domingo, 28 de agosto de 2011

De Pó e de Poesia XXXII


Quando você não está...

Quando você não está
a alma se rasga e o vazio
faz-me um ser arredio
e as gotas salgadas
fogem de mim
correndo em tantas estradas
em gritos de amor sem fim
a ausência é a faca
a ausência é a espada
a ausência rasga a pele
fere o espírito
é uma força oculta
uma certeza ilimitada
não há beleza que perdure
nem tristeza que resista
quando você não está
e quando não deixa pista
a vida corre vazia
o dia não tem alegria
a noite não tem calor
o banho não tem vapor
não tem cor nem tem sabor
o sonho, o céu, o cobertor
se você não está
eu não sei falar de amor
eu perco a paz e a ternura
eu me ponho em tortura
eu mesma condeno o mundo
eu mesma mergulho em profundo
abismo de escuro existir
eu mesma não sei sorrir
quando você não está
me preocupa como estará
com quem estará
onde estará
me preocupa não poder te cuidar
eu temo as paredes que te cercam
eu temo as bocas que não te libertam
quando você não está
não adianta a fotografia
eu não sei fazer poesia
não sei brincar de existir
longe da sua palavra
eu sempre me sinto cair
eu forjo meu dia em apego
eu não tenho mais sossego
cadê a leveza? não tenho ternura
a minha doce dúbia loucura...
longe de você nada perdura
tempo suficiente para ser melhor
tudo parece pior
sem som, sem sombras, sem nada
não há tudo de que falar
não nada de que lembrar
nem abraço pra confortar
quando você não está
a estrada se faz açoite
a insônia invade a noite
a saudade me faz arredio...
a vida me veste de vazio...
quando você não está
amor é só uma palavra
uma poesia de que falavas
um grito em qualquer boca
uma palavra em frase qualquer
nada faz sentido
nem tem o mesmo gosto
nem tem a mesma harmonia
falta a sincronia
o instante da espera
que se prolonga
afunda a quimera
em vã e triste ronda
pelo espaço que me separa
pela alma que não findara
mas despe-se em gotas
em lágrimas marotas
que nunca avisam quando vão cair
quando você não está
eu esqueço de existir
quando você não está
eu não sei mais sentir
cadê o abraço?
a palavra que desfaz o espaço?
cadê você?
não há "olá" e nem querer...
quando você não está...
o vento se envergonha
a tarde se espreguiça
a noite é movediça
qual areia a me derrubar
quando você não está
ninguém percebe
mas todo mundo sabe
porque o meu andar cede
ao espaço que não cabe
em minha alma de saudade
eu tenho olhos tristes
eu tenho bocas em riste
tenho ácida reação ao mundo
quando você não está
eu tento mas não consigo
levanto e as vezes sigo
mas são palavras ao vento
que no convés do sentimento
brincam de imensidão
quando você não está
eu não sei fazer canção
as cordas não amam os dedos
as teclas não fazem refrão
a ausência refaz os medos
a saudade aperta o coração...
Quando você não está
as cortinas não são entrelinhas
e as estradas por que caminhas
não parecem com esta canção
Mande um sinal de fumaça
um sorriso, uma palavra, uma carta
um cartão postal
chegue ao meu portão,
invada o quintal 
Ah... Meu bem...
Será que você entende
que eu levanto tantas máscaras
mas que o olhar não mente
não sei fingir
não sei sorrir
se não te tenho
Não há alma tranquila... 
eu posso me amar
mas não posso não lembrar
não posso não querer
demorei tanto pra não fugir
agora me custa existir
custa não fugir da tempestade
da manhã e da tarde
em que você não está
preciso encontrar
o espaço em que será meu
liberte esse anjo seu
esse anjo negro que te necessita
esse anjo de calma infinita
que chora cabisbaixo e escondido
quando não encontra seu rosto
quando ainda não sente o gosto
Meu amor...
Meu bem...
Meu céu de calor necessita de ti
minha alma de amor
precisa de ti
minhas noites frias te esperam
meus medos infantis te esperam
meu abraço sedento
quer te devorar
meu lábio meu silêncio
precisam te provar
ah, meu... quando você não está
não há gota de saudade
que não transforme em tempestade
essas gotas salgadas a se derramar...

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