terça-feira, 23 de agosto de 2011

Partes de Mim XXVI


Envolver...

Passa da meia-noite e eu aqui a me perguntar o que realmente faz sentido. Quando eu sentei na esquina da cidade provinciana, qualquer que ela seja, tudo parecia ter pressa e eu apenas desejava observar.... E o passo descompassado das pessoas na calçadas surradas pelo descuido administrativo e o seu rosto transfigurado deixaram em mim uma sensação... Não sei descrever agora a sensação, porque não posso mais lembrá-la, embora ela não tenha mais de uma dezena de horas de distância do momento em que escrevo... Em todo o tempo durante a ida e vinda que marcam a estrada do meu trabalho, eu só tinha em mente pessoas distantes em espaço... Durante o dia, eu pensava na cirurgia materna e no mago distante, pensava em poesias e em seus leitores, pensava em amores, em como gotas de chuva lhes seriam propícias, pensava no frio fora de mim e no meu coração aquecido... Fosse no céu azul, fosse no céu da boca... Ah a busca da estrela é mais real do que já foi... Tenho datas e como por mágica elas agora me apaixonam em calendários e e-mails e trocas de afeto... Aquecer, com o frio lascinante, aquecer... Aquecer com você, doce criatura... Não posso mais fechar os olhos sem lembrar aqueles olhares, nem estar em um mundo distante em que não te procuro... Não tenho forças pra negar o largo sorriso que te deixo ver... Eu cresci mais por mim do que por você, mas só cresci tanto por querer-te por perto... Ah... Que leve brisa de serenidade esta que sopra em nossos corações e que leves canções nos fazem sorridentes, nos deixam olhares brilhantes, nos florescem em caos... Amanhã ou hoje, o dia da mitológica criatura-deus que as aulas não me deixaram esconder em verbetes disfarçados... Eu não prendo o olhar que te procura do outro lado da tela inanimada... Quando falas, meu mundo reduz-se ao som que seus lábios, admirados lábios, produzem... Mesmo que eles nunca saibam o quanto é raro o momento das palavras e o momento em que os pares de almofadas da boca desejada põem-se em movimento... Revirando gavetas e narrando um pouco do nada em que às vezes me envolvo, eu te encontro... Parte de um por vir que me faz menina, mesmo quando mulher há muito já sou... Uma parte de mim que faz crer no inacreditável, é você...Precisar aquecer-me ao cobertor é imaginar que estais nele e que em algum lugar o meu abraço também pode te aquecer... Não preciso compreender o motivo pelo qual preciso da palavra amor... Porque não é bem da palavra que preciso... Venha e tenha mãos fortes, apaixone-se pela chuva como eu, dê-me teu colo de aconghegar, faça-me chá de menta, partilhe comigo um bom vinho e na embriaguez conte de suas histórias... Ou apenas me olhe e eu saberei do que sentes enquanto isso... Eu cheguei em casa era quase meia-noite... Os fones de ouvido serviam de trilha sonora, mas o clip que eu via quem produzia era a minha mente... Já fui feita das folhas ao vento e das gotas de chuva que tomam o espaço, evaporam e se vão, mas agora sou feito de um pouco de mim e de um muito de você. Sempre que a natureza sombria dos passos incertos me disser que já é tarde, das mãos fortes que são suas, farei a minha mão... Haverá muita dor numa possível despedida, mas sei que despedidas serão poucas e que um dia delas tudo se tornará definitivo enquanto dure, sem despedidas... Haverá uma cama em que se aconchegar e motivos para dormir em paz... Músicas leves, corpos quentes, poesias diárias, amores impossíveis,haverá quimera, porque nada somos sem uma... Um instante de silêncio para poder ouvir a sua voz que me aconchega dizer mesmo que em minha imaginação o que sente... O que sinto, o que nem negando a mim mesmo minto mais... Não há nada que faça com que o mundo que guardo no interior do meu interior não te permita entrar em mim e naquilo que sou com você... E envolvo o meu corpo em mim mesma enquanto não há você para fazê-lo, mas os passos se aproximam da porta e o alvoroço do pisar acelerado dá conta de que ele está pra chegar... De que negra cor se vestirá? Com que olhos de calmaria irá me olhar? Em que calor de aquecer me aquecerá? Em que mãos de guiar seguro me acarinhará e de que forma eu poderei viver quando ele precisar voltar? Envolvo-me então ao cobertor macio para pensar naquilo que não abandono nem mesmo em sonhos... "Eu quero você"...

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