quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

As cartas que não mando II

 
 Manoel,

Tanto que tenho pensado em você, me rasgo por dentro por duvidar que você não mereça, que você não é quem eu quero que seja, que eu não sou quem você quer que eu seja.

Eu tenho tanto medo, eu vivo falando isso e você já não aguenta ouvir. Então agora veja. Eu me encolho no escuro do quarto e fico sozinha, sozinha com a nossa ilusão sobre nós. Ou será que sou apenas eu? Sou a única que enxerga retratos além dos fatos, reflexos além dos ecos? É porquê eu não prestei atenção em todas as suas teorias malucas sobre a vida e o amor. Eu realmente não sei. Ficava remoendo o movimento da sua boca enquanto todas as palavras vinham feito granizo. Era bonito, bonito e cortante. Talvez por isso não consigo deixar de lado. O sensível me atrai, ainda que seja dolorido.

Mas eu, aqui, continuo borbulhante e corrente, continuo riacho, cachoeira, continuo véu de noiva, continuo barulho de porta batida com força. Eu, aqui, continuo zíper quebrado, tampa perdida, cabelo cortado. CD arranhado. E você é isto agora, chuva congelada. Mas ambos seguimos nesse tango bonito de quem sabe lidar com os outros. Ambos aprendemos a esperar e é isso, inevitável e natural, o que nos mata aos poucos. Eu gosto tanto de você, mas nunca sei onde esse gostar pode me levar. Nunca sei onde você pode me levar.

Eu não sei nada sobre você. Não sei nada sobre suas teorias amáveis sobre amantes. Eu não sei quem posso ser depois do seu toque permanente. Depois da sua dança, depois do seu estilo que me deixa preocupada com minha própria loucura, seu estilo que me faz pensar que todos somos loucos. Seu estilo que me faz pensar sobre pontos finais, partidas e pessoas passageiras. E eu nunca soube nada sobre o preço da gasolina.

Não sei ir embora, mas também não sei ficar aqui.

Estranhamente,

Pauline.

Dedicado a João Rafael .

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