quinta-feira, 10 de novembro de 2011

De Pó e de Poesia XLVII

 

Sobra tanta falta...

Tanta falta de data no calendário...
Tanta falta de tempo no relógio... 
Tanta falta de palavra no sentimento...
Falta sonho, mas sobra lamento...
Varrem-se em gotas um ressentimento...
Sem documento...
O lenço desencontra o laço...
O amor que era poema...
Não mais é abraço...
Desfazem-se os laços...
Os laços de fita em laços de vida...
Poemas dormidos com pão...
Café requentado com tarde de outono...
Falta um novo dono...
Pras velhas notas de paixão...
Faltava composição...
Nem sequer falta mais canção...
Ninguém ouvia...
Nem cantava ou entendia...
Ninguém lia mais...
Cadernos de assinatura...
Cadernos em espirais...
Estrela, palavra dura...
Ninguém esquecia jamais...
Engavetadas as histórias...
Distorcidas as memórias...
Foi-se a tarde...
Veio a chuva...
A chama arde...
Sem mão sem luva...
Desfaz poema, poesia muda...
Cala e consente, reage, estuda...
Sou dama muda...
Fada caída...
Anjo que quebrou a asa...
Sou menino de rua sem casa...
Sou planta, palavra quer ser vivida...
Sou porto de chegada...
Sem ser ponto de partida...
Alma repartida...
Dividida face...
Sou um pouco de quase tudo...
Um tudo em quase nada...
Sobra tanta falta na distância...
Sobra tanto passo na estrada...
Nem de vazio se contempla o nada...
Nem de passo contempla-se o caminho...
Pássaro que caiu do ninho...
Anjo que aprende a voar...
Eu só adio o despertar...
Mas o sol traz retidão...
Nem me calo em vil silêncio
Nem te confesso em solidão...
Dê-me outra canção..
Cante sem que eu ouça...
Liberte esta moça
Das garras do tempo bandido...
Que o olhar comprimido...
De um espaço de lamentar,
Dá lugar a noites infindas
insones por te encontrar.

(Este título é dedicado a Ana Clara Oliveira Magalhães)


2 comentários:

  1. Eu não sou o maior fã de poesia, a Darla sabe disso, mas essa me deixou meio "entorpecido" pelos devaneios que ela disparou... Vale reler, com MUITA atenção e mente aberta.

    Sério... Voei LONGE!

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  2. Acho que eu também voei longe, porque neste dia as palavras e sensações só se encontravam em distâncias...
    Obrigada.

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