quinta-feira, 3 de novembro de 2011

De Pó e de Poesia XLVI

 

Retratos de Outrora

Eu escondi fotografias debaixo do colchão
Tentação de alcançar palavras que descrevessem
entendessem porque ainda te amo
porque me engano a te buscar
e a me encontrar nessas tantas buscas
ofuscas meus olhares
radares confusos e cartas na manga
Inflama-se a vida
reclama-se o tempo
confunde-se o espaço
não há abraço
não, esperado como o teu
prescreveu-se o tempo
o lamento em palavras que se perdeu
eu roubei retratos
artefatos doados
e que escondi para lembrar
recortar pequenos momentos
reviver históricos e palavras
doces canções de que falavas
janeiro que chega
setembro que se vai
a lágrima cai
reviro o colchão do avesso
há retratos sem endereço
mas tudo é tão simples
eu levanto meus olhos e calo
eu tento dizer que não
tento refazer a canção
tento enganar o sentido
o querer omitido
tento alcançar a mão
estendida ou não
eu que tenho tanto
eu que já não tenho pranto
eu que não abrando sentimentos
que não guardo lamentos
que já não durmo
que descabidamente nem acordo
Eu que transbordo
na trilha de um cometa distante
tão duro quanto diamante
eu que esfrio os sentidos
que consumo razão
que cuspo na perfeição
que me escondo ao travesseiro
eu que visto negro
que me torno passageito
que retorno a ilha da magia
eu que troco a fantasia
por duas frases de ilusão
eu que componho canção
que gasto palavras
reponho instantes
conquisto amantes
amantes de letras
amantes de mim
amantes que não fazem a diferença
aquela que deveriam fazer
amantes que nunca serão você...
eu que não sorrio para falar
porque a notícia não é pra ti
eu que esqueço de existir 
mesmo quando lotados estão meus dias
eu que continuo a fazer-te poesias
aquelas que escondo
junto com as fotografias
as que me deste e as que roubei
eu que um dia despertei
e você não estava lá
eu que quase quis voar
quase agarrei-me aos fios
eu que organizava os vazios
que você veio bagunçar
eu que agora irei acumular
mais um monte de livros e de conhecimentos
eu que me torno cimento
que me faço construção
que transformo quedas em aprendizados
eu que acordarei eternamente
pensando ter sonhado
eu que dormirei ainda muitas noites
tendo pesadelos
estrelas e açoites
E te abraçarei por muitas vidas
hipnoses e sereias que nunca vi
eu que sempre sorri ao te ver
eu que ainda posso perceber
a velha chama no novo olhar
eu que quero te libertar
sem conhecer a força das grades
sem entender qual é a porta
sem o endereço da prisão
Apagar a chama em que ardes
Ressuscitar-te da estranha morte
tocar teu coração...
o que julgas não ter
o que eu quis entender
mas não houve tempo
o horário foi adiantado
o espaço multiplicado
e as flores do jardim próximo
e as flores que me dedicam
e as flores que acarinham espinhos
são apenas pétalas de um sonho
risonho retalho em faces
de onde multiplica-se o amor
de onde a dor não é permitida
de onde toda a poesia
por ti é minha vida...


5 comentários:

  1. "eu que esfrio os sentidos
    que consumo razão
    que cuspo na perfeição
    que me escondo ao travesseiro"

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  2. Poesia pra que te quero? Amo escrever, mas em poesia eu liberto o rítmo real daquilo que sou... A poesia é meu rítmo... Emociona-me também o que escreves senhorita Ana.

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  3. E eu continuo, se me permite, apaixonada pelas poesias que vem de ti.

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  4. E eu continuo apaixonada pelas poesias do mundo... Respirar poesia, um sonho distante...

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