terça-feira, 26 de julho de 2011

Partes de Mim IX


Segunda-feira...

Ah, meu bem
desculpe se as palavras podem me faltar
Mas tem coisas que só o ato explica
preciso ir além
preciso me calar
pois qualquer palavra é menos bonita
perto da intensidade do dia
do sorriso no olhar
das palavras do homem do espaço
que o espaço impede de abraçar
esperas que eu sorria
mas como posso evitar
querer-te a mais que um acaso
querer-te a mais que um olhar
eu vejo o menino pequeno
triste, doente, explorado
ouço todas as vozes do mundo
mas não permaneço sereno
há em mim um ser machucado
pelo sentido mais profundo
que os meus dias
tão sem graça têm tomado
como um afago
ou instante
que não obstante
ao vazio que ainda sinto
irá transformar uma lágrima de inferno
e tristeza
em um paraíso onde a beleza
dos teus lábios é o mais doce e terno
repousar d'alma cansada...
na estrada em que me perco tudo é confuso
palavras, pessoas, papéis, ilusões
mar de conhecimento 
mar de afagos e de saudades
dói cada vão momento
ferem-me as vaidades
forçam-me ao amor
ferem-me com paixão
 e então eu o verei de que cor
ouvirei em qual canção
tenho sorriso dissimulando a dor
eu sou só alguém que vive de solidão
não tenho portão
trancado o porão
pulei janelas
arrombei portas
feri meu coração
caí de muitos abismos
vivi de muitos achismos
se pequei foi contra mim mesmo
por insistir em andar a esmo
quando sabia que não era ali
que eu realmente queria estar
se calei o que sentia
se menti tudo o que via
se hoje choro quando falas
se me apaixono por palavras
se escrevo o que calo diariamente
se o sentir explode e dentro da gente
derrama-se líquido e quente
e denso e molhado
e desfaz em fios de saliva
cada mau grado
um sol adormeceu antes da hora
e agora a noite já não é tão fria
eu poderia fingir que não existe
mas persiste dentro em mim a tua voz
ai de nós que não nos ouvimos
que apenas sentimos num instante
amante em que me transformo
deformo meu ser , reformulo meus atos
e pouco sensato que hoje sou
vou ter contigo além da vida
além da partida ou da chegada
na estrada ou em qualquer gota de chuva
luva e mão, navio e chegada
pouco agrada não poder tocar-te então
sensação de sonhar algo impossível
sensível então despeja-se a lágrima
contrai-se o rosto
nos lábios o gosto nunca sentido
o amor escorrido com o tempo
o lamento, a espera, o calor
faces de um mesmo amor
cores, sentidos, distâncias...
sutis relevâncias...
quando sinto, penso, refaço e desfaço
meus sentidos no espaço de um tempo qualquer
eu sou aquela que tudo teve, mas que tem em você um algo especial
quem não pode ser igual a nada que ela imagine
ela oprime palavras e sorrisos e olhares,
mas há dentro em si um bater mais forte
um calor mais quente
o traçado de um novo norte
a sede, a ânsia, a necessidade latente...
das mãos que deslizem em seu rosto
do gosto da pele tocada
olhar, tempestade e desejo...
ensejo triste e saudoso em que se desfaz...
partido em mil pedaços
o pequeno coração apenas pulsa
fraco e frio
esperando que lhe aqueça
a alma quente do mago distante
o sopro, o toque, o hálito, o sentido
que o olhar reprimido
e tudo o que não foi falado
se dê no silêncio
no toque
na pele
escorregue pelas linhas imaginárias do seu corpo
e faça-se pousar em braços quentes
e olhos de afago
dedos de carinho e sorriso aberto
que expulse este deserto
que dentro em mim ainda trago...

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