domingo, 8 de maio de 2011

Prosas que o Mundo dá IX

Ele olha... Mas o horizonte está além do que os seus olhos podem alcançar e a mente trabalha... Os sons difusos ao seu redor são apenas um murmúrio confuso que para ele nada significa... Ele se cala... Palavras proferidas inutilmente apenas pelo desprazer do som produzido já não facilitam sua existência... Ele não procura mais um impulso para extinguir a inércia que o guia ao comodismo... Em um delirante estado de conforto que não lhe permite ter os pés no chão, ele apenas espera ou já nem espera mais... Que o que usa como "talvez" seja uma resposta que ele mesmo possa interpretar ao seu bel interesse, mesmo que esse não exista... Ele olha e não percebe que enxerga muito além do que deveria ou poderia fazê-lo, mas isso é tão rotineiro que já nem se importa mais... Em uma realidade manipulável prende seus dias e suas desconformidades... Não alimenta fantasmas, porém vive como se eles existissem... Esquiva-se , esconde-se, não se deixa tocar, não se deixa atingir ou finge muito bem... No meio de um infinito de pessoas e situações, ele permanece inatingível como apenas raros objetos e pensamentos o são. Impossível encarar seus olhos sem sentir-se despido de máscaras e ele nem percebe o quanto pode ver, porque cansou-se de perceber algo e nada fazer a respeito, porque cansou-se de fazer algo a respeito e já não adiantar... Ele caminha pela estrada entre pessoas e neblina, entretanto seus pensamentos onde estarão? Onde estará escondida a sua vontade de viver mais? Onde estarão seus sonhos e quais serão? Quantas músicas incompletas terá escrito? Quantos livros terá abandonado sem concluir leitura? Quantos amores terá sentido? Em quantos momentos realmente foi feliz? Seu olhar é triste... Fascinante sua escrita... Seu olhar é incerto... Titubeantes seus passos... Seu olhar é um tênue limite entre a verdade e o constrangimento por enxergá-la... Atrevido ponho-me a questionar o que, talvez, seja inquestionável... Que sensações e sentimentos realmente o farão vivo? Até que ponto tornará a realidade mais complicada para melhor pensá-la? Até que ponto esquece de si mesmo para repensar o mundo e não a sua própria visão? Exausto busco o sono que não vem... E repenso: quem realmente será este homem? Por que olhos de menino pesam em sua face preocupada? Como compreender o incompreensível? Como evitar o fascínio de uma visão nebulosa e não querer descobrir o que está implícito nela?

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