domingo, 16 de outubro de 2011

Partes de Mim XXXIV

 

Estrelas Pequeninas

Eu sou uma delas 
sem nunca ter sido...
Janelas, janelas, 
portos e abismos...
Eu sou uma delas sem nunca ter sido
uma estrela pequenina, de pequenino riso
de grandes amores aguardados
de vitrolas enferrujadas
sou uma pequena estrelinha
cadente que se apagou
eu sou palavras sem linha
sou futuro que se quebrou
quando a estrela maior foi embora
e eu estou indo embora também
aos poucos
bem poucos
sem deixar ninguém ver
eu olho pros fios azuis
e lembro da possibilidade
que o amigo me fez ver
tenho fio e entrelinha
tenho toda a saudade minha
que a estrela maior não compartilhou
não guardo segredo
não tenho o que guardar
eu sou uma pitadinha de medo
e duas pitadinhas de amar
caindo caindo
até encontrar
o chão uma gota de abismo
um braço pra me apertar
como os dedos da estrela maior
um anjo com medo de amar
um homem que foge dele mesmo
eu fujo correndo a esmo
estrela pequenina que não quer brilhar
fazendo-se estrela cadente
fugindo de medo de gente
que vive a lhe apagar
estrela só quer brilhar
não impede o brilho alheio
a estrelinha tem receio
cansada de apanhar
da vida na hora errada
dos amores que dizem sentir
das mentiras que logo deixam de existir
estrelinha pequenina
cada vez mais pequena será
estrelinha apagada
cada vez mais jogos de azar
estrela não quer brilhar
porque o caminho escolhido se foi...
Estrela está perdida
a estrela maior a deixou
fugiu em meio ao silêncio
e a entrelinha da morte a assusta
cadê a mão prometida?
cadê a herança da outra vida?
o instante, o estouro, a palavra?
cadê o mundo de que ele falava?
amor amor sem amar?
cadê o céu em que propagar?
cadê a luz, da luz estrelinha?
cadê a estrada pela qual caminha outro céu?
são corpos pálidos gelados...
estendidos na mesma cama
do mesmo quarto de hotel...

Nenhum comentário:

Postar um comentário