quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Três Pontos Negros XII

 

Cisnes Negros

Na escola da vida, a cortina do tempo desfigurou o intervalo do ensaio... Falta força, sobra tempo... Falta tempo, sobram coisas inúteis, mas que precisam ser realizadas... Escorrem pequenas gotas salgadas de todos os tamanhos, mas já não fogem a meus olhos... É o ciclo... O ciclo que se encerra... Talvez, mais uma vida que se vá... Sem pombos mensageiros ou telas mágicas que dêem jeito nos casos mal resolvidos... É sempre assim: os amores retornam na embriaguez... Triste sina a da menina, já tão mulher que em doses intravenais vê um tempo escorrer e as placas sinalizarem estranhas frações e combinações perigosas, entre dezenas e unidades que não são mais pronunciáveis, porque ninguém sabe de mais nada... Correm as folhas secas em plena primavera, enquanto a chuva confusa combina-se ao sol no fim de tarde com horários de noite. Minha cabeça mal pode inclinar-se, não respiro, não caminho bem, não penso nitidamente... Nada em tudo ou tudo em nada... Na fumaça da usina uma purificação propagandeada, mas tudo ainda é cinza... Risos altos de crianças e tolos personagens que eu nunca escrevi... Adentro no amanhã que virá em um túnel dentro do túnel... O próximo caminho que não é escolha, faz-se ainda mais escuro... Eu não tenho tempo, nem sequer tenho relógio, não sei medir minutos, palavras, sorrisos e ciclos que se encerram... Eu só sei dos fios de cabelo que ainda estão ali e dos poucos que caem contabilizando o líquido gelado que fere as veias... O líquido que não mais o será... Virá o tempo das ondas, aquelas que perpassam o desassossego e ferem alma e, agora, ele está ferido... Há uma fuga sem volta para dentro das páginas de qualquer história medíocre e eu sou a personagem menos evidente... Exponho uma confusão a que poucos podem compreender... Não é filosofia, nem psicologia, nem sabedoria... É vida... É minha vida... É o bagaço do que resta da fruta viva que brilhava nos olhos... Queda livre... Nem grades para libertar impulsionam mais minha vontade... Talvez, eu seja tola... Tola por amar demais o que vai além da minha compreensão... Por tirar muitas coisas do meu usufruir para não deixar faltar a um outro qualquer... Porque não consigo enxergar outros quaisquer... Tem um universo além das telas mágicas e das linhas de voz calma que me visitam... Eu não sei não me importar, mas não deveria fazê-lo... Ele volta com as mesmas notícias... Tristes e cheias de um nada não identificável... É sempre assim, desde a adolescência, e não quero crer que o espírito que me escarnece tenha mudado de face, meu bem... Não quero enxergar em você o escarnecedor que cansou meus sentimentos e dissonou minhas dúvidas... Nada em nada, não há tudo, não há mundo, não há ar... Falta um lar... Mas a poeira da estrada confunde-se aos rítmos latinos e o menino dorme em meu ombro no ônibus da longa viagem... Somos dois seres solitários, eu e ele... O calor da braços que tocam dedos em acidentais movimentos... Certas sintonias que não se explica viram sincronias... Porque não era preciso ser homem e nem era preciso ser menina... Porque era uma amizade que pulsava nos olhos e não precisava de desejo e nem de palavras esmeradas para ser demonstrado.






Passeiam silenciosos e negros, nem sempre tanto quanto poderíamos percebê-los, nem sempre de tamanha brancura e pureza quando esperaríamos... Levemente encobre o horizonte, os olhos aquosos das aves raras... Na tarde do desapego, na noite do eternizar, fechavam-se os ciclos, lançavam-se bombas... Era a queda de um mundo... Uma estrada cujo caminho não era escolha... Espelhos faziam-se lagos... Termômetros febris e portas que sempre estiveram abertas, enquanto você buscava pular janelas...

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