A Força do Silêncio I

 

Os Homens que Constroem a Casa do Outro Lado da Rua...

Os homens que constroem a casa do outro lado da rua são apenas homens... Eles barulham o tempo todo... E seja o ruído das ferramentas do pedreiro, ou das máquinas que produzem massa, ou das músicas cantaroladas, ou o chamar de um outro homem com quem trabalham... Seja apenas o ruído natural e despropositado de seu trabalho... Muitas vezes me irritam e em outras despertam admiração... Os homens que constroem uma casa e , talvez, um lar, do outro lado da rua... Podem nunca imaginar as histórias, sentimentos e sensações que serão ali vivificados... Eles apenas passam pela vida daquela casa que poderá, um dia, ser lar ou não passar de paredes cimentadas e frias a encouraçar corações ainda mais frios e solitários... Os homens que constroem a casa do outro lado da rua... Já foram pais solteiros, já sofreram suicídios, já criaram filhos, já escreveram uma história nem sempre trágica, mas muitas vezes triste... Há quem os julgue rudes e há quem nem os perceba em cima da casa em que trabalham... Eles falam, entretanto poucos são aqueles que os ouvem... Seus anseios, vontades, percepções... Mantem-se dentro daquelas paredes por eles construídas... Sua mente é uma caixa de pandora aberta para o mundo... Seu coração pouso tranquilo em que habitam pássaros e calmarias... Esses homens estão sempre ali, mesmo quando olhos humanos não são capazes de enxergá-los... Instalando fios e fazendo encanamentos, socorrendo donas de casa em apuros e sendo a base do esquema funcional em que hoje se resume à vida humana... Esses são os homens que constroem a casa do outro lado da rua... Nem tão estudiosos quanto pede a sociedade, nem tão ignorantes quanto ela teima em enxergá-los, nem tão fortes quanto esperamos que sejam, nem tão frágeis quanto podem aparentar, muito mais sábios do que a sabedoria popular poderia supor, muito mais experientes do que deixam transparecer... Homens... Com braços e pernas fortes e mente sempre alerta... Homens sonhadores e, às vezes, apenas conformados, homens que passam invisíveis aos olhos distraídos de muitos outros homens... Pessoas comuns ou apenas mais uma peça na coveniência em que devem se encaixar muitas vidas... Homens que vivem do pó da estrada e dá incerteza da profissão... Hoje são raros estes homens... Que se atrevem a ser corajosos, que enfrentam o calor escaldante de um verão e o frio cortante das madrugadas de inverno... Homens que são chefes de família ou, as vezes, não são chefes nem de si mesmos... Ingênuos por acreditar na utopia de um mundo que deveria melhorar... Sonhadores por ajudar a construí-lo mesmo sem saber o caminho que ele segue, o rumo que escolhe e quem o guiará a este destino quase sempre incerto...