sexta-feira, 1 de julho de 2011

Prosas que o Mundo dá XXII


A Porta...

... Sempre esteve ali, por muito tempo, fechada... O menino que cresceu acostumado a só enxergar paredes brancas jamais reconheceria a verdade ou a paisagem ou a diferença entre as coisas boas e ruins que poderiam haver para além da porta... Os anos passaram, o menino já não era mais menino, mas também não era homem... O seu mundo eram as paredes brancas dentro da porta que nunca se abriu e que ele também jamais tentara empurrar... As cores para além de tantas janelas eram apenas sombras cujo significado e sentido ele desconhecia... O canto dos pássaros e a voz que, as vezes, articulava palavras para além dos muros que ele nunca enxergou, pareciam-lhe apenas uma trilha sonora natural da casa onde morava... Mas, um dia, um vento um pouco mais forte que a brisa trivial dos dias que ele nunca enxergou empurrou a porta e uma luz forte quase pode cegá-lo... Num primeiro momento, os olhos doeram tanto que ele teve de fechá-los, em um segundo momento eles entreabriram-se temerosos... E veio o primeiro passo em direção a porta e a dúvida de não entender o que acontecia... As primeiras cores e imagens que enxergou fizeram doer seus olhos e duvidar de sua  existência... Como pudera tudo aquilo estar ali e ele jamais ter se dado conta? Um segundo estalar de pensamentos e ele parou, na mesma porta que o limitara por tanto tempo... Pensando ser o lado de fora da casca em que crescera apenas algo para assistir,algo que nunca estivera por perto por algum motivo... Temeu o cheiro das flores, as cores do mundo, temeu agora o canto dos pássaros, temeu a cor da terra e o cheiro dela molhada... Apavorado trancou a porta e todas as janelas por onde sempre enxergara tudo aquilo, além dos vidros, como apenas uma imagem ou uma miragem... O medo do desconhecido o fez chorar como criança de colo que sente saudades do carinho materno... O fez tremer como uma pequena folha atingida pelo vento revolto que tenta segurar-se à árvore... E ele era, agora, o pássaro cativo que nunca conheceu a liberdade e, por isso, simplesmente não soube o que fazer com ela, porque nem sabia o que ela significava... Ele era aquele que tinha a,porta aberta e um infinito horizonte para onde buscar verdades e o entendimento delas... Ele era agora um possível liberto, mas... De que valia a porta aberta se o menino, talvez, homem, preso em tantas paredes brancas já nem ao menos sabia para onde ir? Que caminhos segue alguém que nem sabe o que são caminhos? Como pode estar livre quem desconhce o sentido da palavra liberdade? No canto escuro do quarto de dormir ele cobriu-se de novas redomas... Deitou-se em posição fetal e fez com que as tantas cobertas do inverno chuvoso se enroscassem em seu corpo e cobrissem até mesmo os seus olhos... Às vezes a verdade assusta até quem desconhece sua existência... Para aquele menino, ou homem, muito mais confortável foi, apenas estar entre suas paredes brancas onde a luz não era forte demais para agredir seus olhos... Não correr o risco de atravessar a porta, será este também o nosso grande erro?

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A verdade?
O que é a verdade?
Uma ilusão que projetamos para nós mesmos?
A verdade é um tiro no escuro ou é um lampejo tão agressivo que pode cegar?
Até onde a verdade é confortável de ser ouvida?
Até onde ser verdadeiro pode salvar?
Corre a criança em palavras ligeiras
Não poupa ninguém e não, ela não é pop
Muito pelo contrário, muito mais pop vem a mentira
distorção da verdade...
de repente
(não mais do que de repente)
as bocas despejam os sonhos em palavras distorcidas que parecem verdade
Ah! As verdades e as palavras...
Será que todas as verdades são ditas em palavras?
Será que todas as palavras tem um fundo de verdade?
Minha mãe tem a mania de dizer verdades demais
E as verdades de minha mãe nem sempre são palavras
Elas também são olhares que ferem muito mais do que apenas um verbete
Maria diz amar João
Mas amará Maria ou não?
A verdade permanece a mesma quando dobra a esquina
ou será a verdade apenas uma melindrosa menina?
será que a verdade precisa de rima
será que a sua verdade precisa da minha?
será que existe uma verdade?
ou a palavra é apenas um jogo de vaidades?
As quatro paredes do seu mundo...
O covil mais triste e profundo...
Do homem que não trilhou qualquer estrada
pois atrás das verdades alheias se encontrava
A verdade pode ser apenas um cenário de novela...
Pode ser apenas aquilo que queremos enxergar
Ou pode nem mesmo haver qualquer verdade...
A verdade pode ser uma necessidade
criada por propagandas e vendida para qualquer idade...
Ah! A verdade... Será ela um tiro no escuro ou um raio de luz a nos cegar...
Ou apenas um porto seguro onde queremos chegar?

2 comentários:

  1. Parabéns, é interessante o quanto você explora questões para definir um só tema

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  2. Grata pelo apoio... O que seria do que eu escrevo sem aqueles que lêem?

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