terça-feira, 20 de setembro de 2011

Amor em pares: Sobre Laura e Arthur IX


A Ordem no Caos...

Na noite passada, o sonho não existira, porque o sono não viera. Laura passou o tempo todo olhando ao redor no quarto sombrio, tentando recortar sombras e transformá-las em imagens que pudessem atrair antigas sensações... Mas, nada fazia sentido e, além da parede branca, que agora ela transformava em obra de arte... Todo e qualquer olhar se perderia em cores furtivas e luzes camaleônicas. Havia certa ordem no caos e ela o previa. Os olhos de Arthur sentado, agora, na velha poltrona, a observar o seu trabalho, tinham outro sentimento. De alguma forma, ela teve a sensação de que algumas nuvens tinham fugido do olhar tão cinza de outros tempos. A surpresa da xícara de chá quente que ele lhe entregará pela manhã, pareceu aquecer a alma, muito mais do que ao corpo gélido. Ela ouvira ainda, passos no outro cômodo, mas naquela manhã a máquina de escrever não fora martelada... Enquanto cantava Frank Sinatra e estampava a parede sem pressa, Laura sentiu-se olhada... Ele entrara de mansinho e permanecera a observar o trabalho, a música, o conjunto, a poesia... Ela não saberia, em momento algum, o que se passava na mente dele. Mas, Arthur, teve certeza de que aquela casa nunca mais seria a mesma, depois que o pequeno furacão de pele branca e cabelos negros, passasse. Não há noite que nunca termine... Não espera que nunca canse... Nem pesadelo de que nunca se acorde... Arthur sentiu um coração menos retalhado pulsar em seu peito, mesmo sem saber porquê, mesmo depois de insones tormentos e tempestades da noite anterior... O gosto amargo de uma saudade, tocava insistentemente o seu mundo... E agredia seus horizontes... De súbito, uma lágrima ameaçou perigosamente a sobriedade dos olhos secos... As janelas da alma embaçaram perigosamente o olhar... Arthur levantou-se em movimento brusco, deixando algumas misturas de cor esparramarem pelo chão... Mas nem percebeu qualquer objeto caindo... Não percebeu coisa alguma... Ele simplesmente não podia deixar que aquela estranha, que tanto o intrigava, visse lágrimas em seus olhos... Então, virou-se bruscamente em direção à porta... Com passos pesados, fez ranger o assoalho enquanto evadia-se do espaço, em que ele se sentia fraco por sentir... Porque Arthur sempre foi assim, desde a infância em que a solidão se fez compania de espera... Ele achava, pensava, sentia que sentir demais o tornava suscetível... Quanto mais ele sentia, mais esquecia de comer, de dormir, de existir além do sentimento... Quando ele amava via a alma leve, voar como pássaro e emitir leveza e ternura ao mundo... Quando ele amava sentia-se melhor, sentia-se mais capaz, mais forte... Mas, e depois? Sempre que um amor se perdia pela estrada, o coração se retalhava mais... E, agora, ele não sabia mais amar, sentir, querer, pensar em alguém... Ele sentia vontade de abrir as portas pra Laura, mas temia que ela também fosse embora, que ela não se importasse... Como nunca ninguém se importou... Do lado de fora da porta, ele sentiu o coração sangrando em ferimento exposto, mas ninguém via, ou ninguém queria ver... E ele deixou que as lágrimas transbordassem o ressentimento guardado. Não quis entender, explicar e nem saber o que os outros diriam.

"Coragem de fugir? Ou medo de ficar? Ele não se importava mais, porque as duas respostas feriam do mesmo jeito..."

2 comentários:

  1. Cresci num sítio no interiorzão de minas. Era um bairro com poucas casas, de recursos poucos para se chegar a minúscula cidade que era mais próxima. Os sentimentos muitas vezes eram guiados pelo tempo, quase eufórico no verão, com idas à cidade nos finais de semana, e com o frio, solidão, com as famílias quase sempre encurraladas em suas casas.
    Os domingos eram sempre da mesma forma. Meu pai as 4h da manha começa a ordenhar, por volta de 7h passava o caminhão para recolher o leite dos sitiantes, trazendo também sempre notícias da cidade. Nossa mãe nos deliciava com o tradicional almoço de domingo, sempre especial que saía da mesmice do decorrer da semana. Os 4 irmãos, professora, agrônomo, advogado e contador, todos com sucesso profissional espalhados por aí. Para o verão de outrora, ar condicionado, para a frio solitário, camas confortáveis com muito requinte. O tradicional almoço de domingo são relembrados vez em quando, nas ceias de Natal e Ano Novo ... Coragem de Fugir? Ou Medo de Ficar? ... Já não importa!!!

    André - Sul das Gerais

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  2. E é de infâncias em que faz verão e união e das que se fazem em invernos frios de solidão que a vida se constrói... Obrigada pela leitura e por deixar suas pegadas por estas paragens... Seja sempre bem-vindo...

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