domingo, 28 de agosto de 2011

De Pó e de Poesia XXXÍ


Cada mês tem seu gosto...

Agosto
o mês do desgosto?
cada mês tem seu gosto
quem faz o gosto do mês?
quem faz o mês que te fez?
o gosto depende da espera
o gosto depende da quimera
do sonho que você alimentou
se chega em primavera
o diamante que a lapidou
se a mente em seu quem dera
gostar do que não gostou
agosto é ponta de faca
agosto é palavra afiada
na boca de quem falou
nas mãos de quem afiou
mas bem que prefiro inverno
tirando-me do inferno
do calor dos dias de sóis iguais
de muros, paredes e sonhos reais
e bem que se chega setembro
da primavera nem lembro
um motivo para sorrir
um sorriso pra se cumprir
a estação dos amores
que respinga o mundo em cores
nos amores que há por vir
quem quer sorrir quando tem frio
quem terá no olhar vazio
o prazer do dias cinzentos
dos odores bolorentos
das cores de triste fim
bem sei posso estar errado
mas entro em desagrado
se a primavera passa por mim
posso deixar dela um pedaço
posso perdê-la em meu compasso
desprendê-la de meu espaço
de meu abraço vazio
haverá um dia arredio
na caverna do existir
de frio de sorriso louco
de loucura muito pouco
amor tornado real
e mais dez dias de espera
pra se chegar primavera
que não chegue o carnaval
porque carnaval tem seu fim
e cada um é um
e primavera sempre estará por vir
em paisagem comum
o meu agosto
tem o gosto
da espera de um distante
o meu agosto se dissipa a todo instante
é feito de amores e amados
de malas e mensagens
de grandes almas amantes
de mudança de paisagem
meu agosto é feito de trilha arranjada
de dias, de madrugadas
de sonhos e de palavras contadas
de lágrimas derramadas
frágeis gotas salgadas
banhando a imensidão do rosto
a imensidão do gosto
da alma que o mês de agosto
renovou mais que a primavera
e eu vi a esfera
branca que posso entender
pairar no céu
que agora não posso ver
eu vi a hora se arrastar
quando você não quis chegar
vi a noite se esconder
o dia escurecer
a alma amanhecer
eu quis te crer
e de tanta fé te faço real
anjo desigual
calmaria em seus olhos
setembro chega pra matar minha saudade
desfazer a tempestade
com olhos de calmaria
setembro é alegria
e nada tem de mim a flor
não é setembro que me faz amor
não é o mar
que me faz amar
não é a ilha da magia
que me faz poesia...
tenho roupas negras sobre a pele
tenho a alma leve
metade de mim já está na estrada
tenho uma saia listrada
e uma bolsa a tiracolo
eu viajo por teu colo
me perco em teu suor
te tenho em cama vazia
setembro será melhor
 não há mais que alguns dias
pra que tudo que foi poesia
possa parecer real
e então haverá espera
tristeza fará quimera
em um mundo abissal
um sonho de amor perfeito
um calor que aqueça o leito
um som que não é passageiro
assim que abandonar setembro
sei tudo de que me lembro
é da espera por janeiro...
uma alma
que se acalma por você
um mês, um ano, um porquê...
quem sabe onde vai
quem sabe porque cai
nos gostos de um mês qualquer
no desgosto de uma unha mal pintada
no descaminho da estrada...
assim me parece agosto
um mês que tem o seu gosto
enquanto há proximidade
um mês me leva a cidade
perdida no litoral...
mesmo que só setembro
tenha-me nele em real
viagem de qualquer sonho
estrela de céu risonho
um anjo, o sol, um verão
em noite, em tempestade
três dias de eternidade
ao lado do amor perfeito
aquecem-se colos e leitos
deitam-se amores ao chão
não faz verão..
nada é de verdade
mas a ilusão
que o peito invade
aquece mais que o calor
ama muito mais que o amor
despeja palavras
por não te ter
refaz quimeras
em que é você
a estrela derradeira
de um céu de qualquer mar
a conjugação primeira
para o meu verbo amar...
Agosto?
Tem o gosto de te dizer
que você irá entender
em setembro
pelo que me lembro
porque tenho tanto querer
guardado dentro em meu peito
dentro em meu mundo derradeiro
e porque retornarei janeiro
para poder te mostrar
não há amor sem saudade
mas nem só de saudade vive o amor
e o nosso viverá da paisagem
da praia, do museu, da flor...
canhões a beira mar
o nosso viverá a buscar
uma nova poesia
nas mesmas páginas de antes
e a terra de alegrias
com seus faróis tão distantes...

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