser explicadas... Eu tenho desses rompantes de pensar mil coisas, planejar mil atos e, por fim, calar a um canto qualquer e esperar o próximo carnaval chegar, mesmo que quase eterna seja a espera... Sim, eu tenho desses medos... Medo de cair, medo de tentar, medo de não ser boa o suficiente para alcançar as estrelas mais distantes... Eu tenho desses medos... Medo de agigantar minhas palavras, de sentir muito menos do que elas demonstram... Tenho coragem de dizer que ainda minto até pra mim mesma e nem sei em que pontos isto se constrói... Sim, eu sou apenas mais uma... Uma pequena peça do grande quebra-cabeças, um pequeno grão de areia na extensão incalculável da praia deserta... Mais uma poesia que perdeu a rima pelo caminho... Uma oração que não consegue combinar-se ao contexto... Eu sou o avesso de mim... Sou um rio sem fim a passar pela vida, mesmo que não seja a minha... Quem me vê aqui, silenciosamente a observar, não pode entender, nem pode dimensionar... Eu sou um pequeno casulo em que escondo o mundo de que me faço humana... Uma contradição entre tantas outras... Vejo estrelas distantes sem qualquer luneta... Ouço passos de abismo sem qualquer aviso anterior... Perfume de flor desperta alergia, paredes brancas promovem agonia, líquidos quentes perfazem vapor... Eu bem poderia ser a própria flor em espinhos e expectativas... A ilha se achega em contagem regressiva e eu pergunto o que é feito da vida? Que tanto quero e tão pouco faço... Que renego abraços e me vejo perder sensibilidade, tempo, piedade de mim e do meu mundo em si... Tenho pensado em jardins onde trocam-se flores por pimentas... E em flores que eu nunca parei para observar... Tenho pensado em colher cada lírio em seu florescer e podar todas plantas para que calem cor e perfume na minha presença... Tenho pensado em plantar arbustos espinhosos e vegetações carnívoras ao redor no universo paralelo em que me escondo... Terei pão caseiro e mel ao amanhecer... Café quente e colo de conforto... Ninguém que me faça lágrimas, quando necessito ter sorrisos, terei mais narcisos que lírios, mais rosas vermelhas e menos flores silvestres... Que flores leves voam fácil demais e já é hora de colocar os pés no chão...



2 comentários:

  1. Belas palavras...
    Intenso sentimento!
    Bravo... o/

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  2. A intensidade e a beleza refletem em sua leitura das minhas palavras características que já estão com você... Sinta-se bem-vinda.

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