quinta-feira, 21 de julho de 2011

De Pó e de Poesia XXI


De vento...

Posso tê-lo amado desde o primeiro instante
mesmo não lembrando dele...
Desejar tocá-lo, sentí-lo, amá-lo...
sem precisar que tivesse um rosto de que me lembrar...
Palpita em meu sonho, um sonho de infante...
No frio do inferno, algo queima a pele...
perdido em delírio, ante o sono a imaginá-lo...
com olhos sorridentes onde a ira ele diz guardar...
para revelar a luz da lua
a nua situação que se esconde além da aparência...
por clemência não seja tão doce assim
porque em mim o vazio se dissipa
e o que fica pode amedrontar...
De cima do muro eu temo cair
sair de mim mesma e fugir
desencontrar a última lucidez que equilibra
a vida que penso levar
açoite dos ventos que querem gritar
que o tempo é tão rápido
não deixa pensar
e a solidão por hábito é algo a abandonar
o próprio solitário...
se me perco por te achar...
se me acho em um olhar...
que ainda nem sei se conheço...
se pereço pela vontade de fazê-lo...
desejo que a longa distância
seja uma linha imaginária apenas
que os moinhos de vento se tornem reais
se tempestades iguais a outras vierem
que possa esta confusa criatura
dizer que não foi inerte
que agiu
mesmo que em fuga
...
que foi alcançada antes de chegar a estrada
que ao nada da incerteza a levaria
poesia? o que escrevo apenas cospe sentimentos
que não suportam mais a prisão...
mas que apesar da imensidão em que se dispõem
permanecem sem direção...
ou talvez... não...
não mais haja o incerto objeto...
*********************
Guarda que as unhas pintadas de negro...
desejam cravar-se à pele nua...
como se disso dependesse seu existir...
guarda que os olhos nem tão negros, de negra aparência
precisam de uma essência que os sustente
que não aguente um único desvio...
se triste estava nessa tarde pelos infantes abandonados
dissipou-se este vacilar no momento em que me tocaste
sem verdadeiramente o fazer...
porque o que faz sentir, não precisa ser palpável...
físico, material...
as rimas que fogem...
a incapacidade de pensar em outros sentimentos de que falar...
se o fizesse mentiria até para mim...
assim não haveria verdade
nem haveria palavra...
nem sentido..
nem sonhar acordada...
nem letras cantaroladas a todo momento...
não haveria o respirar profundo...
não se discutiria a janela...
e ela seria apenas mais uma peça cartesiana...
não se leriam entrelinhas
não se daria a pressa
a cada momento longe da rotina..
não haveriam tantas vontades e receios...
e nem a possibilidade...
de que o espaço seja apenas a ilusão
e que o abraço dissipe a solidão...
aqueça o frio
e faça florescer sorrisos tolos
suspirar amores...
admirar paisagens...
e transformar-se em passagem 
do tempo em que me fiz sozinho
para o tempo em que me fiz amante...
na desconstrução do caminho
no sonho que faz raro o instante..
em que a palavra lhe escorre pelos dedos
e torna meus medos pequenos fantasmas...
falavas então que eu sou poeta
profeta então fizeste sonhar
a esta mulher que eu quero ser ...
pelas paixões que duram a eternidade de um segundo
contado no relógio do tempo cartesiano
pelas vontades que fazem girar meu mundo
por qualquer dia, mês ou engano...
já valem sorrisos, ainda que tolos...
já valem os sonhos que criam sorrisos...
já vale a palavra que cria o sonho...
já vale sentir essa imensa vontade de atravessar o vazio...
para ver o que tem atrás da porta
e em linha torta... 
ousar inferno ou paraíso...
se a insegurança me segura aqui
há de haver em mim algo que me levará
ou me trará
no tempo certo
sem pressa ou medo
o toque, o gesto, a cor, o sentido
e a solicitude para sermos nós
ainda que um mais um
para sermos nós...
quiçá que dois...
para sermos nós...
sem fronteiras...
físicas, imaginárias...
ou apenas...
Moinhos de vento...

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