quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Força do Silêncio VI

















O frio...

... que bate em minhas janelas e portas pode estar dentro de mim há muito tempo ou pode nem mesmo existir pra mim seja dentro ou fora deste quarto de dormir em que prendo... Já significou muito mais do que apenas condição climática ou temperatura... Ali fora, onde ele tem dominado ferozmente nesses dias, existem muitas pessoas que não possuem muitas portas ou janelas para que ele bata. Muitas pessoas que não têm casas , então para que iriam querer portas e janelas? E o frio? Ele não pede passagem, nestes casos, apenas entra... E fere, agride, machuca o corpo humano de tantas crianças e adultos sem lar e sem porto seguro... Sei que é muito mais fácil postar em todas as redes sociais possíveis o seu próprio desconforto com o frio... Pra mim também é o mais confortável a fazer, mas sei não ser o mais sensato...Cada vez que você tecla o frio da frente quente e confortável do seu computador pode ter certeza de que muitos outros estãos passando frio pelas tantas ruas e cidades do mundo todo e não... Não estou fazendo demagogia... Campanha do agasalho pode até ser clichê, mas se o clichê puder melhorar a vida de alguém ou prolongá-la, por que não cair nele? Agora...
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Ele envolve como um abraço, mas não é quente...
Está ali fora pedindo pra entrar
Não escolhe as ruas trilhadas cuidadosamente...
Inconsequentemente apenas se faz notar...
pode simplesmente congelar
ou se parecer com um confortável dia de inverno...
inferno para os que não se agasalham
ele não pede, ele apenas age...
respriado o menino corre pela rua
e a pele nua arepiada fica ao seu tocar
contato gelado, frio ele se chama
inflama-se o ego humano que não o conhece em sua busca
ele ofusca até mesmo o sol
que não faz sentido onde ele está
quando em companhia da chuva
uma perigosa combinação
que às vezes vira canção, em outras solidão
deprimente desenho de uma vida onde o frio
mesmo que não real é dominante
estrada errante que ele trilha
sem porto de partida
sem previsão de chegada
atravessa a auto-estrada
apressa o passo e transforma-se em abraço
ganha a avenida, mata no filme e no centro da cidade
ele não tem idade e fascina
conquista os olhos da menina
quando faz neve em instante breve
clima europeu em terra americanas
faz quente ardente ausente
um dia em que profanas
a dádiva tropical de terras nossas
ele escorre, dissolve e desorienta
enrigece os dedos, evidencia os medos...
Enfatisa as solidões...
Pessoas passam a querer alguém ao lado...
Um amante, um namorado
ou um simples mal-me-quer 
que dure por um inverno
ou dure pelo que vier
e ainda dizem que amor de verão é passageiro
talvez... amor de inverno seja só adequação...
doe um agasalho? doe um abraço...
Nem o homem mais forte...
forte como o mal forjado aço
fugirá desta frustrante necessidade
amor de verão é inconstante
amor de inverno é comodidade
os dois podem durar um instante ou uma vida
podem nem mesmo chegar a ser amor
e não haverá um único ser que se diga humano que julgue profano o frio
ou o amor por ele causado
ou a surpresa que o torna inoportuno
ou tudo aquilo que nos mantêm em redes sociais
e nem haverá um único ser que possa se dizer humano que não lembre da criança
que treme de frio nas tantas ruas das tantas cidades...
ou que não tenha a capacidade de abraçar
senão ao mundo a si mesmo...
Porque o frio que está ali fora pedindo pra entrar
ele só quer lembrar você
de que ninguém está ao seu lado
se por mau grado
você também não for estar...

Um comentário:

  1. oi, obrigado pela visita ao Casa de Paragens, e pelo convite a vir aqui nessas noites de outros dias...

    abraços
    Rubens

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