quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

As cartas que não mando I


Manoel,

Se você não tivesse tanta facilidade em arrancar as confissões do meu coração, talvez eu não gostasse de me entregar aos seus lábios desse jeito. Não do jeito dourado que você me põe. Não dançando cruelmente a sua valsa de pombos que se encontram no verão. Talvez eu não existisse. Talvez eu não tivesse nascido se não fosse para encontrá-lo em meu futuro. Quanto mais o tempo passa, mais eu rejuvenesço perdida nesse seu amor bandido. Você vai repetindo o meu nome com a voz tão mansa que eu vou morrendo cada vez menos.

Eu brinco em suas pupilas e sorrio sem querer cair em seus braços, mas só porque sei que temos muito a fazer, que temos muito a viver, que temos muito a transbordar perdidos na paixão. Você me cria e me duplica. Você me faz ser mil poemas e eu vou acompanhando seus passos como quem não quer nada, virando menina, bailarina, cigana, sereia. Abraço essa sua causa de se entregar. Acolho como a um romance infantil, a um soldado que volta da guerra aos prantos e se acalma em meu lar.

Anjo, eu sempre aceito o convite do baile, a pergunta sobre os sonhos, o pedido de casamento. Eu sempre aceito o que é seu. E se ainda assim você não me dissesse nada, eu ouviria para sempre as batidas da vida que o seu peito abriga. Se ainda assim fôssemos passageiros, eu viajaria para toda e qualquer terra que você quisesse visitar. Seu coração bandido vai ficar aqui na bancada da sala de estar, para que eu me lembre o quando fui roubada de mim.
Não me mantenha presa, amor.

Carinhosamente,
Pauline.

"Para Mateus Padilha"     


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