quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Força do Silêncio IV


O  Passageiro

É um homem distinto, de corpo bem feito e olhos que sorriem... Já leu muito sobre a vida, entretanto, sente não entendê-la... O passageiro lê Nietszche... E é um homem de palavras bem feitas, de traços definidos, de sugestivos olhares e de toques... O passageiro que é homem, que é mestre, que humano se parece, que tem olhos de águia e de esfinge, de Monalisa, de sabedoria e de caos interno... É um passo para o início da libertação e uma palavra para a constatação do que realmente sou... O passageiro é a sugestiva bagagem de vida que um dia quero ter... Ele olha com olhos observadores, críticos... Tão humano que não está para além da tela de um computador... Sereno ao efusivo manifestar de um meio revoltoso onde se encontra... O passageiro, em movimento em relação ao mundo para além do transporte coletivo e em repouso para aquém do mesmo ambiente, tem um justo motivo para ser passageiro... Ele se apega ao direito que deve ser cumprido e aos direitos que tentam lhe tirar... É avesso a revoltas, mas revoltoso quando lhe fiam a vida as mesmas rebeliões sociais. O passageiro que a tantos instruiu e guiou, agora é guiado... Pela necessidade de sentir-se parte de uma revolução, de ver transformado o seu mundo, de ver um povo humilde não mais ser chamado de ignorante, de ter em meios educacionais a real qualidade que se prega em meios de massificação midiática... O passageiro é, sim, um professor, como tantos outros no mundo de meu deus ou na realidade de muitos brasis... O passageiro passa dias em ônibus... Passa noites e madrugadas em claro... O passageiro vê seus sonhos sufocados pelo pó da estrada ou pelo pó de giz... Ele sucumbe aos medicamentos que lhe garantem o resto da sanidade que um dia teve... Ele cheira ao mofo dos livros que as crianças abandonam todos os dias em prol de alguma rede social contemporânea, mas não tem tempo para reciclar os cheiros, as palavras e os sentidos. É um, mas desfaz-se em três períodos corridos e quase ininterruptos... Suas refeições são lanches feitos às pressas ou a comida requentada que lhe acompanha desde a madrugada em que sai de casa... Seus filhos pouco lhe tem mesmo em fins de semana... Seus alunos são também filhos de mães que não tem tempo ou de mães que nem existem... São seus pacientes, seus confessores, suas construções diárias, são seu norte, sua sorte e seu cotidiano... O humano professor e passageiro tem que se preocupar com a sua família, com o seu trabalho, com a sociedade, com os caminhos que a educação tem tomado, com cada reclamação, suspiro, sussurro e até com fantasmas que não lhe cabem... Mas... E quem se preocupa com ele? Em outra madrugada levanta-se o homem, por vezes herói, com suas refeições por requentar, com seus inúmeros livros e diários, com sua paciência proporcional aos meios em que obrigatoriamente se insere, preocupação com a família( sua ou dos outros), leões e feras indomáveis por combater... Alheio ao descaso e às derrotas sofridas eternamente por ter escolhido o seu caminho... Mas, entre os carros, os homens de todos os dias, as buzinas, as muitas falas e balbúrdias, os papéis que se confundem entre seus braços, a falta de coragem que abala outros e não os deixa seguir seu caminho: ele SOBREVIVE... Porque seus dias só podem ser chamados de SOBREVIVÊNCIA, formando homens que não são capazes de enxergá-lo como a sua base e rastejando, porque aqui não cabe aqui outro verbo, por direitos que a própria justiça lhes assegura... E vai-se pela vida o homem, o passageiro, o mestre... De desconhecida origem e desconhecido rumo, com a certeza de que seus moinhos de vento mais se parecem gigantes, mais se parecem percalços, mais se parecem problemas, mais se parecem muros intransponíveis... E com a esperança sempre estampada no olhar... Que brilha mesmo em meio ao caos e que espera, vir de algum lugar, o reconhecimento que ele nunca pediu, mas que sempre mereceu.

4 comentários:

  1. Li, adorei e passarei desde já a ser leitor dos seus textos, que por sinal são lindos, parabéns, irei segui-la e.. quando puder der uma passadinha no meu outro blog de poesias

    www.umtalpoeta.blogspot.com

    valeu, parabens e bjos
    Onde descobriu o blog supercronico?

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  2. que legal, posso add vc nas suas midias virtuais pra gente trocar idéias, sobre textos e outras coisas (twitter, msn, facebook) ???

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