domingo, 19 de junho de 2011

De Pó e de Poesia XII


Solidão comum?

Todos se foram,
a luz apagou,
o silêncio se ouviu...
A madrugada chegou,
a lágrima escorreu,
o tempo parou...
No banco vazio da rua escura
seus joelhos tocaram o rosto...
Em forma fetal abraçou a si mesmo...
O reflexo no lago nunca o fez Narciso...
A alma insone em melodia
e perdida em si mesma
galgou as montanhas de onde caiu...
Desfez os sorrisos que dissimulou,
fingiu não morrer...
O vento solene murmurou baixinho
que doces palavras não desfazem abismos...
Um homem perdido, distante, dormente...
Pedaço de um algo que nunca conheceu...
Eterno amante do sonho adormecido...
Eterno caçador de um mundo realizado...
Palavras, abismos, amores, destinos...
O menino cresceu,
a rua o perdeu,
o tudo não lhe disse nada
e no nada o tudo lhe acenou...
Ganhou a estrada e na poeira dos dias
não pode ganhar a si mesmo...
Todos se foram,
a festa acabou
e agora?
Onde está o homem?
Onde está a coragem?
Onde está o menino?
Quem levou o seu destino,
se destino um dia teve?
A embriaguez que lhe abandona
prova que não foge de si mesmo
quem nunca esteve em si,
 que não sai de si mesmo
quem nunca esteve ali,
que não ama a ninguém
quem não souber libertar a si mesmo...
Guardam-se as folhas,
os fios de tempo...
Os restos da esperança perdida...
Solitário ele ainda tenta...
Fios são sutis entrelinhas
que ninguém quer entender...
Escorre entre os dedos o respirar
(ninguém o salvará)...
E a poeira será a única testemunha
dos olhos que derramavam lágrimas,
dos olhos que já não desejavam vida,
dos sonhos que apenas ficaram em sua mente
e de todos os dias vazios
em que gritos de socorro
foram apenas palavras confusas
justificadas pela suposta embriaguez...
Dirão que nunca saiu de si...
Que nem tentou...
Que escolheu esconder-se ali  mesmo...
Mas todos terão ido embora muito antes disso...
Palavras estarão distantes...
Os ruídos do vento não farão diferença...
No banco da praça a alma confusa...
A vida por um fio literal...
Um lago tranquilo e o reflexo lunar...
Nunca sentida sua presença...
Na madrugada difusa...
Sombras que lhe parecem do mal...
e do sono... Não mais irá acordar...

Um comentário:

  1. Bacana, to me tornando fã assiduo dos seus textos, parabéns, é muito talentosa

    ResponderExcluir