quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Partes de Mim XXVIII


Do outro lado...

Quando a voz do outro lado da linha telefônica diz "Olá" é como se todos os medos de outras épocas, permanecessem lá, épicos, quase fantásticos, quase improváveis de terem existido. Quando os elogios referem-se aos meus olhos, eu penso em falar do fascínio que o desenho dos seus lábios me causa, mas eu me calo... Cansei de falar e de derramar palavras pela vida afora, porque a própria vivênvia ensina. As palavras nunca serão suficientes para dizer do sentimento, para descrever as paredes, para fazer do calor ao seu olhar o que ele é ao meu ou como ele age em mim para além do que os olhos podem enxergar... Eu corro contra o tempo, por um segundo a mais com você, mesmo que em metafórica presença, tão real... Na impressão de que levantar os braços é poder te abraçar, eu brinco de apostar com o relógio, o quanto o calendário pode prolongar estes dias. Escolhas? Eu escolho, sim... Escolho estar aqui! Aqui onde tenho você tão perto a ponto de respirar lento e profundo e desenhar um sorriso na palidez desse rosto com moldura de cabelos negros... Nem sabes da força que invade cada milímetro em mim quando escreves em amor, quando dedicas a canção, quando há olhos de calmaria ao me olhar... Eu vivo em dias difíceis... Difíceis de passar sem passar por você, sem te perceber me percebendo. Mais vinte e quatro horas e menos um dia... Calendários, relógios, redes sociais e todo o universo de números que já amei e aos quais já fui indiferente. Envolvo o meu corpo ao cobertor quando está frio e penso... Só enquanto não posso transbordar em líquido o afeto e a distância melindrosa que potencializa este querer. Querer que quer um ser com mais sêde do que quer o mundo inteiro para si... Envolver-me ao cobertor e pensar em amigos distantes e abraços adiados é um aprender contínuo. Aprender um novo rítmo, novos horários... Aprender as datas, as músicas, os olhares, minhas palavras e escrita... O que há implícito em cada ato e fato em si... Ninguém precisa gritar ao mundo se puder ouvir o próprio coração... Ninguém precisa medicar a ansiedade quando se permite fascinar, quando se permite a docilidade, a ternura e a calma de uma tarde chuvosa e fria... Ninguém deixa lágrimas de dor fugirem dos olhos, quando sabe quem é, confia no que é e aprende a afastar vidraças e cortinas para melhor observar o mundo ao redor... O mundo pardo que enxergamos é consequência dos entraves dados à observação... Hoje sou menina: olhos que brilham, coração que acelera, mãos geladas, coração aquecido... E sou mulher: confiante, segura e adulta... Ou talvez eu não seja nenhuma das duas embora sinta-me como ambas poderiam se sentir... Tenho a coragem que voltou e não aquela que sempre me fez fugir por medo de ficar. Vive dentro em mim uma mistura de mente e coração, de pensamento e sentimento, de força e docilidade... Esse mundo me diz que a coragem deve manter-me onde preciso e quero estar e, não, fazer-me dar as costas ao que mais quero. A contagem regressiva tem mala, destino e ansiedade, mas também leva na bagagem um mundo de perguntas que nenhuma explicação verbal conseguirá responder. A casa vazia, as quatro paredes, o cheiro de chuva prevêem você chegando em cada sonho que te faz mais próximo... Não há datas marcadas e nem horas, mas a cada respirar sinto a proximidade... Em gritos ou sussuros, em palavras inaudíveis, posso sentir o quanto o querer me faz melhor...
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E veio o homem
Fez do vilarejo minha cidade
fez das calmarias a tempestade
fez torto o que era direito
e presenteou com indiferença
o que todos julgavam perfeito
veio o homem
travestido de mago
em palavra que me consome
em terno afago
Pediu-me uma estrela
e deu-me o mundo
perdi-me ao perdê-la
fiz jogo profundo
de aproximar
eu quis mais te ver
e quis te olhar
incertas convicções
estranhas ilusões
que rasgam entranhas
arranham as costas
ferem as almas
deixam a calma
para os que dela melhor
podem se utilizar
nada maior
nada pra pensar
um único motivo
um único menino
um sol em dia nublado
um frio desagrado
se não está
vem pra cá
então que eu espero
esmero meus gestos
de braços abertos
de mente fechada
perdendo-me em toda estrada
eu tento encontrar
eu não pude entender
mas posso prever
há no seu olhar
uma parte do meu lar
aquele que deixei
aquele que me deixou
aquele pelo qual esperei
e que também me esperou
e eu fugia de mim
para encontrar você
não havia tristeza ali
ninguém conhecia o porquê
o planeta anão
os meus pés quase no chão
um sonho de analisar
um sonho de silenciar
um segredo de almofadas coloridas
de páginas folhedas
de vidas retorcidas
um caos de profissão
um sonho, indecisão
que não existe mais
tudo ficou em algum cais
bem pra lá da solidão
numa estrada na contramão
em qualquer respirar profundo
em qualquer canto do meu mundo
um calor
um amor
um sabor diferente
acordar contente
desarmar as tristezas
recobrar gentilezas
desenvolver ternuras
entender que as loucuras
são parte do que nos faz melhor
e que pior
seria
se a sua alegria
não me contemplasse por fim
te quero assim
com gotas salgadas
de lágrimas borbulhantes
com linhas cruzadas
e palavras sussurrradas
em contagem regressiva
em cores de cortina
discursando a diva
a deusa, a musa, um pouco da menina.. 
Do outro lado
o vento sopra acelerado
e angustiado ele se revolta
do outro lado a fumaça cinzenta
e a vida opulenta
e a baixa umidade do ar
e a pouca vontade de calar...
Silencio aqui...
porque do outro lado
escondo um outro lado de mim
te quero assim...
em cores de arco-íris
em poemas diários...
em gotas de anoitecer
e alma de amanhecer...
te quero meu
como quem quer o ar
te quero como presente
te quero pra libertar
o sentimento que se escondeu
e só aparece quando você está... 
mesmo que seja do outro lado...

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