quarta-feira, 3 de agosto de 2011

De Pó e de Poesia XXIII


Os ventos...

Os ventos de agosto chegaram
se chegaram porque deviam
se outra estação enganaram
se com outrora se pareciam
se chegaram por conveniência
ou chegaram porque chegaram
esta é uma intransigência
a que não ouso
pôr sugestão qualquer
por ruídos que hoje ouço
a janela martela de segundo em segundo
e o mundo torna-se irritadiço
rangidos de portas silenciosas
silenciosas e inescrupulosas
que me ferem mais que a sua ausência
por clemência
dê-me alguém um coração de aço
que não perca sempre um pedaço
toda vez que tenta fazer o certo
e perde-se no deserto das causas perdidas
Minha vida...
Hoje se te olhasse de outro ponto
a vista seria um conto
de fadas no qual não creio
mas daqui de onde te vejo
entre qualquer das minhas quatro paredes
no meio do meu mundo em profusão
você é tão mais que ilusão
que a mão que toca a tela
pode tocar-me mesmo que dela
não emane o calor que eu reconheço em ti...
Minha vida...
cedeste hoje o brilho que ainda me traz desperto
olhar de menino... Esteve tão perto...
Rufam as folhas e o vento lá fora
escorre a hora em que me és presente...
e a despedida fere
a gota salgada comprimida
a um canto qualquer do rosto pálido
cálido par de lábios que te desejam
como sábios profetas em suas peregrinações
multidões de sentimentos que embriagam
a minha percepção
paixão na tua boca tem som mais doce
não fosse pelo meu silenciar
a gritar quando necessário
que há por tráz da porta
em qualquer linha torta
um corsário pirata a roubar
a privacidade da cela em que quero estar...
o colo que eu quis
mesmo antes de me oferecer
isolo na lembrança como relíquia
profano esta vontade sempre que vejo e ouço
e não posso falar
mas a alma grita
e agora
sei que ela está ali
e esteve a qualquer hora
por sonho, saudade, sentimento
julguei que tu eras o vento
e alimentando mil quimeras
atirei-me nos braços dele
ah quem dera
fosse ele realmente quem eu pensei que fosse
tão doce o toque, a fala, o gesto
tão doce o lábio, sábio sorriso, olhar
tempestade de vento em que me disperso...
falsa loa a que chamam de amor...
atirei-me aos braços do vento
porque pensei ser você
quem sorrindo abria os braços
e prometia me aquecer
do frio do inverno tardio
do frio de viver em vazio
existencial em qualquer primavera
ah minha vida quem dera...
a saliva solvesse
o medo de mim
e absolvesse as culpas
deixando-me assim
apenas temente a mim...
amando até a tua ausência
querendo guardá-lo, sim
amando-o com certa urgência...
sedento, sufocado, sangrando
querendo deitar-me ao teu lado
deixo a gota salgada se derramando
porque ela é mais verdadeira
do que os meus olhos em sorriso
ser indeciso
eu sei que sou
mas do pouco que sei
sei que o vento não levou
o sentimento
que despertou o meu mundo
para o surdo vazio em que vivi
e aqui
onde agora posso sorrir em frente à tela plana
há alguém que ama
uma fantasia real
uma realidade fantasiosa
um sonho com olhar de menino
e palavras de homem
com rosto de calma
intensidade que me consome...
olhar que me leva a crer que a alma errante
que há muito perdeu-se de mim
está nesse instante
a passos assim
como creio que aquele a quem julguei ser o vento
por certo tem a minha metade
aquela que tanto lamento
mostrou-se em realidade
cantando-me em letras sagradas
amando-me em palavras veladas...
querendo-me entre os lábios a proferir...
uma distância que o vento não deixa existir...
O vento me traz...
O desejo do dia em que serei capaz
de dizer eu alto e bom tom
ou sussurar em seu ouvido sem que jamais
alguém possa me supor as palavras
"Eu quero você tanto ou mais do que diz me querer,
posso sentí-lo cada vez que te ouço,
como se não existisse essa distância
queima o coração perder
a sua presença sempre que não posso
estar em frente a mesma tela plana...
Essa descrente jamais dirá que ama..."
Guarda então
que em cada insinuação
enconde-se um sentimento velado
um medo vencido
um pedaço juntado
um sentimento descabido
que foge do controle
derrama pela calçada
interdita a estrada
e vai te buscar em sonhos
com cara de utopia
alegria de realização
e esperança de realidade...
Ah minha vida
Um cavaleiro negro tão longe dessa cidade
Ah meu bem
Da porta pra dentro havia uma tempestade
antes de você chegar
e mandar tudo embora
deixando em mim
um algo que agora
domina meu mundo
e transforma em profundo
universo particular
as causas perdidas
que ainda irei encontrar...

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