quinta-feira, 23 de junho de 2011

De Pó e de Poesia XIV



Pegadas na areia...

Dirão que o tempo apaga
Mas o amor não se representa por pegadas na areia
Dirão que a dor transformar-se há em lembrança
Mas o amor não é tão mutável e nem tão maleável quanto transparece...
Tentarão fazer as coisas parecerem muito mais fáceis...
Mas um único amor supre o espaço que ele mesmo deixou em branco
Nada é mais verdadeiro,
nenhum olhar tem o mesmo sentido,
nenhum sorriso cativa como aquele...
O anjo abre os braços...
Voar lhe parece liberdade
Libertar-se também pode prender
Prender a alma saudosa que lhe espera...
Que não mais pode sobreviver sem ti...
O anjo alça vôo sobre o azul revolto
O céu se envergonha, o mar se espreguiça
E a vida segue sem rumo como sempre seguiu
O tempo escorre entre os dedos
E o silêncio liberta o que as palavras não foram capazes de dizer...
Brinca a criança em terras distantes,
Brinca de olhos brilhantes e amor de menino...
Dirão que ele nem entende o amor de pai
Mas amor não se entende se sente e ele sentiu..
Há um grito preso na garganta daquele homem...
Um silêncio forçoso que não consegue cantar...
Os versos se prendem e as lágrimas em desassossego
Apenas constatam o vazio a que ele se liga agora...
O anjo sorri...
de longe a figura paterna parece ainda mais forte, protetora
Mas, frágil, insegura, triste...
O anjo observa e de longe o grande homem parece pequeno
De longe o grande homem é apenas um menino
Procura abrigo, no abraço ou no olhar...
O grande homem que tem sonhos grandes e que sente saudades...
saudades de um anjo pequeno que alçou vôo aos céus
para não mais retornar aos braços seus...
Um anjo pequeno que o olha de longe e sorri...
Um grande homem que perdeu-se no espaço que o vazio deixou
Um anjo pequeno que conforta o vazio
São eles: o pequeno anjo e o grande homem...
A prova... Amor não se entende se sente...
Ninguém preenche o vazio de uma amor com outro qualquer...
Amores podem vir e ir
Não são sangue, são coração...
Não se mentem com as palavras, se provam no silêncio de um abraço e nas verdades de um olhar...
Amor é infinito... sente dor...
Mas sente também que...
Qualquer momento ruim sempre pode ser superado por cada pequeno gesto
que tornou válido esse amor...
Pai e filho... Um homem grande e um anjo pequeno...
Um pequeno anjo, como tantos outros...
Que marcou o coração do grande homem...
Não como uma pegada na areia
Mas como a espada forjada em aço...
Que resistirá a todas às provações
sobreviverá às intempéries
E permanecerá sempre amor...
Sem distância, nem morte,
Nem sorte ou azar
Apenas um sorriso pequeno que
iluminou a vida do grande homem
cuja voz o pequeno ainda há de ouvir
Em muitos carnavais, pelas curvas de uma longa estrada
Como profecias de um amor
que nada conseguiu superar...

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