quinta-feira, 14 de julho de 2011

Prosas que o Mundo dá XXIII

Diário...
























Quando Maria abriu os olhos não reconheceu o que a cercava. Nem as cores, nem a estrada, nem coisa alguma que poderia ter conhecido anteriomente... Se existisse o anteriormente ou o conhecer... Os sentidos alterados e ela não via, ou pelo menos não com os sentidos convencionais... Sentia um vento gélido, cortante a tocar-lhe a face... Mas não reconhecia a dor e ainda menos o frio...A primeira lágrima que derramou quando a segunda rajada de vento alcançou-lhe foi apenas uma gota de água salgada de fugiu-lhe dos olhos... Mas o que era gota, água ou sal ela não sabia e seus olhos desconhecia. O primeiro pingo de chuva (gota de água doce a saciar os lábios sedentos) foi um lampejo de felicidade naquela escuridão... De nada valeu mesmo assim se o que era pingo, o que era doce, o que eram lábios, o que era sede... eram apenas folhas soltas ao vento, eventos não compreendidos... O primeiro passo foi um tiro ao abismo, os pés vacilaram, os pedregulhos ao contato dos pés produziram um som chiado com cara de chuva e poeira de seca... Os braços tentaram segurar em um algo qualquer que não existia, ou cuja presença era sentida mesmo em ausência física...Da segunda vez que Ana acordou, sentiu a maciez dos lençóis e o conforto do quarto de dormir... Ali teve a sensação de estar em um lugar qualquer com um algo com cheiro de lar... Soube no mesmo instante que a cegueira negra de tão recentes dias após o trauma automobilístico poderia ser uma porta de passagem para aprender a enxergar o que os olhos jamais poderiam ver...

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