sexta-feira, 26 de agosto de 2011

De Pó e de Poesia XXX


O amor era mesmo simples...

 Do fim para o começo
eu recordo e esqueço
e te viro pelo avesso
eu te procuro, eu me encontro
eu te escrevo em qualquer ponto
nas pétalas da rosa
no perfume e na prosa
e na aspereza que ela guarda
na maciez em que aguarda
qualquer declaração
em sangue e solidão
vestido de vermelho
com lágrimas em frente ao espelho
do quarto de dormir
está por vir
um mar de sombras
um mar de ondas
nas paredes brancas
à luz de velas
cortinas abertas e suas janelas
e minhas também
bate a porta
abre-se a alguém
em frase torta
em um mundo que além do mundo atrai
em um sonho que mais que sonho distrai
palavras são palavras
sorrisos dizem mais?
mas se só tenho palavras
o vento de que falavas
sopra a este favor
deixe-me derramar amor
em todos as línguas
verbetes, olhares
de formas nem sempre claras
por todos os lugares
deixando pegadas
mesmo quando não há estradas
um invasor bem recebido
eu dou as chaves e os sentidos
a quem souber me ler
e puder entender
invasor? sei que não és
há em ti ao revés do invasor
uma gota de permissão 
um universo de amor
um escorrer de palavras
um emanar de calor
idiomas em que falavas?
qualquer um basta se disser do sentir
qualquer um basta quando vem de ti
quando fala de nós
quando planeja a sós
um universo infinito
que ultrapassa a tinta vermelha
que enobrece o espaço negro
que inclina a cabeça
e pensa
transbordar em lágrimas ou em paixão?
cadê o que era ilusão?
se somos iguais
o tempo dirá
perdidos em meio aos normais
ainda deveremos estar
ou encontrados por nós
ou perdidos em nós mesmos
afogados 
mergulhados
envolvidos
comprimidos lábios
e sábios olhares
quantas palavras já não bastam
quantas bocas já não beijam
quantas almas já não entendem
pouco do muito... Surpreende
estarrece, devora
demora o dia, a semana
já não há mês
do calor que emana
o corpo em que não há talvez...
só vinhos e violões
canções de viagem
imaginação e paisagem
nada convencional
perante uma lembrança que não se vai
diante de um sono que não vem
não há porém
a chuva não cai
o frio não se vai
as mãos frias chamam
os dedos gélidos clamam
mãos quentes e coração aquecido
lábio comprimido...
alguém te chama
alguém te leva todas as noites
a minha alma reclama
arde em arredios açoites
te quer de volta
não por uma hora e nem por um dia
mas por um infinito
que a fantasia
em coração aflito
transforme no mais bonito
sonho pra ser a dois
reencontro pra me fazer maior
e tudo o que vier depois
que grita teu nome ao meu redor
não saiba do que sabemos
não saiba porque vivemos
porque olhamos para o mesmo lado
porque falamos de magos e musas
e lançamos palavras confusas
porque falamos de amor, dor, flor e disco voador
sem ser por rima
sem ser por cisma ou convenção
guarda a tua intenção
no cofre do amor perfeito
te tenho eleito
o guardião... anjos e chaves
não haja entraves ao seu invadir
e não haverá muros ao meu sorrir...
labirintos, flores, frestas
mantenho portas abertas
para quem tiver o segredo
e os sentidos em alerta
pra quem expulsa os medos
guarda-me do dia
inspira-me poesia
anjo tentador
em tudo o que me ensina
sempre que me faz menina
sorrindo ao teu olhar
relembro tudo que disse
O amor era mesmo simples...
ICH LIEBE DICH
foi assim que o disseste
mas mesmo que não fizeste
ele ainda estaria ali
um sentimento a me repetir
e a se repetir em mim
libertando-me de outro cais
dizer que não há em mim...
no mundo ou universo em si
um sentimento voraz
que supere todo o calor
que emana da sensação
de olhar teus olhos humanos
em calmaria e em flor
e dizer que em tudo o que faço
eu te dedico mais amor
e que já não é feito de aço
o peito que floresce em cor
mas feito do teu pedaço
do sonho e do que mais for
presente na calmaria
dos olhos do fim do dia
da noite em que a fantasia
tem tempestade e tem cor
e do instante em que a sede maior
é poder embalar teu sono
poder desejar teu colo
do teu sentir ser o dono
sem papel qualquer protocolo
um sonho paz ou vertigem
embala a alma virgem
se rosa: pétala e flor
e poema alongado
do sentimento aumentado
da vontade de te chamar de "amor"...
O amor era mesmo simples
antes de ser complicado
ICH LIEBE DICH
ele disse
mas se escondia em outro estado
entre a rua das causas perdidas
e a avenida do amor encontrado
ICH LIEBE DICH
O amor tinha me abraçado
e me tomou pela mão
acelerou a ilusão
e o coração descompassado
percebeu na estrada da contramão
O amor era mesmo simples
antes de ser complicado...

2 comentários:

  1. Não tão simples, nem tão complicado. Inexplicável, mas absolutamente entendido para quem o sente; Fantasmagórico e presente; maldição e dádiva. Se perde pelas palavras mas se encontra no coração.

    Parabéns, belo poema.

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  2. Parabéns pelo sentido que te perde nele... antes de encontrá-lo em você... Sempre grata pelas visitas, leituras, comentários...

    Obrigada por acompanhar esta estrada feita de poemas e de pegadas lançadas em palavras...

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