quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Prosas que o Mundo dá XXV


Uma sensação?

Demorei pra perceber uma óbvia manifestação do espírito livre do poeta nas palavras proferidas... E pra entender o motivo pelo qual a gente sente cheiros e sabores com os quais não está tendo contato no momento da sensação... Engraçado que às vezes é em uma conversa cotidiana, marcada de breves palavras, limitados caracteres e em tempos desencontrados que este estalo que clareia a mente se dá... Agora eu sei... A chuva é uma sensação que o poeta distante teve em algum momento de seu dia na grande ilha de calor da cidade solidão... Inesperadamente ao olfato, o cheiro de chuva... Sabe o que descobri na sensibilidade do poeta da cidade grande que ama a chuva e sentiu o seu cheiro em algum meio de transporte lotado do espaço urbano? Ah... Tudo o que mais nos satisfaz ou mais desejamos é uma primeira sensação, é um complemento em sensação... A fotografia esperada... A palavra propagada pela tela, o sorriso do movimento distante... Ah! O movimento é o conforto, é o calor, é o vapor... O banho minuciosamente estudado... As gotas quentes derramam-se do chuveiro... Tocam a pele branca sob a moldura negra dos cabelos e os olhos que se fecham dão conta de que a chuva é uma sensação... O chiado da água que esguicha do chuveiro faz um leve vibrar de oceano levantar-se na imaginação... A mente lembra de janelas, portas, poesias, músicas, olhos famintos... Na lembrança: a voz que declara o querer... O ventre pode contrair-se e a água aquecer mais e mais, o vapor tornar cada parede branca um refúgio da ilusão de estar para além da própria parede... Haverá um instante, na chuva em sensação, em que a mente e o corpo quase poderão sentir o perfume do querer que se esvai com a água... Na intensidade de um acelerado batimento cardíaco, a água banha os seios e o mundo para além deles... Haverá a umidade da chuva, a umidade do sentimento, o vapor do calor emanado da própria carne que produz tal sensação... Haverão luzes multicoloridas pela cortina negra que se entender por debaixo dos olhos fechados... Haverá um instante em que a viagem deixará o mundo humano para estar entre os deuses do querer... Um acelerar, um acarinhar, um aquecer, um pulsar descontrolado, uma fúria descompassada, uma sêde sem precedentes varrerá o espírito e, então... Os olhos abrir-se-ão devagar... O corpo relaxado dará conta de que tudo foi uma sensação, mas de que enquanto ela existiu uma alma encantadora que se diz encantada, esteve ali a observar a cena e a sensação que a chuva pode ser... Levanta-te pela manhã e logo verás... O cheiro de chuva é chuva que cai do lado de fora da janela ou para confortar o coração ansioso de quem espera por ela... De que outras sensações poderá, então vestir-se o homem para viver cada ilusão a que se atreve? Desculpe... Não sei responder... Deixo aqui minhas sensações... Mas não deixo meus sentimentos... Cada qual que deixe as suas onde bem entender, contanto que para vivê-las em liberdade não transforme os outros em prisioneiros ou em vidas invadidas...
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Em algum lugar distante daqui, há um homem no metrô e ele espera que a chuva chegue... E ele sente cheiro de chuva ali mesmo, porque a sensação está dentro dele e não importa o quanto ele tente fugir, ela o acompanhará... Ninguém foge do próprio sentimento e nem das sensações por ele reveladas... E aquele que por ventura se aventura a fugir é por medo de ficar e se entregar que o faz... E eu que não quero fugir e eu que já estou entregue... permaneço... Uma sensação? Quem poderá responder?

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