quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur XI

 

Era Tarde Demais...

O grande homem, por algum motivo, olhava para a sua menina, agora mulher, e não reconhecia uma obra sua. Cadê a menina? A menina que sentava-se em seus joelhos e ria das piadas infames que ele fazia, não existia mais. E ele se sentia culpado. Um dia, a velhice não o perdoara com a sua chegada. e agora? Passos lentos e dores lascinantes que feriam o corpo e a alma. Ele gastara a vida e tudo o que tinha sonhando em realizar sonhos impossíveis... Tarde demais percebeu ao seu lado, tudo o que buscara, em eternos aneis de fumaça e confusas noites de embriaguez. Fazia sol em suas tardes e as coisas eram bem mais fáceis quando ele não se importava. E a bem da verdade, ele nem sabia se importar agora... Pensava mesmo, que a proximidade da morte aguçava o sentimento de culpa. O grande homem, já não tinha a vivacidade de outrora, tão pouco os sentimentos vivazes. Ele olhava a cidade acelerada ao seu redor e se arrastava para alcançar o próprio rítmo. Não era mais o grande homem, uma parte da cidade. E, nem a cidade era uma parte dele. Esforçava-se para afastar todos os que o amavam. Sentia que sentir o fragilizava. Então, ia arremessando nas gavetas de coisas inúteis, todos os sentimentos nobres, todos os amores, todos os lugares felizes. Olhar para Laura tão fechada em roupas negras, músicas tristes, artes e lugares melancólicos, fazia lembrar algo que ele queria esquecer... Ver a dor de uma solidão construída transfigurava a sua calma e a transformava em culpa. De tanto levar pancadas da vida, a menina desenvolvera o seu próprio método de anestesiar: o isolamento. Ele via a figura filial levantar armas sempre que alguém se aproximava. De tanto sofrer ela ficara com medo de sentir. Por algum motivo, os olhos encontrados na sala de estar pareceram uma pequena fresta a se abrir na janela... Os muros pareceram mais baixos, por um instante, e logo depois ela virou as costas e saiu. Mas, Laura já não era a mesma menina... E ele já não era um homem tão grande assim. Pai e filha foram perdendo-se em universos distintos... Será que ainda havia tempo? Agora, ela cantarolava, enquanto o chuveiro embalava as palavras entoadas, que se desencontravam com o rítmo da água. Algo nos muros que Laura construíra não estava mais lá. O grande homem, agora velho, retornou ao sofá desbotado... A cabeça entre as mãos senis, a ausência de cabelos... Não são lágrimas que se derramam, porque ele não sabia mais chorar há muito tempo. Havia no coração dele tantos fantasmas, tantos amores, tantas dores, tantos lugares e tantas fugas... Não havia mais coração, nem razão para crer ser dígno de perdão ou amor... "Como as pessoas são tolas" - pensava ele. Chorando e sorrindo, acordando e dormindo, sonhando e tendo pesadelos... Tão suscetíveis, tão humanas... A frieza de sua alma que adormecia de tanto sofrer, era maior do que o próprio desejo de renascer... Era tarde demais... No seu interior sempre fazia inferno, mesmo quando o inverno não se fazia...

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