sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Partes de Mim XXIII


Feito de saudade...

Chega de mansinho se arrasta e se debruça
...
e expulsa tudo o que não é meu
esmiuça minhas palavras
renova minhas ideias
refaz meu pensamento em epopeias
e eu sonho
e eu me ponho a perguntar
onde estará e o que fará
quando não te tenho
e sempre que venho cedo
ou tarde demais
há uma parte de mim que se perde
e que se percebe em saudade
guarda que maldade é não te ter por um minuto 
do meu dia 
guarda que maldade é ter os segundos 
fugindo da harmonia de te encontrar
a fotografia ainda tem teu olhar
mas meu corpo pede
o calor das palavras
pede os encantos de que falavas...
a lembrança perde-se em datas
e encontra-se nelas
a lembrança planeja janelas
o desejo agora quer cortinas...
o abraço deseja você
o desejo pede abraço, pede sussurros
pede vapor, calor, coração
o desejo quer tirá-lo da cidade solidão
ele viu o céu nublado
agora quer prová-lo, mas azul
quer soprá-lo em ventos do sul
ao pé do ouvido
de rosto colado
e lábio comprimido
agarrar-se aos dedos
libertar meus medos
entrelaçar em mãos
consumindo o espaço que separa
a porta se fecha
o mundo pra fora dela
entre nós não existem mais janelas
e agora?
o que faremos?
já é hora
a hora que a espera fez parecer distante
hora de ser amante, de ser amado
e agora?
quanta demora se dissipa
tão mais bonita me parece tua imagem...
no faz de conta dessa tarde
tua imagem tinha cheito
tinha gosto 
tinha beijo
tinha rosto
e dissipava todo o tédio da aparência nublada
no espaço em que
a música divagava meu ser
os olhos se fecharam
o corpo relaxou
e lembranças de quimeras
de por vir e de "quem deras"
invadiram a cortina negra dos olhos fechados
haviam ali passos mal contados
a espera de um avião
o mar quebrando na estrada
a viagem e a pulsação acelerada...
o homem de preto nas portas do mundo
um instante de acelerada ansiedade
felicidade...
olhar com olhar encontrado
tocam-se os dedos, juntam-se as mãos...
abraçam-se os seres em silêncio
no calor que encontra um corpo ao outro
o recuo do abraço aconchega-se
em um beijo silencioso
vital, intenso, 
imenso sentimento de retorno ao lar
de retorno ao campo prometido
o profundo respirar denuncia a vontade
saudade do que nunca tiveram...
há uma curta estrada
e depois calada adentro
às quatro paredes e tento
apenas tento, não parecer apavorada
por não saber onde pôr as mãos
e nem saber o que dizer...
mas não dirá nada também...
o olhar encontrado ao meu
sabe do que preciso...
não há indeciso destino
no caminho que escrevo enquanto o trilho...
pega-me pela mão...
leva-me ao leito do descanso...
acalma meus medos sem palavras...
e quando eles se dissiparem
sussurre cada uma delas
como uma prece...
uma poesia
na harmonia consentida
dos corpos em descabida dança...
inconstante, real e quente
como o vapor de outrora...
é hora, meu bem...
meu bem mais precioso
é hora de cravar unhas...
de tê-las em negro parecer...
é hora de dizer o que não foi dito...
hora de fazer o que não foi feito
hora de aproveitar o retorno ao lar...
o contorno dos corpos na ilha
olha pra mim com aquele olhar?
aquele de calmaria
que me faz parecer tola
deixa-me acarinhar seu rosto
dá-me teu gosto
prende teus dedos
aos meus cabelos...
 devora-me em pedaços
que o espaço não te deixará perder...
mordidas e palavras...
descabidas e insensatas...
mas elas quase nem importam mais
se você está...
elas apenas repetem a sua presença
elas apenas reforçam aos meus sentidos
os desejos reprimidos
e os lábios comprimidos
e a saudade que me fez quimera
na tarde em que, quem dera,
gotas de chuva te fizessem presente
e a tua presença ausente
tornasse minha ida ao leito
em apagar do meu defeito
o mais grave de todos
que é não te ter mais perto
e o inferno não são os outros
é a tarde...
a nublada sensação de que não estais
a lembrança do que jamais
aconteceu nesta vida
e a certeza quase indevida
de pensar que isso já foi real
e na normalidade das datas
o reencontro trará a saciedade
da minha sêde de você
e dos dias em que tento me convencer...
de que será rápido o tempo
passando até você chegar...

Disse o Mago: "Paz e paciência"...
Respondo a ele: "Difícil ter qualquer um dos dois na constante espera de sua chegada..."

2 comentários:

  1. Darla

    que a poesia continue nos puxando pelo braço
    e enfeitando nossa alma com mil e oitocentos fios de ouro doce.

    Gostei do teu pulsar poético.
    abraço de conduta terna.

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  2. grata pela gentileza das palavras e pela sensibilidade que te deixa perceber um pouco de mim que se coloca em palavras... Obrigada... Sempre haverão portas abertas e coração sereno por aqui...a visitas e a visões que inspirem poemas e reflitam o sentimento...

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