Os ventos...
Os ventos de agosto chegaram
se chegaram porque deviam
se outra estação enganaram
se com outrora se pareciam
se chegaram por conveniência
ou chegaram porque chegaram
esta é uma intransigência
a que não ouso
pôr sugestão qualquer
por ruídos que hoje ouço
a janela martela de segundo em segundo
e o mundo torna-se irritadiço
rangidos de portas silenciosas
silenciosas e inescrupulosas
que me ferem mais que a sua ausência
por clemência
dê-me alguém um coração de aço
que não perca sempre um pedaço
toda vez que tenta fazer o certo
e perde-se no deserto das causas perdidas
Minha vida...
Hoje se te olhasse de outro ponto
a vista seria um conto
de fadas no qual não creio
mas daqui de onde te vejo
entre qualquer das minhas quatro paredes
no meio do meu mundo em profusão
você é tão mais que ilusão
que a mão que toca a tela
pode tocar-me mesmo que dela
não emane o calor que eu reconheço em ti...
Minha vida...
cedeste hoje o brilho que ainda me traz desperto
olhar de menino... Esteve tão perto...
Rufam as folhas e o vento lá fora
escorre a hora em que me és presente...
e a despedida fere
a gota salgada comprimida
a um canto qualquer do rosto pálido
cálido par de lábios que te desejam
como sábios profetas em suas peregrinações
multidões de sentimentos que embriagam
a minha percepção
paixão na tua boca tem som mais doce
não fosse pelo meu silenciar
a gritar quando necessário
que há por tráz da porta
em qualquer linha torta
um corsário pirata a roubar
a privacidade da cela em que quero estar...
o colo que eu quis
mesmo antes de me oferecer
isolo na lembrança como relíquia
profano esta vontade sempre que vejo e ouço
e não posso falar
mas a alma grita
e agora
sei que ela está ali
e esteve a qualquer hora
por sonho, saudade, sentimento
julguei que tu eras o vento
e alimentando mil quimeras
atirei-me nos braços dele
ah quem dera
fosse ele realmente quem eu pensei que fosse
tão doce o toque, a fala, o gesto
tão doce o lábio, sábio sorriso, olhar
tempestade de vento em que me disperso...
falsa loa a que chamam de amor...
atirei-me aos braços do vento
porque pensei ser você
quem sorrindo abria os braços
e prometia me aquecer
do frio do inverno tardio
do frio de viver em vazio
existencial em qualquer primavera
ah minha vida quem dera...
a saliva solvesse
o medo de mim
e absolvesse as culpas
deixando-me assim
apenas temente a mim...
amando até a tua ausência
querendo guardá-lo, sim
amando-o com certa urgência...
sedento, sufocado, sangrando
querendo deitar-me ao teu lado
deixo a gota salgada se derramando
porque ela é mais verdadeira
do que os meus olhos em sorriso
ser indeciso
eu sei que sou
mas do pouco que sei
sei que o vento não levou
o sentimento
que despertou o meu mundo
para o surdo vazio em que vivi
e aqui
onde agora posso sorrir em frente à tela plana
há alguém que ama
uma fantasia real
uma realidade fantasiosa
um sonho com olhar de menino
e palavras de homem
com rosto de calma
intensidade que me consome...
olhar que me leva a crer que a alma errante
que há muito perdeu-se de mim
está nesse instante
a passos assim
como creio que aquele a quem julguei ser o vento
por certo tem a minha metade
aquela que tanto lamento
mostrou-se em realidade
cantando-me em letras sagradas
amando-me em palavras veladas...
querendo-me entre os lábios a proferir...
uma distância que o vento não deixa existir...
O vento me traz...
O desejo do dia em que serei capaz
de dizer eu alto e bom tom
ou sussurar em seu ouvido sem que jamais
alguém possa me supor as palavras
"Eu quero você tanto ou mais do que diz me querer,
posso sentí-lo cada vez que te ouço,
como se não existisse essa distância
queima o coração perder
a sua presença sempre que não posso
estar em frente a mesma tela plana...
Essa descrente jamais dirá que ama..."
Guarda então
que em cada insinuação
enconde-se um sentimento velado
um medo vencido
um pedaço juntado
um sentimento descabido
que foge do controle
derrama pela calçada
interdita a estrada
e vai te buscar em sonhos
com cara de utopia
alegria de realização
e esperança de realidade...
Ah minha vida
Um cavaleiro negro tão longe dessa cidade
Ah meu bem
Da porta pra dentro havia uma tempestade
antes de você chegar
e mandar tudo embora
deixando em mim
um algo que agora
domina meu mundo
e transforma em profundo
universo particular
as causas perdidas
que ainda irei encontrar...
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