domingo, 16 de outubro de 2011

Prosas que o Mundo Dá XXXI

 

O Interior do Interior

Parece hipocrisia do homem tentar refletir a leveza da borboleta... Parece ousadia do homem tentar voar como ela...  Mas, em qual dos pontos de vista homens não são hipócritas e não são ousados? Homens brincam de deuses só pra não deixar-se entregar ao tédio. Homens brincam de falar sobre sentimentos que não sentem e dizem amar pessoas que não amam... Homens voam leves de flor em flor sem se preocupar com o que será feito das flores prque pousaram antes... Homens voam como borboletas, mas não são tão inocentes quanto elas... Homens usam as asas que criaram para atentar contra outras vidas, usam as máscaras que criaram para iludir outros homens, usam os amores que despertam para ferir pessoas... Homens criam a química e a transformam todos os dias, mas não aliviam as dores internas. Homens anestesiam quase tudo, mas não sabem anestesiar a saudade e nem amenizar amores que sente-se mais reais que as ilusões de palavras atiradas ao vento. Homens são hardwares e softwares, corpo e alma... Homens nem sempre tem alma, embora movimentem o corpo sobrecarregado para todos os lados. Eles falam demais, como se a quantidade de verbetes lhes desse razão... Homens falam alto, porque pensam que a razão é proporcional ao volume das frases proferidas... Homens brigam por coisas pequenas, não enxergam o que precisa ser enxergado, perdem tempo, espaço e amores, porque não aceitam entregar a parte deles que não é tão boa a alguém... Homens fecham-se em copas quando sentem dores e quando se sentem tristes, fingem que está tudo bem, mentem para o mundo e quando encontram alguém pra quem não conseguem mentir, eles se escondem... Homens são covardes e mesmo quando dizem sabê-lo não tem noção do que isso realmente significa. Derramam suas mágoas nas figuras alheias, perdem o tempo de ter alguém para abraçar, deixam as pessoas que se importam definharem e não dizem nada... Homens não tomam as atitudes quando deveriam e depois, muito tempo depois, eles tentam recuperar o tempo perdido, mas o banho nunca é o mesmo, muda  a água e muda o homem... Eles vingam no mundo os erros que cometeram, não sabem que quando privam a si mesmos estão junto com eles, afundando outros sentimentos e sensações que não seus. Homens sem argumentos xingam e radicalizam, não sabem ser crianças... Homens que fingem ser crianças estão fugindo dos próprios fantasmas, mas eles dizem não tê-los. Homens que sentem culpa, dizem que não se apiedam e não sentem nada... Homens que dizem não ter escrúpulos, reconhecem o próprio erro e, por isso, tem mais escrúpulos do que muitos outros. Homens, são mais humanos e menos conscientes do todo em que estão inseridos, do que pensam ser. São desertas criaturas que ouvem as folhas farfalhando dentro em si, por serem vazios. Enxergam a sujeira no quintal do vizinho, mas não param para limpar as vidraças da sua janela, antes de julgá-lo... Homens, também podem ser mulheres, também podem ser crianças... Machucados por outros homens que não tem percepção do Outro, que não sabem que também são o Outro no espaço de alguém. Homens crêem que o inferno são os outros, mas não sabem quem são... Eles fogem do mundo, fogem de quem lhes quer bem, fogem de suas próprias vidas, privam-se de pequenas felicidades, depois se culpam e tentam voltar no tempo... Mas, não há mais máquina do tempo... Homens esperam as pessoas queridas morrerem para dizer o quanto elas eram importantes, mesmo que elas não possam mais ouví-los. Homens fogem de outros homens, do mundo, da vida, dos sentimentos, alheios, não gostam se expôr misérias, fecham-se em mundos, agridem outros tantos, caem no marasmo de si mesmos... Depois, eles trancam a porta de sua vida e privam os restos da existência a contemplar os próprios vazios e misérias.

2 comentários:

  1. Passar a vida olhando pra fora e procurando o que está do lado de dentro... Os homens são mesmo complicados e eles somos nós... Como resolver, então?

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  2. Penso que fazemos perguntas demais, Líbia... E que fazemos as perguntas erradas...

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