sábado, 23 de julho de 2011

De Pó e de Poesia XXII


Se vier...

Se vier que venha livre...
Diferente de tudo o que tive...
Mais intenso do que tudo o que vivi...
Razão pela qual existi
enquanto a onda não cabe
enquanto o amor não descabe
enquanto é noite em mim
enquanto me sinto assim
em busca de um som, solidão
enquanto te tenho em canção
no verso desprendo o abismo
na vida poesia e sofismo
andante de triste caminhar
a muitas milhas de te tocar
mas quero estar defronte a seus olhos
negra calma de meus sonhos
paraíso desfolhado
nas lágrimas em que me alago
deflagro versos quaisquer
e se o dia vier
em que te tenha a mais que um sorriso
de trás de qualquer móvel deslizo
e te aviso que eu choro
e em palavras me demoro
e se só me sinto isto é normal
como meu vício, meu ritual
minha pétala desfolhada, 
meus passos em sua estrada
nos olhos famintos, água salgada
só não te minto, porque me agrada
cada palavra que derramas
cada momento em que me chamas...
pela canção ou por palavras
pelos escritos dos quais falavas...
nas entrelinhas que não decifrei...
nos tantos livros que ainda lerei...
alma sombria faz-se em desbravo
a cada respiro eu me agravo
a cada contexto em que exponho
porque antes de dormir te sonho
e se Morfeu é metafórico
pressinto meu eu eufórico
como seria então te encontrar?
se em meia noite ou meia luz
se em poucos versos em que expus
meu erro de ser assim
minha ousadia de tê-lo em mim
quebrado em pedaços
dividido em espaços
que ninguém quer ocupar
...
guarda que se te espero
ou se te quero é também por mim
não desminto egoísmo
mas o teu anti-heroísmo
fez meu mundo dissipar
estrelas pra iluminar
mesmo se o céu é nublado
e se a nuvem em que me acabo
também fugir do luar
tentarei no seu olhar
enxergar uma alma inteira
existente ou traiçoeira
longe ou perto estará
muitas vezes calará...
mas quando falar que seja
quando me olhar que veja
 a pele branca em que me escondo
que se ainda estou expondo
meus olhos negros de olhar
é porque a cortina negra 
dos cabelos sobre o rosto
já não nega o meu desgosto
já não oprime meu falar
e a massa negra de homens que dança
com lobos e tantas forças de expressão
são guerreiros que empunham lanças
são bobos que calam o coração
criaturas descabidas
infelizes e feridas
sem coragem de acertar
são estrelas pequeninas
minhas tantas frágeis linhas...
meus segundos a esperar
que a corda que aprisiona
que o impulso que me impulsiona
não me impeça de libertar
o grito que tenho preso
o silêncio em que as vezes me esqueço
minha vontade de consertar
o meu mundo de solitária
e a cruz imaginária 
que eu creio carregar
abandonar a salvação
 meus braços insistem nessa ilusão
 sem que eu mesma vá me salvar
se a mão que tens agora
for segura nesta hora
em que eu disser adeus
plantarei nos braços seus 
a minha vontade de estar
para além desta fronteira
porém com eira e com beira
qual telhado da modernidade
qual confusa tempestade 
dos tempos de adolescência...
de tantas frágeis demências...
nem sei o que faço aqui
tudo o que passa por mim
tudo o que quis foi engano
podia fugir
mas medo de ficar é inconveniente
tenho mais medo de quem mente
solitário é o coração
que compôs esta canção
e escondeu dentro de mim
esperando que assim
eu jamais fosse encontrar
meu motivo pra voar
meu caminho pra seguir qualquer estrada
minha vida encontrada
ou perdida em cada esquina
perdida está a menina
que cresce dentro de mim
colhendo o esperado fim
feliz era o que queria
mas sabe que a utopia
cedo ou tarde se desfaz
e morre a estrela guia
que era estrela cadente
mas depois do meio-dia
tornou-se mais um demente
em passos desencontrados
em tristes poses e afins
querendo ter consertado
o que quebrou dentro de mim
e quando não estais
a dor de meus "ais"
sufoca segundos
e transforma o mundo
num fosso de escuridão
em que me pego imaginando
o mundo transfigurando
 a vida sem salvação
guardada a estrela guia
 que era estrela cadente
querendo te ter a frente
de meus olhos em letargia
repito insanamente
o que é mentira não mente
se acreditas ser verdade
e essa verdade me invade
e queima meu corpo no inverno
e arde em chamas de inferno
uma saudade do que não sou
querendo tua presença
pra desfazer minha crença
de tua suposta perfeição
porque se assim o crer
eu desejarei te ter
ainda mais que a ilusão
da utopia de ser feliz por um dia ou uma vida
ou uma canção antiga
que mato ao violão
na tarde não tão azul
de um dia não mais tão quente
em que te fizeste ausente
quebrando meu coração...

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